Festival "KUGOMA" leva a Maputo filmes e encontros sobre cinema produzido dentro e fora de Moçambique.
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A oitava edição do Festival de Curtas-Metragens, conhecido por "KUGOMA", arrancou nesta quinta-feira (28.09.) na capital moçambicana, Maputo e decorre até o próximo sábado (30.09.). "Buska Santu" uma curta-metragem da cineasta cabo-verdiana, Samira Vera-Cruz foi escolhida para a abertura desta edição.
O filme conta a história de um pai, tocador de viola para sustentar o seu filho e que vê este instrumento musical roubado.
"É uma curta-metragem inspirada no neo-realismo italiano sobre a história de um pai e seu filho com a Tabanka, que é manifestação cultural cabo-verdiana, como pano de fundo", disse a cineasta em declarações à DW África.O festival "KUGOMA" é uma oportunidade para troca de experiências entre cineastas dos países africanos falantes do português.
Por isso esta interação para Samira Vera-Cruz está a ser produtiva. "Tenho aprendido muito. Estou num período que considerei que tive um pré-Moçambique e pós-Moçambique nesta fase de arranque enquanto realizadora. Partilhei muito da minha cultura ... tem sido muito produtiva".
Cine-concerto
O Festival "KUGOMA" nesta oitava edição não traz nenhum filme moçambicano. Mas Diana Manhiça, produtora do festival, apresenta alternativas.
"Um cine-concerto que é uma composição ao vivo de duas compositoras: a Melita Matsinhe, ao piano, e a Catarina Domingos, no acordeão, em cima de um filme de José Cardoso da década sessenta. Portanto um filme antigo com uma música nova ao vivo", explica.Uma série de outros filmes africanos está a ser exibida em Maputo de autores que não são da lusofonia segundo ainda Diana Manhiça.
kogoma
"Vários outros filmes africanos que, não sendo da lusofonia, são de jovens que fazem o mesmo que os outros que temos aqui que são tentar e criar histórias africanas que sejam inteligíveis no mundo inteiro".
Refletir sobre cinema moçambicano
O realizador moçambicano e crítico de cinema, Pedro Pimenta, refere que esta edição do "KUGOMA" é igualmente um momento para se refletir sobre o cinema que se produz em Moçambique.
"A discussão sobre a história do cinema em Moçambique faz parte disso. O debate sobre a lei do cinema faz parte disso. Há uma presença forte na perspetiva de se pensar localmente sobre o cinema", concluiu.
A edição 2017 do Festival "KUGOMA" contempla ainda a promoção de debates sobre a lei do cinema em Moçambique.
Alemanha e Moçambique no olho de dois fotógrafos
Moçambique é o ponto comum na exposição em Berlim que junta fotografias do moçambicano Mário Macilau e do alemão Malte Wandel. As crianças de rua em Maputo são o tema em destaque na obra de Macilau.
Foto: Mario Macilau
Crianças de rua, na visão de Macilau
Nesta foto, o fotógrafo moçambicano Mário Macilau optou por um plano de detalhe para abordar a questão da alimentação das crianças de rua. Esse é um dos temas fortes na obra de Mário Macilau que, em 2017, foi um dos vencedores do prémio internacional The LensCulture Exposure Awards.
Foto: Mario Macilau
Crescendo na Escuridão
Em 2017, a obra do fotógrafo moçambicano Mário Macilau esteve em exposição na Galeria Kehrer, na capital da Alemanha. As fotos foram extraídas de diversas séries produzidas por ele, especialmente do livro "Crescendo na Escuridão", que mostra a infância de crianças de rua em Maputo. A exposição inclui também fotografias do alemão Malte Wandel, que documenta a vida dos "Madgermanes".
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
A casa
A foto intitulada "Escadas de Sombras" mostra o interior de uma casa abandonada do período colonial. "Entrei nessas casas e comecei a observar a forma como esse sonho das casas de luxo se foi perdendo e as casas foram envelhecendo", revela Macilau. "Não queria mostrar o lado de rua dessas crianças, por isso, a maioria das fotografias foi feita dentro das casas onde elas moram", afirma.
Foto: Mario Macilau
Brincadeira
O menino com a arma de fogo nas mãos é, quase sempre, uma imagem chocante. Macilau garante que, aqui, trata-se de uma arma de brinquedo, feita pelas próprias crianças. O fotógrafo quis mostrar não apenas a dura realidade da vida nas ruas, mas também o imaginário e as brincadeiras, apesar da falta de perspectivas dos menores.
Foto: Mario Macilau
A imagem da alegria
A diversão na praia estampada nos sorrisos. A foto retrata a liberdade e a alegria do momento. Nem só de desesperança é feita a vida das crianças retratadas por Mário Macilau. "São crianças normais, que também têm sonhos. Elas vão passear, brincam, vão à praia. Isso tudo faz parte do lazer delas", considera.
Foto: Mario Macilau
Duas visões em exposição
Moçambique é o elo de ligação que junta dois fotógrafos na exposição, diz a gerente da Galeria Kehrer, Pauline Friesescke. "Mário apresenta um olhar de grande proximidade com os seus protagonistas", afirma. Já o trabalho de Wandel "coloca em debate uma parte interessante da história da Alemanha" e de Moçambique.
Foto: DW/C. Vieira Teixeira
"Madgermanes": Protestos e resistência
Desde 2007, Malte Wandel documenta a vida dos "Madgermanes" – tanto daqueles que ficaram na Alemanha quanto dos que retornaram a Moçambique. Para o fotógrafo, "era importante mostrar pessoas diferentes, em diversos lugares e também de níveis sociais variados" descreve. Na foto em exposição em Berlim, os "Madgermanes" protestam pelo pagamento de parte do salário que era descontado para Moçambique.
Foto: Malte Wandel
Ambiente familiar
Malte Wandel fotografou diversas famílias dentro de casa. Na foto, a família de Jamal Trabaco, em Halle an der Saale, no estado alemão da Saxónia-Anhalt. "Para mim, era muito importante mostrar os ambientes privados, contar as histórias privadas e tornar essas famílias visíveis", explica o fotógrafo alemão.
Foto: Malte Wandel
Vítimas de ataques racistas
Foi na Praça Jorge Gomodai, em Dresden, que em 1991 o moçambicano Jorge João Gomodai foi atacado por jovens de extrema direita, vindo depois a falecer. "Nestes tempos em que Dresden representa o Movimento Pegida [Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente], muitas manifestações aconteceram nesta praça e escolhi-a como símbolo para mostrar que a história se repete", justifica Wandel.
Foto: Malte Wandel
Uma vida sem glamour
O fotógrafo alemão interessou-se por retratar a situação nada glamorosa em que se encontravam os ex-trabalhadores da RDA. A imagem demonstra a sala da casa de Nelson Munhequete, em Maputo. "A foto mostra que ele não teve uma chance", diz Malte Wandel. "Dar cada vez mais visibilidade a essa história é meu objetivo", conclui.
Foto: MalteWandel
A opinião do público
Durante uma visita à exposição, o artista plástico Thomas Kohl encantou-se com o trabalho de Mário Macilau. "Tem-se a impressão de que se trata de uma situação real e não de algo encenado", descreveu. Para Kohl, apesar de abordar o tema pobreza, "não há um julgamento nem uma realismo barato" no trabalho de Macilau.