1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Kiev atacada em dia de visita de líderes africanos

nn | com agências
16 de junho de 2023

Kiev foi bombardeada num momento em que líderes africanos visitam a cidade na tentativa de mediar quase 16 meses de invasão. Presidente Zelensky admite "resistência muito dura" da Rússia na contra-ofensiva.

Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance

As forças ucranianas abateram esta sexta-feira (16.06) 12 mísseis russos, incluindo seis mísseis hipersónicos Kinjal, durante um ataque russo a Kiev no dia da visita de uma delegação de dirigentes africanos.

Segundo uma mensagem partilhada pela força aérea da Ucrânia no Telegram, além dos mísseis hipersónicos, foram abatidos seis mísseis de cruzeiro Kalibr e dois 'drones' (aeronaves não tripuladas) de reconhecimento, cita a agência France-Presse (AFP).

Para o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, o ataque desta sexta-feira é uma tentativa de Moscovo enviar uma mensagem aos mediadores africanos de que não querem paz na região. "Os mísseis russos são uma mensagem para África: a Rússia quer mais guerra, não quer paz", escreveu Kuleba na rede social Twitter.

Kuleba descreveu ainda a ofensiva desta sexta-feira como "o maior ataque com mísseis a Kiev em semanas".

Entretanto, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, frisou numa entrevista à emissora norte-americana NBC News, divulgada esta sexta-feira, que o sucesso na contra-ofensiva da Ucrânia significará a derrota da Rússia na guerra.

Questionado sobre o progresso da contra-ofensiva, Zelensky disse: "As coisas não parecem más. Diria que é globalmente positivo, mas é difícil... As nossas tropas que estão agora na linha de frente estão a enfrentar uma resistência muito dura", admitiu.

Contra-ofensiva ucraniana tem sido marcada por vários ataques russos em diferentes regiões da UcrâniaFoto: AFP

Alerta de ataque em Kiev mantém-se

No final da manhã desta sexta-feira, o presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, deu conta, também através do Telegram, de uma explosão num dos bairros da capital. "Os mísseis continuam a voar, visando Kiev", disse Klitschko, enquanto a defesa antiaérea estava em ação, de acordo com as autoridades.

Jornalistas da AFP em Kiev ouviram explosões, mas não foi possível saber imediatamente se houve danos ou vítimas. Ao meio-dia, toda a Ucrânia continuava em alerta antiaéreo.

"Ameaças de armas balísticas no centro, leste e oeste, permaneçam nos vossos abrigos", declarou aos cidadãos a Força Aérea ucraniana no Telegram.

Líderes africanos chegam a Kiev

Vários líderes políticos africanos liderados pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, chegaram esta manhã, de comboio, a Kiev, vindos da Polónia para uma reunião de alto nível na capital ucraniana com o Presidente do país.

Líderes africanos deslocaram-se de comboio de Varsóvia, na Polónia, para Kiev, na UcrâniaFoto: via REUTERS

Após conversas com Zelensky, os líderes devem viajar para Moscovo, na Rússia, no fim de semana, para uma reunião com o chefe de Estado russo, Vladimir Putin.

Ambos os líderes indicaram que estão dispostos a encontrar-se com a delegação africana, que tem o objetivo de mediar um cessar-fogo seguido do estabelecimento de uma paz duradoura.

A delegação africana esteve de manhã em Bucha, onde ocorreu um massacre de civis em março de 2022, atribuído ao Exército russo.

"Os chefes de Estado e de Governo visitam a vala comum atrás da Igreja Ortodoxa de Santo André, onde foram enterrados 458 civis que perderam a vida durante a fase inicial do conflito", escreveu a Presidência sul-africana no Twitter.

Ramaphosa com cuidado nas palavras

Ao contrário de todos os outros líderes internacionais que visitaram o local, Cyril Ramaphosa evitou mencionar a responsabilidade das forças de ocupação russas na morte das vítimas, notou a agência espanhola EFE.

De Bucha, a delegação de dirigentes da África do Sul, Senegal, Egito, Uganda, Zâmbia, República do Congo e Comores viajou para Kiev, onde visitou outro memorial de guerra com um representante do Ministério da Defesa ucraniano.

Delegação de líderes africanos, liderada pelo Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante a manhã desta sexta-feira (16.06), em Bucha, UcrâniaFoto: Valentyn Ogirenko/REUTERS

A missão de paz africana é uma iniciativa de Ramaphosa e visa aproximar russos e ucranianos de uma solução negociada para a guerra. O chefe de Estado da África do Sul disse antes de chegar à Ucrânia que a "missão oferece uma perspetiva africana e pede um processo de paz que ponha fim às hostilidades".

Em declarações aos jornalistas à margem da deslocação da delegação africana, o Presidente da Zâmbia, Hakainde Hichilema, afirmou que "a vida é universal e devemos proteger vidas. Vidas ucranianas, vidas russas, vidas globais", ressalvou. "Instabilidade em qualquer lugar é instabilidade em todos os lugares", acrescentou.

Entretanto, o chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, enalteceu a missão de paz dos líderes africanos, mas alertou que apenas uma solução "justa" que trate a Rússia como o agressor funcionaria.

"Saúdo o facto de os líderes africanos terem visitado Kiev e acho importante saber que existem diferentes esforços para encontrar uma solução", disse Stoltenberg. "Mas é claro que qualquer solução deve ser uma paz justa e duradoura", reforçou. "Temos um agressor que é o Presidente [Vladimir] Putin, Moscovo e as forças russas e então temos uma vítima de agressão, que é a Ucrânia", sublinhou.

A Ucrânia é um dos celeiros da Europa, produzindo cereais que abastecem vários pontos do globo, especialmente em ÁfricaFoto: Alexey Furman/Getty Images

Os Estados africanos têm um interesse direto no fim do conflito, pois muitos são grandes importadores de cereais e fertilizantes russos e ucranianos.

A guerra levou a bloqueios e ao aumento generalizado dos preços dos bens alimentares e de outras mercadorias.

Há temores de que os preços dos cereais possam subir ainda mais como resultado de um bloqueio às exportações.

A África do Sul tem enfrentado críticas do Ocidente por uma alegada aproximação à posição russa no que tange à invasão da Ucrânia, algo que nega veementemente, e foi acusada de fornecer armas a Moscovo.

Os custos globais da guerra na Ucrânia

05:04

This browser does not support the video element.