Guiné-Conacri: Líder da junta anuncia dissolução do Governo
AFP | Lusa | EFE
20 de fevereiro de 2024
O líder da junta militar que governa a Guiné-Conacri anunciou a dissolução do Governo em funções desde julho de 2022, segundo um vídeo publicado esta segunda-feira (19.02) na página do Facebook da Presidência do país.
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"O Governo foi dissolvido", anunciou o porta-voz da junta, general Amara Camara, perante cerca de duas dezenas de militares fardados, alguns dos quais armados.
"Os assuntos correntes serão geridos pelos diretores de gabinete, secretários-gerais e secretários-gerais adjuntos até à formação de um novo Governo", acrescentou o general, que não deu qualquer razão para a dissolução do Governo que tomou o poder em 2022, nem uma data para o anúncio de um novo executivo.
O decreto, que implica a demissão do primeiro-ministro, Bernard Goumou, e de toda a sua equipa ministerial, cria incertezas sobre a transição depois de a junta militar ter anunciado, em 31 de dezembro do ano passado, que seria realizado um referendo este ano para aprovar uma nova constituição, teoricamente uma etapa adicional no processo.
O principal bloco económico e político da região, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), tem pressionado a junta, uma das várias existentes na África Ocidental, para realizar eleições num prazo aceitável e restabelecer o regime civil.
Persegução da oposição
A junta, chefiada pelo coronel Mamadi Doumbouya, que assumiu o poder no final de setembro de 2021, concordou, sob pressão internacional, em entregar o poder a civis eleitos até ao final de 2024.
Os militares afirmaram que o "período de transição" lhes permitiria levar a cabo reformas de grande alcance no país, que continua a ser pobre apesar dos consideráveis recursos naturais. Mas a oposição acusou-os de autoritarismo.
A junta proibiu todas as manifestações desde 2022 e mandou prender e processar vários líderes da oposição, membros da sociedade civil e jornalistas.
Desde a tomada do poder pelos militares, dezenas de pessoas foram mortas na repressão pelas forças de segurança, que respondem aos protestos contra o golpe com gás lacrimogêneo e até mesmo munição real.
O decreto de dissolução do Governo do primeiro-ministro Bernard Goumou é assinado numa altura de dificuldades para este país da África Ocidental, que faz fronteira, a sul, com a Guiné-Bissau, devido ao encarecimento do custo de vida, à falta de energia elétrica e às restrições de internet e comunicação social privada.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.