A calma parece ter regressado à capital líbia, Tripoli, após a assinatura de um cessar-fogo entre as milícias em conflito, mas o status quo é "insustentável", alerta o líder da missão das Nações Unidas no país.
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Depois de uma semana de confrontos violentos que mataram pelo menos 61 pessoas, o líder da missão da ONU, Ghassan Salamé, mostra-se preocupado. "A 4 de setembro, a missão declarou um cessar-fogo e isto travou efetivamente os combates e deu início à restituição de alguma ordem na cidade. A missão está agora a trabalhar para proteger esta paz frágil", diz.
Mas como a presença do Estado Islâmico no país está a aumentar, Ghassan Salamé alertou o Conselho de Segurança "para a possibilidade de a Líbia se tornar um abrigo para grupos terroristas" e pediu "ajuda para lidar com esta ameaça".
As autoridades líbias estão a braços com vários problemas no terreno após uma semana de confrontos: há quase 160 feridos, várias pessoas estão desaparecidas e cerca de duas mil foram desalojadas.
Milhares de migrantes e deslocados
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), há atualmente mais de 600 mil migrantes e quase 180 mil deslocados internos na Líbia. O gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Genebra expressou a sua preocupação sobre o impacto dos combates nos migrantes e deslocados.
Líbia: Paz frágil apesar do cessar-fogo
No seguimento dos confrontos, centenas de migrantes fugiram de um centro de detenção nos arredores de Tripoli. "Estavam no centro de detenção na estrada do aeroporto, na zona dos confrontos, abriram as portas e fugiram. Cerca de mil e duzentos foram encontrados numa quinta. Recebemos 545", conta o diretor da Agência Anti-Imigração Ilegal da Líbia, Ismail Khairi.
"Muitas organizações disseram que iam responder a todas as nossas necessidades, mas, até agora, não recebemos nada, não há comida ou colchões para os detidos. O centro não consegue suportar estes números", diz o capitão.
País estratégico para a Europa
Esta quarta-feira (05.0), a União Europeia (UE) apelou ao respeito pelo cessar-fogo acordado em Tripoli. Mas, se a Líbia é considerada um país estratégico para a Europa, devido à questão da migração, o mesmo não se pode dizer da sua importância para os países africanos. A União Africana (UA) está praticamente ausente da busca de uma solução para a instabilidade que reina na Líbia desde a queda de Muammar Kadhafi, em 2011. O país é governado por autoridades rivais em Tripoli, apoiadas por diferentes milícias.
O diplomata do Burkina Faso Mousbila Sankara, ex-embaixador na Líbia, aponta vários motivos para a ausência de África nas tentativas de resolução do problema: a falta de eficácia, a falta de compromisso e a falta de probidade dos líderes africanos. "A UA tem de se organizar e tomar a iniciativa. Abordar as partes em conflito, fazê-las compreender o perigo da situação para a região e para África. O que quer cada uma das fações? Se for petróleo, partilhem. Se for o poder, partilhem", defende.
Em maio, os protagonistas da crise líbia, o primeiro-ministro Fayez al-Sarraj Sarraj e o marechal Khalifa Haftar - que domina o leste da Líbia, onde criou um autoproclamado exército nacional - comprometeram-se em Paris a organizar eleições legislativas e presidenciais em dezembro. No entanto, analistas consideram que a fragmentação do país e a insegurança tornam difícil o cumprimento do prazo.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.