RENAMO quer esclarecimento da morte de Sofrimento Matequenha
Leonel Matias (Maputo)
29 de dezembro de 2020
RENAMO exige uma investigação ao rapto, tortura e morte do ex-deputado Sofrimento Matequenha. Líder do partido, Ossufo Momade, pede uma punição exemplar para os "responsáveis diretos e mandantes destes atos macabros".
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O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) afirmou ter sido com "bastante revolta e consternação" que tomou conhecimento da notícia do recente rapto do antigo deputado do seu partido e delegado político provincial da "perdiz" em Manica, Sofrimento Matequenha.
Ossufo Momade informou que, "numa altura em que aguardávamos pelo esclarecimento deste ato macabro, viemos a saber que o seu corpo foi localizado sem vida, com sinais de tortura, numa mata, em Pindanganga, há cerca de 60 quilómetros do local do seu sequestro".
Numa mensagem por ocasião do final do ano, o líder do maior partido da oposição moçambicana exigiu das autoridades policiais uma investigação para esclarecer o caso e "punir exemplarmente os responsáveis diretos e mandantes destes atos macabros contra moçambicanos, para evitar que continuemos a assistir a situações de impunidade".
Momade cita familiares da vítima como tendo dito que Matequenha foi raptado por agentes da polícia, que o teriam arrastado à força de sua casa para uma viatura da corporação, que arrancou a alta velocidade para local desconhecido. No entantno, na segunda-feira (28.12), o chefe do departamento de Relações Públicas da polícia em Manica, Mário Arnaça, disse a jornalistas que há "fortes indícios" de que os raptores pertençam à Junta Militar da RENAMO.
Arnaça informou que as autoridades de Manica ordenaram a exumação do corpo para perícia.
O corpo foi encontrado na quinta-feira passada (24.12), mais de uma semana depois de ter sido raptado, num local que regista uma forte presença militar e ataques da autoproclamada Junta Militar da RENAMO, no distrito de Gondola.
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Ataques da Junta Militar
No balanço do ano, Ossufo Momade condenou ainda os ataques da autoproclamada Junta Militar no centro do país e de alegados grupos jihadistas na província nortenha de Cabo Delgado.
Para Momade, "a barbaridade dos insurgentes e da Junta Militar é uma afronta ao Estado moçambicano". O líder da RENAMO disse que "as Forças de Defesa e Segurança devem continuar a desempenhar o seu papel de proteger e de manter a ordem e segurança públicas".
O político não fez qualquer referência ao cessar-fogo unilateral declarado na última semana pelo líder da Junta Militar, Mariano Nhongo, alegadamente para dar lugar ao diálogo com o Governo, mas apelou ao grupo dissidente para aderir ao atual processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR) da força residual da RENAMO.
Progressos do DDR
Por outro lado, Momade afirmou que, neste ano prestes a terminar, houve sinais muito significativos no processo de DDR rumo à pacificação do país.
Até ao momento, segundo Momade, "foram desmobilizados cerca de 1.509 [combatentes], dos quais 142 são do destacamento feminino, num universo de 5.221 combatentes da RENAMO".
O líder da RENAMO lembrou que a violência armada que o país regista associada à Covid-19 agravou a já difícil situação dos moçambicanos.
Ossufo Momade desejou, para 2021, que "Moçambique tenha uma paz efetiva, haja paz nacional e nas famílias" e garantiu que, no próximo ano, a RENAMO "não baixará a guarda no combate contra a corrupção, o clientelismo, o nepotismo, a partidarização do Estado, a intolerância política e outros males que minam a harmonia social".
15 momentos que marcaram o "annus horribilis" de 2020
2020 ficará para sempre conhecido como o ano da pandemia de Covid-19. Entretanto, foi também marcado por momentos-chave a vários níveis - desde a morte de George Floyd, nos EUA, às manifestações em Angola.
Foto: Jacob King/REUTERS
Isabel dos Santos e o caso "Luanda Leaks"
Em janeiro, a empresária angolana foi constituída arguida por alegado desvio de fundos na petrolífera estatal Sonangol. Ao longo do ano, teve arrestadas as suas contas bancárias e participações da NOS em Portugal, testemunhou a nacionalização da sua parte na Efacec e, ainda, viu o hacker português Rui Pinto - fonte dos documentos que levaram ao "Luanda Leaks" - aguardar o julgamento em liberdade.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel
Sissoco Embaló: Tomada de posse "simbólica"
Em fevereiro, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. Estava ainda em curso um contencioso eleitoral interposto pelo opositor Domingos Simões Pereira, que apelidou a tomada de posse de "golpe de Estado". O novo Presidente demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, nomeando o novo Executivo do primeiro-ministro Nuno Nabiam.
