Kofi Annan, um dos diplomatas mais célebres do mundo e primeiro líder subsaariano da ONU, faleceu este sábado (18.08) aos 80 anos, após uma "curta doença", divulgou a família.
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O ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e vencedor do prémio Nobel da Paz, o ganês Kofi Annan, morreu este sábado (18.08), aos 80 anos, segundo confirmaram fontes da família à imprensa.
Na conta oficial do Twitter de Annan, seus familiares publicaram uma mensagem na qual confirmaram que a morte aconteceu após o ex-secretário-geral passar por tratamento num hospital da Suíça.
No entanto, a família de Annan não divulgou a doença que acometeu o antigo líder das Nações Unidas e pediu "privacidade neste momento de luto".
"Com grande tristeza, a família Annan e a Fundação Kofi Annan anunciam que Kofi Annan, antigo secretário-geral da ONU e prémio Nobel da Paz, se foi em paz neste sábado, 18 de agosto, após uma curta doença", explicaram os familiares no Twitter.
"A sua esposa, Nane, e os seus filhos, Kojo, Ama e Nina, estiveram ao seu lado durante os seus últimos dias", acrescenta a mensagem.
"Amigo e mentor"
O secretário-geral da ONU, António Guterres, lembrou Kofi Annan, como "uma força que guiou o bem". "De muitas maneiras, Kofi Annan encarnou as Nações Unidas. Ele dirigiu a organização, no novo milénio, com dignidade e uma determinação inigualável", afirma António Guterres em comunicado.
Segundo Guterres, Kofi Annan "nunca deixou de trabalhar para manter vivos os princípios da Carta das Nações Unidas", acrescentando que "o seu legado será sempre uma inspiração para todos".
António Guterres disse ainda "estar orgulhoso" de poder chamar ao antigo secretário-geral da ONU amigo e mentor. "Foi uma pessoa a quem sempre pude pedir um conselho. Ele ofereceu a todos um espaço de diálogo, um lugar onde os problemas se podem resolver e onde se procura o caminho para um mundo melhor", refere.
"Uma perda para o mundo"
O alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, disse que ficou abalado com a morte de Annan. "Kofi foi o melhor exemplo da humanidade, o epítome da decência humana e graça. Em um mundo agora cheio de líderes que são tudo menos isso, nossa perda, a perda do mundo se torna ainda mais dolorosa", afirmou Hussein.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da ONU, também divulgou a notícia e lamentou "a perda de um grande homem, um líder e um visionário". "Uma vida bem vivida, uma vida que merece ser celebrada", acrescentou a instituição em sua conta do Twitter.
"Filho do Gana"
Na terra natal de Annan, a sua morte também foi lamentada. O Governo e o povo do Gana "estão profundamente tristes com a notícia da morte de um dos nossos maiores compatriotas", disse o Presidente Nana Akufo-Addo, no Twitter.
O ex-Presidente John Dramani Mahama afirmou que "Kofi Annan viveu bem e trabalhou pela paz global, segurança e desenvolvimento sustentável em tempos muito difíceis. Um orgulhoso filho do Gana e de África".
Diversos líderes mundiais comentaram a morte do prémio Nobel da Paz e falaram sobre o seu legado. A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que Kofi Annan "inspirou a mim e a muitos outros com suas idéias, suas convicções firmes e, não menos importante, seu carisma".
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, lamentou a morte de Kofi Annan, apontando que "desaparece um grande líder e um reformador das Nações Unidas, alguém que contribuiu de forma notória para fazer do mundo um lugar melhor", escreveu Theresa May, noTwitter.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, também utilizou o Twitter para prestar homenagem ao antigo secretário-geral da ONU, salientando que nem "o seu olhar calmo e decidido, nem a força dos seus combates" serão esquecidos.
Na Rússia, numa nota divulgada pelo Kremli, são transmitidas as condolências às Nações Unidas, à família do diplomata e ao seu país, o Gana. A eurodeputada Ana Gomes também lamentou a morte de Kofi Annan, dizendo tratar-se de um homem corajoso e honesto, com quem trabalhou no processo de independência de Timor Leste.
Uma vida a servir
Annan manteve-se em atividade até os seus últimos dias, liderando a delegação da ONG The Elders, fundada por Nelson Mandela, que esteve no Zimbabué durante o processo eleitoral no final de julho.
O primeiro líder subsaariano da ONU entrou na organização em 1962 e foi ascendendo nas fileiras da organização até chegar ao cargo de secretário-geral em 1997, função que desempenhou até 2006.
Enquanto esteve à frente da organização, iniciou um programa para reformar a instituição e impulsionou o apoio da comunidade internacional à África e à luta contra a SIDA.
Em 2001, Annan foi galardoado com o Nobel da Paz junto à ONU por "seu trabalho por um mundo melhor organizado e mais pacífico".
