Líbia: Rejeitado cessar-fogo proposto por Rússia e Turquia
tm | Jürgen Stryjak | Lusa | Reuters
10 de janeiro de 2020
O marechal líbio Khalifa Haftar rejeitou esta quinta-feira o cessar-fogo sugerido por Ancara e Moscovo e anunciou o prosseguimento das operações militares contra o Governo de Acordo Nacional (GNA), reconhecido pela ONU.
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Na Líbia, o marechal Khalifa Haftar rejeitou na noite desta quinta-feira (09.01) o cessar-fogo sugerido por Ancara e Moscovo. Vão, por isso, continuar as operações militares contra o Governo de Acordo Nacional (GNA), reconhecido pela ONU.
Os Presidentes turco, Recep Tayyip Erdogan, e russo, Vladimir Putin, pediram quarta-feira (08.01), após uma reunião em Istambul, um cessar-fogo a partir de domingo da guerra entre as forças leais ao Governo de Fayez al-Sarraj e o Exército Nacional Líbio (ENL) do marechal Khalifa Haftar, homem forte do leste líbio. A Rússia é acusada de apoiar o marechal Haftar, ao enviar centenas de mercenários, enquanto a Turquia anunciou o envio de tropas para a Líbia em apoio ao GNA.
Num comunicado divulgado pelo seu porta-voz, o marechal considerou que a estabilidade na Líbia não ocorrerá antes "da erradicação dos grupos terroristas". Segundo o porta-voz do marechal, Ahmad al-Mesmari, "não há como estabelecer um Estado civil sem a eliminação completa dos grupos terroristas que tomaram a capital, Trípoli, e recebem apoio de alguns países e governos que lhes fornecem equipamento militar, munição e várias armas."
O marechal Khalifa Haftar, apoiado, entre outros, pelo Egito e Emirados Árabes Unidos, desencadeou em abril uma ofensiva em direção à capital Tripoli, onde está sediado o GNA, de Fayez al-Sarraj. Por sua vez, o GNA saudou o apelo para uma trégua, mas sem indicar que posição iria adotar.
Refugiados em Tripoli
Enquanto isso, na capital, Trípoli, edifícios em ruínas servem de abrigo para as famílias de refugiados. Desde abril, data do início da ofensiva de Khalifa Haftar, mais de 140 mil líbios fugiram dos conflitos.
Líbia: Rejeitado cessar-fogo proposto por Rússia e Turquia
"Os mísseis destruíram as nossas casas, partiram janelas. Foi terrível. O meu filho, com problemas de coração, chorou e desmaiou.", conta Samira Ali, uma das refugiadas.
A Líbia é uma importante rota de migração para a Europa. O conflito no país tem, cada vez mais, envolvido atores internacionais, com esforços diplomáticos para tentar impedir que a Líbia se torne uma "segunda Síria".
O chamado "Processo de Berlim", uma iniciativa da Líbia, do Governo alemão e das Nações Unidas, existe desde setembro. Também está prevista uma cimeira para janeiro, na capital alemã, sem uma data fixa.
Recentemente, o Parlamento líbio - que não reconhece a legitimidade do Governo de Acordo Nacional - votou no fim das das relações com a Turquia, depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter enviado soldados para a Líbia para apoiar o GNA de Triplo contra a ofensiva do marechal Khalifa Haftar.
A chanceler alemã, Angela Merkel, também deverá conversar com o Presidente russo, Vladimir Putin, sobre a Líbia durante a sua visita a Moscovo, este sábado (11.01).
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.