Foto: DW/I. Dansó
OMS declara pandemia de Covid-19
Todos os PALOP entraram em estado de emergência depois da declaração da Organização Mundial da Saúde, em março. A pandemia levou ao adiamento de vários eventos mundiais, como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Africano das Nações (CAN). Em abril, mais da metade da população mundial estava confinada em casa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Gonchar
"I can't breathe": A morte de George Floyd
O afro-americano morreu em maio nos EUA, sufocado por um polícia que colocou o joelho sobre o seu pescoço durante durante 8 minutos e 46 segundos. A frase "I can't breathe" ("Não consigo respirar"), proferida por Floyd antes de morrer, tornou-se viral. A morte motivou protestos antirracismo em todo o mundo, levou à vandalização de estátuas coloniais e impulsionou o movimento Black Lives Matter.
Foto: Getty Images/S. Maturen
"Perseguição política" na Guiné-Bissau
Em maio, o deputado Marciano Indi foi sequestrado após ter expressado opiniões que terão desagradado ao Presidente guineense. O ano ficou também marcado pelo rapto e sequestro de vários ativistas, alegadamente por seguranças de Sissoco Embaló. A agitação política levou o ex-primeiro-ministro Aristides Gomes (na foto) a refugiar-se na sede da ONU em Bissau. Gomes fala em "perseguição política".
Foto: DW/B. Darame
Cabo Verde processado por violação dos direitos humanos
O empresário Alex Saab foi detido na ilha do Sal, em junho, mediante mandado de captura dos EUA, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Saab denunciou ter sido torturado na prisão a mando dos EUA. Pela primeira vez, Cabo Verde foi processado por violar direitos humanos no seu território. Em dezembro, a CEDEAO ordenou a prisão domiciliária do colombiano.
Foto: Governo de Cabo Verde
Moção de censura contra Governo de STP
Em julho, o principal partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), apresentou uma moção de censura contra o Governo do primeiro-ministro Jorge Bom Jesus. A gestão dos fundos contra a Covid-19 foi um dos motivos apresentados pela ADI, que acusou ainda o Executivo de agir com "práticas sistemáticas de ilegalidades". A moção foi rejeitada pelo Parlamento são-tomense.
Foto: DW/R. Graça
Tragédia em Beirute
Em agosto, uma explosão no porto de Beirute, provocada por 2,7 toneladas de nitrato de amónio, devastou grande parte da capital libanesa, provocando mais de 200 mortos e 6.500 feridos. A carga de amónio era uma encomenda da Fábrica de Explosivos de Moçambique e tinha como destino o porto da Beira. Contudo, o navio ficou retido em Beirute por ordem das autoridades locais e a carga foi substituída.
Foto: Getty Images/AFP/STR
"Zenu" condenado no caso "500 milhões"
O filho dos ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, José Filomeno 'Zenu' dos Santos, foi condenado em agosto a cinco anos de prisão por crimes de burla e defraudação, peculato e tráfico de influências. Em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do banco central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres.
Foto: Grayling
Luta contra a corrupção continua em Angola
Ainda este ano, o empresário Carlos São Vicente ficou em prisão preventiva e o ex-ministro da Comunicação Social Manuel Rabelais (na foto) começou a ser julgado. Ambos são acusados de peculato e branqueamento de capitais. Por outro lado, Edeltrudes Costa, diretor de Gabinete do Presidente João Lourenço, não é alvo de qualquer processo, apesar de alegado envolvimento em escândalos de corrupção.
Foto: Imago/Xinhua
Incêndio na redação do Canal de Moçambique
O editor-executivo do semanário classificou o incêndio ocorrido em agosto nos escritórios do Canal de Moçambique como "atentado terrorista contra liberdade de expressão e de imprensa", acrescentando que "uns são raptados e outros são intimidados". Matias Guente refere-se, por exemplo, ao caso do jornalista Ibrahimo Mbaruco, desaparecido desde abril na província nortenha de Cabo Delgado.
Foto: Adriano Nuvunga/CDD
EI diz ter tomado porto de Mocímboa da Praia
A 11 de agosto, um grupo de homens armados anunciou a tomada do porto da vila de Mocímboa da Praia. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ataque. O número de deslocados da província nortenha de Cabo Delgado escalou exponenciamente. Em dezembro, o Governo moçambicano anunciou que pelo menos 560 mil cidadãos tiveram de fugir do conflito.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Biden vence eleições norte-americanas
Novembro foi o mês em que Donald Trump sofreu a derrota nas presidenciais dos EUA. Mas o republicano queixou-se sucessivamente de fraude eleitoral, sem apresentar provas. A Casa Branca terá novos ocupantes: Joe Biden e Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-Presidente dos EUA. Filha de pai jamaicano e de mãe indiana, Harris será também a primeira mulher negra a ocupar o posto.
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Dia da Independência em Angola marcado por manifestações
O dia 11 de novembro foi o mais intenso das manifestações por melhores condições de vida e pela realização das primeiras eleições autárquicas em Angola. A polícia reprimiu o protesto violentamente. A morte do jovem manifestante Inocêncio Matos gerou indignação. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo o ativista Nito Alves. Luaty Beirão e outros ativistas foram detidos.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Covid-19: A corrida da vacina
O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada pela primeira vez em dezembro. A primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 foi uma mulher britânica de 90 anos (na foto). O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V, numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.