Ngwale assumia-se como um médium espiritual e encorajou, no início do século XX, os povos do Tanganica a fazerem frente aos colonialistas alemães. É considerado um símbolo da resistência na Tanzânia.
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Nascimento: Ngarambe, Matumbi no Tanganica, atual Tanzânia. Foi enforcado em agosto de 1905 por oficiais alemães.
Famoso por:
- Ter sido possuído por um espírito chamado Hongo. De acordo com a lenda, Hongo apareceu sob a forma de uma cobra e arrastou Kinjeketile debaixo de água. Quando ele emergiu, 24 horas horas depois, estava seco e começou a profetizar.
- Ter unido grupos étnicos na região e, à medida que a sua palavra se foi espalhando, ter despertado os primeiros sinais do nacionalismo no Tanganica.
- Ter prometido aos seus seguidores que as balas dos alemães não os atingiriam se eles usassem as águas medicinais Maji.
- Ser o iniciador da rebelião Maji Maji, apesar de ter morrido pouco depois do início da guerra. A Revolta de Maji Maji ocorreu de 1905 a 1907 e foi uma das maiores guerras contra o colonialismo em África.
Críticas: Conduziu muitas pessoas até à morte ao dizer que Maji os protegeria das balas. Estima-se que 300.000 pessoas terão morrido durante a Rebelião Maji Maji em resultado dos combates, mas também por causa da fome, reduzindo a população local em um terço.
Inspiração: Em 1969, o dramaturgo tanzaniano Ebrahim Hussein publicou a peça "Kinjeketile", baseada nesta figura histórica e na Rebelião Maji Maji.
Reza a história que há muito tempo atrás, um homem desapareceu num lago e esteve dentro de água durante 24 horas. Segundo a lenda, quando emergiu, as suas roupas estavam secas. Nas suas mãos carregava água que, segundo ele, era mágica e transformava balas em líquido. Esta é a história de Kinjeketile Ngwale.
No final do século XIX, os colonizadores alemães invadiram o território que é hoje a Tanzânia. A população local foi forçada a trabalhar nas plantações de algodão dos ocupantes. Além disso, os colonizadores também introduziram novos impostos, causando grande sofrimento entre a população.
No entanto, em 1904,a esperança surgiu com a chegada de um profeta que encorajou os povos nativos a lutar contra os colonizadores alemães, prometendo-lhes proteção através da sua água medicinal.
Como explica Betram Mapunda, professor do Departamento de Arqueologia e Património Cultural da Universidade de Dar Es Salaam, "Kinjeketile Ngwale foi um médico tradicional fundamental na Rebelião Maji Maji, que decorreu de 1905 a 1907".
Kinjeketile assumia-se como um médium espiritual do deus do povo Matumbi e disse ter recebido instruções para vencer os estrangeiros. A divindade deu-lhe "Maji", uma porção de milhete e água que transformaria as balas dos alemães num líquido inofensivo. Através do passa-palavra, numa campanha que ficou conhecida como "Nywinywila", a mensagem foi-se espalhando e Kinjeketile conseguiu unir diferentes grupos étnicos, vindos de toda a parte, para a resistência aos colonizadores – e que ficou conhecida como Rebelião Maji Maji.
Kinjeketile Ngwale: Líder espiritual da Rebelião Maji Maji
O poder de Maji
Os seguidores de Kinjeketile envolveram-se numa luta sem tréguas contra os alemães, instigada pela crença de que Maji os protegeria. Em agosto de 1905, logo após o início da revolta, Kinjeketile foi enforcado pelos alemães. Os habitantes locais depressa descobriram que Maji não os protegeria, mas não desistiram. Mudaram a sua tática e a luta continuou até 1907.
Estima-se que tenham morrido 300 mil pessoas em resultado da guerra e consequente fome. No entanto, e como resultado da rebelião, os alemães introduziram uma administração mais liberal no país.
As opiniões acerca de Kinjeketile na Tanzânia são díspares. Para o professor Mapunda, foi um herói. "Há aqueles que pensam que ele mentiu às pessoas. Mas temos que entender que quando se dá a alguém habilidades psicológicas, se constrói a sua fé, as pessoas lutam com firmeza. Na minha opinião, Kinjeketile foi um herói!", afirma.
Julius Nyerere, o primeiro Presidente do Tanganica independente e da Tanzânia, considerou a rebelião Maji Maji o início da luta pela união e liberdade no seu país. Já o escritor tanzaniano Ebrahim Hussein publicou, em 1969, a obra "Kinjeketile", que se baseia não só na figura de "Kinjeketile", como na rebelião Maji Maji. Este tema é ainda hoje estudado nas escolas da Tanzânia.
