Kenmare suspende operações em Moma após acidente mortal
Lusa
3 de junho de 2024
A Kenmare, uma das maiores produtoras mundiais de titânio e zircão, anunciou hoje a suspensão parcial das operações na mina de Moma, norte de Moçambique, após um acidente que provocou a morte de um trabalhador.
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"A Kenmare suspendeu todas as operações de mineração e processamento em Moma após o incidente, como medida de segurança e para que os funcionários fossem informados. Uma investigação pela administração da mina e pela polícia foi iniciada", refere a mineradora numa declaração oficial.
O incidente, acrescenta, aconteceu no sábado (01.06) e as primeiras investigações concluíram que a vítima mortal era um operador de escavadora de um empreiteiro subcontratado que operava numa nova área de mineração da mina de Moma.
"A Kenmare notificou o ministério das minas de Moçambique, ministério dos Recursos Minerais e Energia, e mantém contacto estreito com funcionários do ministério. A mina retomou agora a operação plena, exceto as operações de mineração a seco (...) que permanecem suspensas para permitir a continuação de investigações", acrescenta a declaração.
"Estamos a realizar mais investigações para perceber como aconteceu esta tragédia e como prevenir que se repetiam incidentes destes no futuro. A segurança dos nossos trabalhadores e subcontratados é a nossa maior prioridade e reforçamos a nossas equipas (...) durante o fim de semana para uma paragem em segurança", descreveu o diretor da Kenmare, Michael Carvill, citado na mesma declaração.
As riquezas minerais de Nampula
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo.
Foto: DW/Petra Aschoff
Cadeia de riquezas minerais
Em Moma, a província moçambicana de Nampula tem algumas das maiores reservas de areias pesadas do mundo, das quais se podem extrair minerais como a ilmenite, o zircão e o rutilo. As areias pesadas da região são parte de uma cadeia de dunas que se estendem desde o Quénia até Richards Bay, na África do Sul. Em Moma, exploram-se os bancos de areia de Namalote e as dunas de Topuito.
Foto: Petra Aschoff
Areias para diferentes indústrias
Unidade de lavagem de areias pesadas da mineradora irlandesa Kenmare, um dos chamados "megaprojetos" estrangeiros em Moçambique. A ilmenite, o zircão e o rutilo, extraídos das areias, são usados, respetivamente, na indústria de pigmentos, cerâmica e na produção de titânio. O rutilo, um óxido de titânio, é fundamental para a produção do titânio usado para a construção de aviões.
Foto: Petra Aschoff
Lucro após prejuízo
Os produtos são transportados através de um tapete rolante até um pontão no Oceano Índico. Segundo media moçambicanos, a extração de areias pesadas na mina de Topuito, em Moma, resultou num lucro de 39 milhões de dólares no primeiro semestre de 2012. No mesmo período de 2011, a empresa registou prejuízo de 14 milhões por causa da baixa dos preços devido à crise económica mundial.
Foto: Petra Aschoff
Problemas trabalhistas?
O semanário moçambicano Savana repercutiu, em outubro de 2011, a decisão do ministério do Trabalho de suspender 51 trabalhadores estrangeiros em situação ilegal na Kenmare. Segundo o Savana, na mesma altura, a Inspeção Geral do Trabalho descobriu que 120 trabalhadores indianos estavam para ser recrutados pela Kenmare. O recrutamento foi cancelado.
Foto: Petra Aschoff
Mudança de aldeia
Para poder explorar as areias pesadas em Nampula, entre 2007 e 2010 a mineradora irlandesa Kenmare transferiu as moradias de centenas de pessoas na localidade de Moma, no norte do país. A empresa prometeu acesso à água, casas melhores e postos de saúde. Na foto, nova escola primária para a população local.
Foto: Petra Aschoff
Acesso à água
Em 2011, o novo bairro de Mutittikoma, em Moma, ainda não tinha um poço d'água. Esta é transportada até o vilarejo com um camião cisterna. O acesso à água também é garantido com uma tubulação que a Kenmare instalou ali. Porém, como a mangueira só deixa correr um fio d'água, as mulheres que vêm buscá-la esperam no sol durante horas a fio para encher baldes e recipientes.
Foto: Petra Aschoff
Responsabilidade social
Uma casa construída pela Kenmare para a população desalojada por causa da exploração das areias pesadas em Moma. No início de setembro, Luísa Diogo, antiga primeira-ministra de Moçambique, disse que o país deve estar "muito atento" para que os grandes projetos de recursos naturais – como carvão e gás – beneficiem as populações. Ela também defende renegociação de contratos multinacionais.
Foto: Petra Aschoff
Em busca do brilho
Para além das areias pesadas, o solo da parte sul da província moçambicana de Nampula oferece mais riquezas. Na foto: garimpeiros à procura da pedra preciosa turmalina em Mogovolas. Os garimpeiros recebem cerca de um euro por dia para cavar buracos com vários metros de profundidade. As pedras são vendidas a um comerciante intermediário.
Foto: Petra Aschoff
Verde raro
As pedras de turmalina costumam ter várias cores. Uma das mais conhecidas é a verde. Mas existe outro verde precioso que se torna cada vez mais raro em Mogovolas: o da vegetação. Os buracos cavados pelos garimpeiros podem não ter pedras, mas permanecem após a escavação e sofrem erosão. As plantas não são plantadas novamente, apesar de a recomposição da vegetação ser prevista pela lei.
Foto: DW/Petra Aschoff
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A Kenmare é uma das maiores produtoras mundiais de areias minerais, cotada nas bolsas de Londres e Dublin, sendo que a produção em Moçambique representa aproximadamente 7% das matérias-primas globais de titânio.
A empresa fornece clientes que operam em mais de 15 países e que usam os minerais pesados em tintas, plásticos e cerâmica.
A Kenmare anunciou no mês passado que pagou 30,5 milhões de dólares (28,2 milhões de euros) em 2023 ao Estado moçambicano, em taxas e impostos, decorrente da operação em Moma, na costa da província de Nampula.
Segundo informação ao mercado divulgada anteriormente pela Lusa, a Kenmare, de origem irlandesa e que opera em Moçambique através de subsidiárias das Maurícias, pagou ao Estado por aquela operação 19.798.000 dólares (18,3 milhões de euros) em taxas, 10.259.000 dólares (9,5 milhões de euros) em 'royalties' e 504.00 dólares (467 mil euros) em 'fees' (licenças e concessões), relativas ao ano fiscal de 2023.
Segundo a empresa, a mina de Moma contém reservas de minerais pesados que incluem titânio, ilmenite e rútilo, que são utilizados como matérias-primas para produzir pigmento de dióxido de titânio, assim como o mineral de silicato de zircónio de valor relativamente elevado, o zircão.
A mineradora anunciou em abril de 2023 que prevê explorar um novo filão dentro de dois anos, dentro da sua concessão de Moma, sinalizando a longevidade e rentabilidade da mina.