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Kiev e Moscovo dão sinais de esperança num acordo

Lusa
16 de março de 2022

Apesar de admitirem dificuldades nas negociações, há sinais de esperança das autoridades russas e ucranianas num compromisso que permita pôr fim à guerra iniciada pela Rússia. Conversações serão retomadas esta tarde.

Foto: SOPA Images/ZUMAPRESS/picture alliance

Horas depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter admitido que as exigências da Rússia estão a tornar-se "mais realistas", o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, admitiu que há "alguma esperança" num compromisso.

"Concentro-me nos relatórios que os nossos negociadores nos estão a dar. Dizem que as negociações não são fáceis, por razões óbvias, mas há alguma esperança de um compromisso", disse Serguei Lavrov numa entrevista à televisão russa RBK, citada pela agência espanhola Europa Press.

Representantes ucranianos e russos deverão retomar esta quarta-feira (16.03) a sessão negocial que iniciaram na segunda-feira, por videoconferência, para tentar terminar a guerra desencadeada pela invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Na entrevista à televisão russa, Serguei Lavrov revelou que a neutralidade da Ucrânia está no centro das negociações. "É isto que está a ser discutido nas negociações, existem fórmulas muito concretas que penso que estão próximas de um acordo", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.

Serguei LavrovFoto: REUTERS

Posições "mais realistas"

O estatuto de neutralidade da Ucrânia implica que o país renuncia à adesão à NATO, algo que Zelensky já admitiu. "Ouvimos durante anos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos dizer que não podíamos aderir. Esta é a verdade e temos de a reconhecer. Estou contente por o nosso povo começar a compreender isto e a confiar nas suas próprias forças", afirmou Zelensky na terça-feira.

A possível adesão da Ucrânia à NATO é uma das razões apresentadas pela Rússia para justificar a invasão do país vizinho, já que Moscovo considera a Aliança Atlântica como uma ameaça à sua segurança.

Sobre a possibilidade de um acordo, Lavrov aludiu em particular a "algumas declarações interessantes" de Zelensky sobre posições "mais realistas" dos dois lados. "Antes disso ele tinha feito uma série de declarações bastante conflituosas", disse.

O ministro russo considerou ainda que a posição da NATO também mudou as perspetivas e o discurso do Presidente ucraniano. "Até há algumas semanas, Zelensky falava de uma zona de interdição de voo, lutando pela Ucrânia, recrutando mercenários e enviando-os para a frente. A reação da Aliança Atlântica, na qual ainda há pessoas sãs, arrefeceu este ardor", afirmou.

A Rússia pretende um estatuto de neutralidade para a Ucrânia semelhante ao austríaco ou sueco, mas as autoridades de Kiev responderam que o modelo "só pode ser 'ucraniano'" e exigiram garantias de segurança em caso de agressão.

Conversações entre representantes russos e ucranianos na Bielorrússia, a 3 de março.Foto: picture alliance / ASSOCIATED PRESS

Kiev quer garantias de segurança

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse esta quarta-feira que "o modelo austríaco ou sueco de um Estado desmilitarizado está a ser discutido para a Ucrânia e pode ser visto como uma opção para um compromisso", segundo as agências noticiosas russas. A Áustria e a Suécia são dois dos países europeus que têm os seus próprios exércitos, mas não são membros da NATO.

Face às declarações do lado russo, o chefe da delegação ucraniana, o conselheiro presidencial Mykhailo Podoliak, rejeitou um estatuto de neutralidade para a Ucrânia com base nestes modelos. "A Ucrânia encontra-se agora num estado de guerra direta com a Rússia. Portanto, o modelo só pode ser 'ucraniano'", disse Podoliak em comentários divulgados hoje pela Presidência ucraniana e citados pela agência francesa AFP.

Podoliak disse também que a Ucrânia quer "garantias de segurança legalmente certificadas" contra a Rússia da parte de outros países, que não especificou. Essas garantias devem constar de "um novo acordo", cujos Estados signatários se comprometerão a intervir do lado da Ucrânia em caso de agressão.

A guerra na Ucrânia, que entrou hoje no 20º dia, provocou quase 700 mortos entre a população civil, segundo números confirmados pela ONU, incluindo mais de uma centena de crianças. A invasão russa também levou mais de três milhões de pessoas a fugir da Ucrânia, na pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

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