Líbia: 300 pessoas resgatadas de embarcações sobrelotadas
Reuters | AFP | EFE | mjp
8 de janeiro de 2018
Com o grupo, a guarda costeira líbia recuperou este domingo os corpos de duas mulheres que tentavam atravessar o Mediterrâneo. Sobreviventes afirmam que há dezenas de desaparecidos.
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Em declarações à agência de notícias AFP, a Marinha líbia não avançou as causas da morte das duas mulheres que deixaram a costa líbia na noite de sábado (06.01) num barco com 140 migrantes de várias nacionalidades. Outros 150 migrantes seguiam num segundo barco que estava prestes a naufragar quando a ajuda chegou ao local.
As operações de resgate tiveram lugar ao largo de Garabulli, a leste de Trípoli, onde as partidas se tornaram mais frequentes desde que grupos armados começaram a impedir a saída de embarcações de migrantes da costa a oeste da cidade.
Líbia: 300 pessoas resgatadas de embarcações sobrelotadas
Segundo o capitão da guarda costeira líbia, El Hady, os sobreviventes já estão a receber assistência médica: "A guarda costeira resgatou entre 250 a 270 mulheres, crianças e homens. Foram resgatados ao largo de Garabulli. Estão a receber assistência médica e serão enviados para centros de apoio."
No sábado, pelo menos 25 pessoas morreram no naufrágio de outro barco que transportava cerca de 150 migrantes, de acordo com duas organizações de ajuda humanitária. As autoridades italianas, que conduziram as operações de socorro ao largo da costa líbia, confirmaram a morte de oito pessoas e anunciaram que 84 foram resgatadas.
Guerra e pobreza
No ano passado, quase 3.200 pessoas morreram na travessia do Mediterrâneo para chegar à Europa, de acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Também em 2017, segundo a OIM, mais de 170 mil migrantes e refugiados do norte africano chegaram à Europa pela mesma travessia - menos 53% do que em 2016.
A maioria dos migrantes foge da guerra no Médio Oriente e da pobreza em África. Os nigerianos tornaram-se recentemente o maior grupo entre os migrantes africanos que viajam para a Líbia na esperança de chegar à Itália por via marítima.
No entanto, desde que a guarda costeira líbia e grupos armados começaram a travar as saídas de migrantes, muitos estão retidos no país em condições desumanas.
Nigéria começou repatriamento de cidadãos
No sábado, durante uma visita a Trípoli, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria, Geoffrey Onyema, anunciou que o Governo deu início às operações para retirar milhares de cidadãos nigerianos da Líbia.
"O nosso Presidente disponibilizou todos os recursos necessários para repatriar todos os nigerianos na Líbia. Estamos a falar de cerca de 5.500 pessoas, mas os números são uma questão problemática. Vamos trabalhar com as autoridades líbias e a Organização Internacional para as Migrações para ter números exatos", assegurou o ministro nigeriano.
A OIM intensificou nos últimos meses o programa de "regressos voluntários" para repatriar migrantes de diversos países. A Nigéria junta-se agora ao Níger na organização dos regressos bilaterais.
De acordo com Onyema, "o principal objetivo é levar estes cidadãos nigerianos para casa o mais rapidamente possível".
"Esperamos começar este sábado o processo de repatriamento. Temos dois aviões a chegar e deveremos retirar 800 nigerianos este sábado", disse o governante, ressaltando que "os aviões continuarão a chegar até que todos sejam repatriados".
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.