O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.
Uma relação especial: a Alemanha Oriental e África
A República Democrática Alemã manteve relações estreitas com os países africanos de orientação socialista. Entre eles estavam Angola, Etiópia, Moçambique e Tanzânia. A cooperação terminou com a reunificação em 1990.
Foto: Ismael Miquidade
Formação de profissionais africanos
A República Democrática Alemã (RDA), extinta após a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990, formou muitos trabalhadores vindos de países africanos socialistas. Estes angolanos participam num curso em Dresden, em 1983, no Instituto para Segurança no Trabalho. Angola estava em guerra nessa altura. O chamado "Bloco de Leste" apoiava o Governo marxista-leninista do MPLA.
Foto: Bundesarchiv/183-1983-0516-022 /U. Häßler
Ajuda ao desenvolvimento para aliados políticos
Depois do fim do colonianismo português em África, em 1975, a Alemanha Oriental (RDA) apoiou os partidos socialistas que foram conquistando o poder. A ideia era fazer desses novos Estados africanos aliados e parceiros económicos do Bloco de Leste. Aqui, o angolano Eduardo Trindade recebe formação de mecânico de máquinas agrícolas (1979).
Foto: Bundesarchiv/183-U0213-0014/P. Liebers
Formação para jornalistas africanos
Não havia só formação para profissões técnicas. A Alemanha Oriental também formava jornalistas africanos. Centenas de jornalistas, de quase todos os países de África, passaram pela Escola de Solidariedade da Associação de Jornalistas da RDA, em Berlim-Friedrichshagen. Na foto: jovens jornalistas de Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe durante o curso em dezembro de 1976.
Foto: Bundesarchiv/183-R1210-302
Cooperação no desporto
Esta foto foi tirada em setembro de 1989, em Leipzig, numa aula de atletismo da Escola Superior Alemã para Educação Física (DHfK), com treinadores de Angola, Nicarágua e Moçambique. Em Leipzig, a partir de 4 de setembro, os cidadãos começaram a exigir todas as segundas-feiras mais liberdade na RDA - primeiro eram centenas, depois dezenas de milhares. A 9 de novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim.
Foto: Bundesarchiv/183-1989-0929-019/ W. Kluge
Estudantes nas universidades da RDA
Moisés José da Costa, de Angola, fez parte de um grupo de estudantes de 34 países que frequentou a Escola Superior Técnica de Karl-Marx-Stadt em 1986. A cidade passou a chamar-se Chemnitz em 1990. Muitas ruas da Alemanha Oriental, com nomes de políticos marxistas, também foram renomeadas. Hoje, muitos estrangeiros que viveram na RDA têm dificuldade em encontrar endereços antigos.
Foto: Bundesarchiv/183-1986-1112-002/W. Thieme
"Escola da Amizade"
1983: O Presidente de Moçambique, Samora Machel (dir.), e Margot Honecker, ministra da Educação da RDA (esq.), encontram-se com a direção da "Escola de Amizade", na localidade de Staßfurt. Em 1979, ambos os países decidiram que 899 crianças moçambicanas frequentariam essa escola na Alemanha Oriental durante quatro anos. Algumas dessas crianças tinham apenas 12 anos de idade.
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-1983-0303-423/H. Link
Escola "Dr. Agostinho Neto"
Em outubro de 1981, durante uma visita do Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, à Alemanha, a 26ª Escola de ensino médio da RDA "Berlim-Pankow" recebeu o nome do seu antecessor. Passou a chamar-se Escola "Dr. Agostinho Neto". Jovens da Alemanha Oriental receberam o Presidente angolano com cartazes propagandísticos, como: "Apoiando a União Soviética pela paz e socialismo."
O Presidente angolano José Eduardo dos Santos (o quinto, a partir da esq.) visitou o Muro de Berlim na Porta de Brandemburgo. O muro começou a ser construído em 1961 para impedir que a população da RDA fugisse para Berlim Ocidental, onde se tinha livre-trânsito para o Ocidente. Oficialmente, o muro era chamado de "Muralha Antifascista". Cerca de 200 pessoas morreram ao tentar fugir.
Foto: Bundesarchiv
Congresso do SED com convidados africanos
O Partido Socialista Unificado da Alemanha (SED) gostava de exibir os seus convidados estrangeiros. No 10° Congresso do partido, em 1981, recebeu Ambrósio Lukoki, do MPLA (atrás, à direita), e Berhanu Bayeh (atrás, o segundo à esq.), que mais tarde se tornou chefe da diplomacia da ditadura marxista-leninista etíope do Derg, período em que milhares de pessoas foram mortas.
