Líbia otimista ainda enfrenta problemas um ano depois de revolução
17 de fevereiro de 2012 O dia 17 de fevereiro de 2011 ficou conhecido como o "Dia da Cólera". Começava então a revolução popular que levou a uma guerra civil de oito meses e que resultou na tomada da capital Trípoli pelos rebeldes, em agosto, e na morte do antigo líder do país, Muammar Kadhafi, em outubro.
Quando os governos da Tunísia e do Egipto caíram, no início do ano passado, poucos sonhavam que o mesmo pudesse acontecer na Líbia, governada por Kadhafi durante 42 anos. Mas de fato a revolução começou pela mão do povo líbio e com a intervenção de forças internacionais.
Na quarta-feira (15.02), o historiador Faraj Najem esteve presente no Frontline Club em Londres para debater a reconstrução da Líbia, e disse que como cidadão líbio não tem outra escolha senão ser otimista. Por outro lado, ainda há muitos problemas a resolver: a começar pelos abusos de direitos humanos, como a violação sexual, o stress pós-traumático dos jovens que viveram a revolução e o enorme número de feridos.
Fiéis a Kadhafi podem ser problema de longo prazo
Porém, a longo prazo, Najem afirma que o problema da Líbia "são os fiéis a Kadhafi, a família de Kadhafi que está nos países vizinhos (Egito, Argélia, Tunísia, Níger e Marrocos). Eles têm dinheiro, têm contactos em todo o mundo e ainda têm fiéis dentro da Líbia, por isso podem ser manipuladores especialmente em época de eleições", avalia.
Eleições que pertencem ao futuro (2013) e não ao presente da Líbia. Ahmed Gebreel, foi conselheiro político do Conselho Nacional de Transição (CNT), agora à frente da Líbia, e diz que o grande desafio do país neste momento não é a segurança ou a economia mas as enormes expectativas do povo. A opinião é comum entre os especialistas na sala: os líbios estão viciados na palavra "agora".
"Povo líbio não conhece democracia"
Mas este "agora", segundo os especialistas em Londres, exige uma mudança que o povo líbio não sabe enfrentar, porque não conhece a democracia. Khaeri Aboushagor, ativista político líbio que esteve exilado 30 anos, defende que os líbios que tiveram uma educação no mundo ocidental, fora do seu país, devem liderar esta mudança.
"A maioria dos líbios não teve esta oportunidade porque o regime de Kadhafi proibiu-os de terem educação, saúde e oportunidades adequadas. Kadafi proibiu o seu povo de aprender línguas estrangeiras", lembra Aboushagor.
"Então quem vem de fora viu como os governos funcionam em sociedades desenvolvidas, e o que é preciso para que fazer democracia. Esses que vivem fora têm a obrigação de transmitir a sua experiência, porque em países assim as pessoas têm conceitos errados porque não tiveram a oportunidade de aprender", afirma o ativista.
Várias organizações internacionais tentam contribuir para a mudança. Aboushagor salienta ainda que é difícil trabalhar com parceiros locais: "Mas aos poucos está a funcionar. Temos líbios a voltar do estrangeiro mas também ocidentais, norte-americanos, britânicos, alemães, todos a tentar trabalhar. Vai levar tempo e gostaríamos que as autoridades ajudassem mais estas organizações a instalar-se para que possam educar as pessoas", espera.
Autora: Débora Miranda (Londres)
Edição: Renate Krieger / António Rocha