Líbia: ONU pede embargo de armas para conter combates
tms | com agências
18 de maio de 2019
Secretário-geral da ONU instou a comunidade internacional a aplicar um embargo de armas contra a Líbia para restaurar a estabilidade no país. Ataque à zona petrolífera, este sábado, é nova demonstração de instabalidade.
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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) expressou profunda preocupação com a situação na Líbia num relatório divulgado na noite de sexta-feira (17.05) pelo Conselho de Segurança. António Guterres considera que as atuais operações militares na Líbia estão "a ser reforçadas pela transferência de armas para o país, inclusive por via marítima".
Guterres referia-se especificamente à implementação de uma resolução de junho do ano passado, que autoriza a força marítima da União Europeia (UE) a impor um embargo de armas em alto mar na costa da Líbia.
O secretário-geral da ONU observou que, em março, os países do bloco europeu estenderam o mandato da missão naval, mas restringiram a sua operação, recusando a instalação de qualquer navio naquela região. Em vez disso, a UE disse que vai disponibilizar mais aviões e agentes para trabalhar na fiscalização da zona marítima.
A Itália comanda a missão conhecida como Operação Sophia, mas o Governo de Roma recusa-se a permitir que os navios de resgate de migrantes ou de grupos de ajuda desembarquem nos portos italianos. A decisão da UE de suspender a missão naval foi vista como uma medida para aliviar as tensões com o Governo italiano.
Entretanto, Guterres disse que a Operação Sophia informou que entre 23 de março de 2018 e 22 de março de 2019 fez mais de mil alertas, 84 abordagens amigáveis e três inspeções de navios, mas nenhuma arma foi apreendida.
Contrabando de armas
No entanto, o secretário-geral afirmou que ainda há tentativas de contrabandear armas para a Líbia, citando a apreensão de armas e material militar pelas autoridades alfandegárias e portuárias da Líbia.
Dada a atual suspensão da Operação Sophia, Guterres disse que "é muito importante que os Estados membros complementem os esforços da operação militar para inspecionar cargas em suas águas territoriais ou em seus portos marítimos de embarcações que estão indo e vindo da Líbia".
Mais amplamente, o secretário-geral citou relatos de violações do embargo de armas por ar, terra e mar durante a recente escalada militar na Líbia, que foi desencadeada por uma ofensiva para assumir o controle da capital Tripoli lançada a 4 de abril, pelo Exército Nacional da Líbia, liderado pelo Marechal Khalifa Haftar.
Guterres disse estar "profundamente preocupado que uma importante oportunidade para um diálogo inclusivo e a busca de uma solução política para a Líbia possa ser prejudicada" pela atual escalada militar.
E observou que desde que o Conselho de Segurança impôs o embargo à importação e exportação de armas para e da Líbia em 2011, sua implementação "continua a encontrar desafios".
"Peço insistentemente aos Estados membros que implementem plenamente as medidas de embargo, que são de importância imediata para a proteção de civis e a restauração da segurança e estabilidade na Líbia e na região", disse Guterres.
Nova demonstração de instabilidade
Entretanto, este sábado (18.05), dois guardas foram mortos e outros quatro foram sequestrados em um ataque do Estado Islâmico na área de exploração petrolífera de Zella, disse uma fonte de segurança à agência Reuters.
A zona de exploração de Zella pertence à Zueitina Oil Company, que no último trimestre de 2018 produziu uma média de 19 mil barris por dia em todos os seus campos. Um funcionário disse à Reuters que os trabalhadores no campo estavam em segurança e as instalações não foram danificadas.
O chefe da Organização Nacional do Petróleo da Líbia disse este sábado que a instabilidade no país poderia causar a perda de 95% da produção de petróleo.
Falando na Arábia Saudita antes de um painel ministerial que vai reunir este domingo (19.05) os principais produtores da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e não-OPEP, Mustafa Sanalla também confirmou o ataque dos Estado Islâmico à Zella.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.