Medida é uma resposta aos combates violentos entre milícias, que há uma semana já mataram cerca de 40 pessoas em Trípoli. Comunidade internacional apela ao respeito do cessar-fogo negociado pela ONU.
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Na Líbia, o Governo apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou este domingo (02.09) um estado de emergência na capital Trípoli e nos arredores, já que os confrontos entre milícias já mataram pelo menos 39 pessoas, incluindo civis, nos últimos dias.
"Devido ao perigo da situação atual e para o bem dos cidadãos, o conselho presidencial declara o estado de emergência na capital, Trípoli, e em seus subúrbios para proteger civis, bens públicos e privados e as instituições", anunciou o Governo num comunicado.
Os confrontos começaram na semana passada entre grupos armados de Trípoli contra outros de uma cidade ao sul. Ambos disputam o poder na capital da Líbia. O Ministério da Saúde disse que os combates também feriram ao menos 96 cidadãos.
Na declaração deste domingo, o Governo pediu às milícias rivais que parem os combates e mantenham o cessar-fogo mediado pela ONU. No sábado, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu a "suspensão imediata das hostilidades" na Líbia e o respeito pelo acordo de cessar-fogo concluído sob o auspício da ONU.
Em comunicado, a organização diz condenar "a violência contínua em torno da capital da Líbia, incluindo os bombardeamentos indiscriminados usados por grupos armados, que matam e ferem civis, incluindo crianças".
Repúdio
Ainda no sábado, os Governos dos Estados Unidos, Reino Unido, França e Itália repudiaram de forma conjunta os sangrentos combates entre milícias, já considerados os piores desde o ápice da guerra civil em 2014.
Em comunicado conjunto, os quatro países advertiram que as milícias deverão responder pelos próprios atos se atrapalharem os esforços que têm sido feitos para recuperar a estabilidade em um país vítima do caos e da violência desde que, em 2011, a NATO contribuiu para a vitória dos grupos rebeldes sobre a ditadura de Muamar al Kadafi.
"Essas tentativas de enfraquecer as legítimas autoridades da Líbia e afundar o processo político que era realizado não são aceitáveis. Exigimos que todos os grupos armados cessem imediatamente toda a ação armada. Advertimos àqueles que buscam minar a estabilidade, em Trípoli ou onde quer que seja, que terão que prestar contas por isso", afirmaram os países.
Estado de guerra
Desde a queda do regime de Muanmar Gaddafi, em 2011, que a capital líbia tem estado no centro de uma luta de influência entre milícias em busca de dinheiro e de poder.
As sucessivas autoridades de transição, entre as quais o GNA, foram incapazes de formar um exército e forças de segurança regulares, tendo sido obrigadas a contar com as milícias para assegurar a segurança da cidade.
Em maio, os protagonistas da crise líbia, Sarraj e o marechal Khalifa Haftar, que domina o leste da Líbia onde criou um autoproclamado exército nacional líbio (ANL), comprometeram-se em Paris a organizar eleições legislativas e presidenciais em dezembro.
No entanto, analistas consideram que a fragmentação do país, a insegurança e a ausência em Paris de alguns atores influentes tornam difícil o cumprimento daquele prazo.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.