O enviado da ONU à Líbia alertou que acordos militares e marítimos entre Ancara e Tripoli representam uma "escalada" do conflito no país. França e Liga Árabe também estão em alerta.
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As declarações do enviado das Nações Unidas à Líbia, Ghassan Salame, foram divulgadas esta segunda-feira (30.12), depois que a Presidência da Turquia enviou para análise no Parlamento uma moção que permite mandar tropas turcas para o país do norte africano.
Em entrevista ao jornal francês Le Monde, o enviado da ONU disse que os acordos assinados entre Ancara e o Governo de Tripoli representam "uma clara escalada do conflito" na Líbia.
Ghassan Salame também lamentou o que chamou de "internacionalização do conflito", que se aprofundou ainda mais este ano, atraindo uma infinidade de forças e poderes externos. "Vimos mercenários de várias nacionalidades, incluindo russos, chegando (à Líbia) para apoiar as forças do marechal Haftar em Tripoli", disse.
Comunidade internacional preocupada
O Egito convocou para esta terça-feira (31.12) uma reunião urgente da Liga Árabe, com sede no Cairo, para discutir "desenvolvimentos na Líbia e a possibilidade de uma escalada" dos conflitos no país.
Antes do encontro com os árabes, o Presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi falou com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron, esta segunda-feira ao telefone sobre "os riscos de uma escalada militar" na Líbia.
A Presidência francesa informou que ambos apelaram "à maior contenção" do "conjunto dos atores internacionais e líbios". Os dois chefes de Estado "exprimiram a sua vontade de que um acordo político seja encontrado no quadro das Nações Unidas (...) para restaurar a unidade e a plena soberania da Líbia", acrescentou o Eliseu.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu na quinta-feira da semana passada o caminho a uma intervenção militar direta da Turquia na Líbia, anunciando uma votação em breve no Parlamento sobre o envio de tropas para apoiar o Governo de Tripoli, que enfrenta o marechal Khalifa Haftar, que controla o leste do país africano e lançou em abril uma ofensiva para se apoderar de Tripoli.
Haftar é apoiado pelo Egito, os Emirados Árabes Unidos e a Rússia. Entretanto, Macron e Sissi "concordaram agir em estreita coordenação" para facilitar um "relançamento decisivo das negociações inter-líbias".
Líbia à beira de uma crise de água
Devido ao petróleo, a Líbia já foi um dos países mais ricos de África, mas a intervenção militar internacional e a guerra civil mergulharam o país no caos. Muitos estão em risco de perder o acesso a água potável.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Necessidades básicas
A Líbia atravessa uma crise no seu sistema de saúde. As regiões ocidentais, em particular, estão a ficar sem água potável. 101 das 149 condutas do sistema de abastecimento de água foram já destruídas na sequência da situação caótica que o país vive.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Sistema de condutas de água deteriorado
O país é maioritariamente composto por deserto árido. Na década de 1980, ainda com o ditador Muammar Kadhafi no poder, foi construído um vasto e avançado sistema de condutas conhecido como o "Grande Rio Artificial da Líbia". Um projeto que levou o abastecimento de água potável a mais de 70% da população do país. No entanto, desde a queda de Kadhafi, o sistema tem sido danificado.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Guerra civil e caos
Desde a queda de Kadhafi, em 2011, após uma intervenção militar internacional liderada pelos EUA e a França, o país está mergulhado no caos. O Governo reconhecido pela comunidade internacional, com sede em Tripoli, é fraco e não controla grande parte do território líbio. Por seu lado, o General Khalifa Haftar e o seu autoproclamado Exército Nacional (LNA) controlam o leste do país.
Foto: AFP/M. Turkia
Alvo Tripoli
O LNA, em particular, tem utilizado o sistema de condutas de água para fazer exigências, colocando assim em perigo a população da Líbia. Em maio, as forças leais ao marechal Haftar obrigaram os trabalhadores do setor da água a cortar a principal conduta que abastecia a capital sitiada, Tripoli, durante dois dias. E exigiram que as autoridades libertassem um prisioneiro.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Água como arma de guerra
Mas não são apenas os grupos rebeldes que usam o sistema de abastecimento de água do país como moeda de troca para defender os seus interesses. Há também pessoas que desmontam bocas de poços para vender o cobre de que são feitas estas estruturas. As Nações Unidas já alertaram os diferentes lados do conflito para que não utilizem a água como arma de guerra.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Riscos para a saúde
Mostafa Omar, porta-voz da UNICEF para a Líbia, estima que, no futuro, cerca de quatro milhões de pessoas poderão ser privadas do acesso a água potável se não for encontrada uma solução para o conflito. A falta de água pode resultar em surtos de hepatite A, cólera ou outras doenças diarreicas.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Água imprópria para consumo
A juntar à escassez da água, está o problema da contaminação deste recurso em algumas áreas do país. A presença de bactérias ou um elevado teor de sal tornam a água imprópria para consumo. "De facto, muitas vezes, a água já não é potável", constata Badr al-Din al-Najjar, diretor do Centro Nacional de Controlo de Doenças da Líbia.