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Líbia: Milhares em fuga após escalada de violência

Kersten Knipp | cvt | com agências
11 de abril de 2019

Combates nos arredores de Tripoli levam milhares de pessoas a abandonar as suas casas. Comunidade internacional apela ao cessar-fogo. Organizações humanitárias alertam para "consequências dramáticas" para os civis.

Membro das forças de Misrata, sob a proteção das forças de Tripoli, prepara-se para o combate na capital líbia.Foto: Reuters/H. Amara

Agravam-se as hostilidades na Líbia. Combates violentos nos arredores da capital, esta quarta-feira (10.04), entre forças do Exército Nacional Líbio (ANL, na sigla em francês), controlado pelo marechal Khalifa Haftar no leste do país, e tropas leais ao Governo de união nacional instalado pela ONU e dirigido por Fayez al-Sarraj em Tripoli, levaram milhares de residentes a fugir das suas casas.

A ANL manteve posições nos subúrbios cerca de 11 quilómetros a sul do centro da cidade. Contentores marítimos de aço, barreiras de areia e camiões com metralhadoras bloqueavam o caminho dos homens de Haftar para a capital.

Moradores relataram que armas antiaéreas dispararam contra aviões da ANL. No terreno, as forças de Haftar mantiveram combates contra forças alinhadas com o Primeiro Ministro Fayez al-Sarraj no antigo aeroporto internacional e no distrito de Ain Zara.

Segundo as Nações Unidas, pelo menos 4.500 moradores de Tripoli foram deslocados, mas muitos mais ficaram encurralados.

Ainda há tempo para um cessar-fogo

O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se com o secretário-geral da organização, António Guterres, à porta fechada, esta quarta-feira. A poucas horas da reunião, os conflitos intensificaram-se entre as forças paramilitares do marechal Haftar e as tropas do Governo de Acordo Nacional (GAN). 

Após o encontro, Guterres disse que ainda há tempo para um cessar-fogo que permita reabrir as negociações: "Ainda é tempo de parar. Ainda é tempo para um cessar-fogo ter lugar, para se pôr termo às hostilidades e evitar o pior, que seria uma batalha dramática e sangrenta por Tripoli".

Khalifa Haftar e António Guterres durante a visita do secretário-geral da ONU à Líbia.Foto: Reuters/Media office of the Libyan Army

As Nações Unidas querem unir as duas partes para planear uma eleição e uma saída para o caos, mas a cimeira que deveria ter início a 14 de abril foi adiada 'sine die' devido aos combates perto da capital.

A ONU já havia apelado ao fim das hostilidades, ressaltou Guterres, que na semana passada esteve no país.

"É óbvio que o meu apelo para que uma ofensiva não ocorra e para que as hostilidades parem não foi ouvido. Mas penso que, quando olhamos para a situação atual, é evidente que temos uma situação muito perigosa e está absolutamente claro que a temos de travar", sublinhou.

Resumindo a discussão do conselho, o embaixador alemão na ONU, Christoph Heusgen, atual presidente do órgão, disse que outros participantes da reunião ecoaram o apelo de Guterres por um cessar-fogo.

Enquanto o confronto continuava nos arredores de Tripoli, o enviado das Nações Unidas para a Líbia, Ghassan Salame, encontrou-se com Serraj e com o chefe de uma assembléia baseada em Tripoli e oposta a Haftar para discutir a situação, informou o seu gabinete.

Também a NATO afirma que está "profundamente preocupada" com os conflitos entre forças rivais na Líbia, alertou o secretário-geral, Jens Stoltenberg, apelando a uma solução política como "a única maneira de garantir paz e estabilidade para todos os líbios".  

"Não há solução militar para resolver a situação na Líbia", indicou o responsável da NATO em comunicado.  Jens Stoltenberg salientou que "a operação militar em curso e o avanço em direção a Tripoli aumentam o sofrimento do povo líbio e põem em perigo a vida dos civis".

Dezenas de mortos e feridos

Líbia: Milhares em fuga após escalada de violência

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Em Tripoli, quase 50 pessoas morreram, principalmente combatentes, mas também alguns civis, incluindo dois médicos, de acordo com as últimas estimativas da ONU.

O porta-voz do Exército Nacional Líbio de Haftar, o brigadeiro-general Ahmed al-Mesmari, disse esta quarta-feira que 28 soldados foram mortos e 92 feridos desde o início das operações militares há dias na região ocidental e nos arredores de Tripoli.

Falando em Benghazi, também confirmou as primeiras baixas civis desde o início das operações militares.

Al-Mesmari acrescentou que as forças do exército líbio abateram um avião militar que partiu de uma base em Misrata em direção a Tripoli.

As forças de Haftar publicaram no Facebook um vídeo que pretende mostrar a apreensão de uma base governamental no distrito de Aziziya, no sul de Tripoli. As imagens, que não puderam ser verificadas, mostram um veículo em chamas e soldados atirando para o ar, gritando "Allahu Akbar", ou "Deus é o maior" em árabe.

A agência humanitária da ONU manifestou extrema preocupação com o "uso desproporcional e indiscriminado" de armas explosivas em áreas densamente povoadas, estimando que meio milhão de crianças estejam em risco.

Rabab Al-Rifai, coordenadora de Comunicação da Delegação para a Líbia do Comité Internacional da Cruz Vermelha, avalia a situação dos civis como crítica: "De acordo com nossos colegas no terreno, ouvem-se os combates. As pessoas fugiram para áreas mais seguras na vizinhança. Sabemos também de famílias que estão desalojadas. Se a violência aumentar e o conflito se prolongar, terá consequências dramáticas para a população local”.

Além das consequências humanitárias, o mais recente conflito na Líbia ameaça interromper o abastecimento de petróleo, aumentar a migração pelo Mediterrâneo para a Europa, destruir o plano de paz da ONU e incentivar os militantes islamistas a explorar o caos.

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