Foto: Bundesarchiv/183-Z0041-138/M. Siebahn
Visitas a congressos partidários africanos
O contrário também era comum. Konrad Naumann (na segunda fila, à dir.), membro do SED, participou do 3° Congresso do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em Bissau, em novembro de 1977. O evento foi realizado sob o lema "Independência, Unidade e Desenvolvimento".
Foto: Bundesarchiv/Bild 183-S1118-026/Glaunsinger
Acampamentos de verão para crianças e adolescentes
Também durante o período de férias, a RDA tentava educar as crianças de acordo com os ideais comunistas. E convidavam-nas para acampamentos de verão. Aqui também vinham convidados estrangeiros. Na foto, dois membros da organização juvenil da Alemanha Oriental "Pioneiros" explicam a uma criança da República Popular do Congo uma matéria do jornal "Die Trommel".
Foto: Bundesarchiv/183-T0803-0302
Fim-de-semana em casa de família alemã
As crianças estrangeiras que, em 1982, participaram no acampamento dos "Pioneiros" também passaram um fim-de-semana com famílias alemãs para conhecer o dia-a-dia na Alemanha Oriental. Elas foram de comboio até à cidade de Schwedt, na fronteira com a Polónia. Sandra Maria Bernardo, de Angola, foi recebida pela sua "mãe-anfitriã" Ingeborg Scholz e a filha Petra.
Foto: Bundesarchiv/183-1982-0731-010 /K. Franke
Solidariedade militar
1973: Combatentes do MPLA marcham durante o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, que teve lugar no estádio da Juventude Mundial, no leste de Berlim. A RDA solidarizou-se com a luta do MPLA contra o poder colonial português. Os outros dois movimentos de libertação de Angola, a UNITA e a FNLA, foram apoiados pela África do Sul e EUA.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-M0814-0734/F. Gahlbeck
Hora do adeus
Depois de formados na RDA, namibianos despedem-se no aeroporto Berlim-Schönefeld. De 1981 a 1984, eles estiveram a receber formação na Alemanha Oriental. No entanto, não puderam regressar às suas casas porque a Namíbia só se tornou independente da África do Sul em 1990. Por isso, voaram para Angola, para trabalhar como técnicos de silvicultura, canalizadores ou mecânicos de automóveis.
Foto: Bundesarchiv/183-1984-0815-031/A. Kämper
A ajuda chega de avião
Na foto, uma aeronave da companhia aérea Interflug, pertencente à extinta RDA, no aeroporto de Luanda. A bordo: material escolar para crianças angolanas. Em 1978, além de Angola, o Comité de Solidariedade da Alemanha Oriental enviou donativos à Etiópia, Moçambique, Vietname, República Popular do Iémen e às organizações de libertação do Zimbabwe (ZANU), da Namíbia (SWAPO) e da África do Sul.
Foto: Bundesarchiv/183-T0517-0022/R. Mittelstädt
Tratores para aliados socialistas
Doação de máquinas agrícolas da fábrica de tratores Schönebeck (da RDA) para a Etiópia. Os tratores do tipo "ZT 300-C" eram comuns na Alemanha Oriental e foram exportados para 26 países. Incluindo Angola e Moçambique. (1979)
Foto: Bundesarchiv/183-U1110-0001/Schulz
Máquinas têxteis da RDA para a Etiópia
Fábrica têxtil na cidade de Kombolcha, na província etíope de Amhara (foto de novembro de 2005). Esta fábrica processa algodão para fazer lençóis e toalhas. Foi construída em 1984 com o apoio da RDA e da hoje extinta Checoslováquia. Quase todas as máquinas foram produzidas pelo consórcio TEXTIMA, na antiga cidade de Karl-Marx-Stadt, hoje Chemnitz.
Foto: picture-alliance/dpa
Construções pré-fabricadas da RDA em Zanzibar
Ainda hoje, é possível ver prédios, construídos a partir de elementos pré-fabricados, em Zanzibar, com os quais a Alemanha Oriental apoiou a Tanzânia socialista criada em 1964 sob o Presidente Julius Nyerere. Os materiais chegaram de navio e tiveram apenas de ser montados. "Michenzani" é o nome do projeto com mais de 1,5 km de comprimento.
Foto: cc-by-sa/Sigrun Lingel
RDA - Nostalgia em Maputo
Cerca de 15 mil moçambicanos trabalharam na Alemanha Oriental no final dos anos 80. A maioria voltou ao seu país de origem após a reunificação da Alemanha, a 3 de Outubro de 1990. Em casa, são chamados de "Madgermanes", uma palavra derivada de "Made in Germany". Até aos dias de hoje, eles reúnem-se com frequência no Jardim 28 de Maio, em Maputo, para reivindicar os seus direitos.