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"Kinguilas" em Angola temem ficar sem trabalho

Pedro Borralho Ndomba (Luanda)27 de janeiro de 2015

A falta de dólares norte-americanos nos bancos angolanos está a impedir os clientes de efetuarem levantamentos imediatos ao balcão. Por seu lado, os cambistas informais veem os seus negócios em risco.

Cambista informal numa das ruas de LuandaFoto: DW/P.B. Ndomba

É com assobios e frases como “amigo, amigo, fala bem” que as famosas “kinguilas”, ou cambistas ambulantes, conquistam os seus clientes. Mas elas têm cada vez menos dólares para cambiar.

Esse é um problema que se agravou no ano passado. Há uma falta generalizada da divisa norte-americana nos mercados formal e informal.

Os cambistas informais veem os seus negócios em risco, quando a procura da moeda americana aumenta proporcionalmente no mercado paralelo em Luanda.

"Dólares só para quem vai viajar"

Nos balcões dos bancos tem sido praticamente impossível levantar dólares. Foi o que aconteceu a Manuela. “Já fui à casa de câmbio e não consegui. É necessário ter bilhete de passagem, porque só vendem para quem vai viajar”, disse.

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Nos mercados paralelos de Luanda, aumentou a procura da moeda americana. Mas as “kinguilas” dizem que também não têm meios para dar resposta às necessidades dos clientes.

Filomena João, “kinguila” há mais de dez anos, garante que ela e as suas colegas estão a passar por momentos difíceis nas suas famílias devido à falta do dólar.

“O nosso negócio é assim, nós precisamos de tudo, do dólar e também do kwanza. Como é habitual, compramos o dólar e depois procuramos também o kwanza”, explicou à DW África Filomena João.

Apesar das dificuldades, ainda conseguem obter a moeda norte-americana. Mas recusam-se a revelar as fontes. “Alguns clientes vêm aqui para comprar 200 ou mesmo 300 dólares americanos. Mas este dinheiro para aparecer está mesmo muito difícil. Porque a compra do dólar não está fácil."

"Kinguilas" temem ficar sem ocupação

Anteriormente, este negócio punha pão na mesa de muitos angolanos. Mas agora, as “quinguilas” temem ficar sem trabalho. A maioria não tem nem formação profissional, nem um nível académico que os permita concorrer a uma vaga em algumas empresas. Esta situação, segundo os cambistas ambulantes, põe em risco a continuidade dos seus filhos nas escolas.

"Kinguilas" numa das artérias da capital angolanaFoto: DW/P.B. Ndomba

Nas imediações da Urbanização Nova Vida, no município de Belas, encontramos um grupo de “doleiros”, como também são chamados, que por meio dos assobios e gestos nos dedos, chamavam a clientela.

José Pedro, de 40 anos de idade, “quinguila” há sete anos, também lamenta a falta de dólares. Ele diz que a moeda americana está a ser comercializada por 15 mil kwanzas nas casas de câmbio, mas nas ruas está por 13 mil.

“Neste momento, apenas o kwanza está a aparecer. A casa de câmbio está a vender o dólar americano por 15 mil kwanzas, mas não podemos seguir o sistema das casas de câmbio”, afirmou.

Entretanto, em Angola, aumenta o valor do dólar em relação à moeda nacional, o Kwanza. Isto numa altura em que há uma baixa do preço petróleo a nível mundial, num país que produz poucos bens de consumo, e onde muitos estrangeiros estão a trabalhar, além de um número considerável de angolanos a efectuar viagens internacionais.

BNA duplica venda de dólares

Porque a taxa de câmbio não pára de subir, na última semana, o Banco Nacional de Angola (BNA) injetou na banca comercial cerca de 300 milhões de dólares em divisas, o dobro face ao período anterior, segundo a agência de notícias Lusa.

A DW África contactou alguns bancos comerciais na capital angolana, mas os seus gerentes afirmaram não terem autorização para falar sobre o assunto à imprensa.


Avenida marginal de LuandaFoto: DW/C.V. Teixeira
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