Missões de paz da ONU em África
Os capacetes azuis da Organização das Nações Unidas têm intervido em vários países africanos. A MONUSCO, missão de paz da ONU na República Democrática do Congo, é a maior e mais cara de todas. Mas há várias.
Foto: picture-alliance/AA/S. Mohamed
RD Congo: a maior missão da ONU
Desde 1999, que a Organização das Nações Unidas (ONU) tenta pacificar a região oriental da República Democrática do Congo (RDC). A missão conhecida como MONUSCO conta com cerca de 20 mil soldados e um orçamento anual de 1,4 mil milhões de euros. Ainda que esta seja a maior e mais cara missão da ONU, a violência no país persiste.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Darfur: impotente contra a violência
A UNAMID é uma missão conjunta da União Africana e da ONU na região de Darfur, no Sudão, considerada por alguns observadores um fracasso. “O Conselho de Segurança da ONU deve trabalhar mais arduamente para encontrar soluções políticas, em vez de gastar dinheiro no desdobramento militar a longo prazo”, afirmou o especialista em segurança, Thierry Vircoulon.
Foto: picture-alliance/dpa/A. G. Farran
Sul do Sudão: fechar os olhos ao conflito?
A guerra civil no Sul do Sudão já fez com que, desde 2013, mais de quatro milhões de pessoas abandonassem as suas casas. Alguns estão abrigadas em campos de ajuda da ONU. Mas, quando os confrontos entre as forças do Governo e os rebeldes começaram na capital Juba, em julho de 2016, os capacetes azuis não foram bem sucedidos na intervenção.
Foto: Getty Images/A.G.Farran
Mali: mais perigosa missão da ONU no mundo
As forças de paz da ONU no Mali têm estado a monitorizar o cumprimento do acordo de paz realizado entre o Governo e a aliança dos rebeldes liderada pelos tuaregues. No entanto, grupos terroristas como o AQMI continuam a levar a cabo ataques terroristas que fazem com que a Missão da ONU no Mali (MINUSA) seja uma das mais perigosas do mundo. A Alemanha cedeu mais de 700 militares e helicópteros.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
RCA: abusos sexuais fazem manchetes
A missão da ONU na República Centro-Africana (MINUSCA) não ajudou a melhorar a imagem das Nações Unidas no continente africano. As tropas francesas foram acusadas de abusar sexualmente de crianças pela campanha Código Azul. Três anos depois, as vitimas não têm ajuda da ONU. Desde 2014, 10 mill soldados e 1800 polícias foram destacados para o país. A violência diminuiu, mas a tensão mantém-se.
Foto: Sia Kambou/AFP/Getty Images
Saara Ocidental: Esperança numa paz duradoura
A missão da ONU no Saara Ocidental, conhecida por MINURSO, está ativa desde 1991. Cabe à MINURSO controlar o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário que defende a independência do Saara Ocidental. Em 2016, Marrocos, que ocupa este território desde 1976, dispensou 84 funcionários da MINURSO após um discurso do secretário-geral da ONU que o país não aprovou.
Foto: Getty Images/AFP/A. Senna
Costa do Marfim: um final pacífico
A missão da ONU na Costa do Marfim cumpriu o seu objetivo a 30 de junho de 2016, após 14 anos. As tropas têm vindo a ser retiradas, gradualmente, o que, para o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, significa “um ponto de viragem das Nações Unidas na Costa do Marfim”. No entanto, apenas depois da retirada total das forças e a longo prazo é que se saberá se a missão foi ou não bem sucedida.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
Libéria: missão cumprida
A intervenção da ONU na Libéria chegou ao fim. Desde o fim da guerra civil, que durou 14 anos, que a Missão da ONU na Libéria (UNMIL) tem assegurado a estabilidade na Libéria e ajudado a construir um Estado funcional. O Governo do país quer agora garantir a segurança da Libéria. O país ainda está a lutar com as consequências de uma devastadora epidemia do Ébola que o assolou.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Sudão: Etiópia é promotora da paz?
Os soldados da Força de Segurança Interina da ONU para Abyei (UNISFA) patrulham esta região, rica em petróleo, e que, tanto o Sudão, como o Sudão do Sul, consideram ser sua. Mais de quatro mil capacetes azuis da Etiópia estão no terreno. A Etiópia é o segundo maior contribuinte para a manutenção da paz no mundo. No entanto, o seu exército é acusado de violações de direitos humanos no seu país.
Foto: Getty Images/AFP/A. G. Farran
Somália: Modelo futuro da União Africana?
As forças de paz da ONU na Somália estão a lutar sob a liderança da União Africana numa missão conhecida como AMISOM. Os soldados estão no país africano para combater os islamitas al-Shabaab e trazer estabilidade ao país devastado pela guerra. Etiópia, Burundi, Djibouti, Quénia, Uganda, Serra Leoa, Gana e Nigéria contribuem com as com suas tropas para a AMISOM.