Burkina Faso: Líder do golpe de Estado investido Presidente
Lusa
16 de fevereiro de 2022
O tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba foi hoje investido Presidente do Burkina Faso, três semanas após tomar o poder num golpe de Estado. Nenhum representante estrangeiro assistiu à cerimónia de tomada de posse.
Publicidade
"Juro perante o povo burquinabê preservar, respeitar, fazer respeitar e defender a Constituição, o ato fundamental e as leis" do Burkina Faso, disse Damiba, ao assumir o cargo perante o Conselho Constitucional, numa cerimónia transmitida pela televisão nacional.
Nenhum representante estrangeiro assistiu à cerimónia de posse, que decorreu numa pequena sala do Conselho Constitucional onde apenas foi admitida a imprensa oficial do país.
Segundo a AFP, horas antes da cerimónia o acesso ao Conselho estava condicionado por um forte dispositivo de segurança, colocado num raio de 100 metros da sede da instituição, em Ouagadougou.
Damiba, de 41 anos, tomou o poder no Burkina Faso em 24 de janeiro, após dois dias de motins nas casernas do país, derrubando o Presidente eleito, Roch Marc Christian Kaboré, acusado de não ter posto fim à violência terrorista que atinge o país há sete anos.
Desde então, constituiu uma junta militar, chamada Movimento Patriótico para a Salvaguarda e a Restauração (MPSR), cuja prioridade é "a segurança".
Espiral de violência
Na senda do Mali e do Níger, o Burkina Faso está desde 2015 envolvido numa espiral de violência atribuída a movimentos terroristas, filiados na Al-Qaida e no grupo extremista Estado Islâmico, que fez mais de 2.000 mortos no país e levou pelo menos 1,5 milhões de pessoas a abandonar as suas casas.
18 meses de golpes e tentativas de golpe na África Ocidental
07:57
Durante a cerimónia de hoje foi observado um minuto de silêncio em memória das vítimas civis e militares dos atos terroristas.
Suspenso das instâncias da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o Burkina Faso e os membros da junta foram até agora poupados a outras sanções.
Uma missão ministerial da África ocidental que visitou Ouagadougou mostrou-se satisfeita por Damiba estar "aberto" ao diálogo.
A CEDEAOe a União Africana pediram à junta um calendário "razoável" para o "regresso à ordem constitucional" e a libertação do Presidente deposto, que ainda se encontra em prisão domiciliária.
No seu único discurso público, três dias após o golpe, Damiba afirmou precisar de parceiros internacionais.
Publicidade
Retirada do Mali
A cerimónia de posse de hoje ocorre horas antes de França e os seus parceiros europeus anunciarem a sua retirada do vizinho Mali, devido à atitude hostil dos soldados no poder em Bamako, também resultante de um golpe de Estado.
Paris quer, no entanto, continuar a luta anti-terrorista na região e o Níger, assim como outros países da região, deve desempenhar um papel de liderança na reorganização desta luta.
O tenente-coronel Damiba não se posicionou sobre o compromisso militar francês e europeu no Sahel, mas, desde que está no poder, a força francesa Barkhane conseguiu realizar operações anti-terroristas no país.
Num livro publicado em 2021, Damiba criticou as políticas de combate ao terrorismo, considerando os exércitos locais muito fracos e os parceiros ocidentais "necessários", mas "dissimulados".
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.