Líderes africanos na China à procura de mais investimentos
Lusa | tms
2 de setembro de 2018
A partir desta segunda-feira (03.09), líderes de países africanos, incluindo os de língua portuguesa, reúnem-se em Pequim no Fórum de Cooperação China-África. Vão tratar de relações bilaterais e mais investimentos.
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A terceira edição do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) deverá juntar em Pequim, entre esta segunda e terça-feira (03 e 04 de setembro), dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano, incluindo os de língua portuguesa.
A cimeira contará com três novos países: São Tomé e Príncipe, Burkina Faso e a Gâmbia, que elevam assim para 53 o número de nações africanas com relações com a China.
Angola vai estar representada ao mais alto nível no FOCAC, com uma comitiva liderada pelo Presidente João Lourenço, que terá um encontro com o seu homólogo chinês, Xi Jinping. Luanda espera o culminar das negociações para uma nova linha de crédito chinês de 11 mil milhões de euros, para financiar vários projetos.
Entre eles está a negociação dos termos para um empréstimo de 1.282 milhões de dólares (1.098 milhões de euros), montante destinado a pagar até 85% do valor do contrato para a concepção, construção e acabamento do novo aeroporto internacional da capital de Angola, que está a ser construído a 30 quilómetros de Luanda por várias empresas chinesas.
O chefe de Estado moçambicano também estará em Pequim para, junto com ministros e empresários do seu país, participar no FOCAC. Já neste domingo (02.09), Moçambique sedia na capital chinesa, à margem do fórum de cooperação, um encontro de empresarial, no qual deverão ser assinados uma série de memorandos de parcerias.
À procura de recursos
A Guiné-Bissau será representada pelo Presidente José Mário Vaz, que deverá solicitar ao Governo chinês recursos para o setor da agricultura. Outros pontos da agenda guineense serão as pescas, o turismo, as infraestruturas e os minérios.
A delegação cabo-verdiana, liderada pelo primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, é composta por uma série de ministros. No fórum de cooperação, Cabo Verde pretende avançar as negociações para a criação da Zona Económica Especial Marítima em São Vicente, um projeto que a China já manifestou intenção de financiar.
São Tomé e Príncipe estreia-se em Pequim, para onde viajou o primeiro-ministro Patrice Trovoada. O Governo são-tomense leva na bagagem um projeto para a construção de 300 apartamentos para funcionários públicos e espera conseguir investimento chinês.
"Durante a minha estadia, um dos ministros que me acompanha irá assinar alguns acordos, um dos quais tem a ver com o projeto de construção de blocos de apartamentos para os funcionários públicos", explicou o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe.
Relações e investimentos
A importância da participação dos países africanos de língua portuguesa no Fórum China-África "deve ser avaliada no contexto das relações bilaterais" que estes mantêm com Pequim, disse à agência Lusa a secretária-geral adjunta do Fórum de Macau.
Em causa, enuncia Glória Batalha, está a participação de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, o estreante, São Tomé e Príncipe, os cinco países africanos entre os oito que fazem parte do Fórum de Macau, uma plataforma de cooperação multilateral entre a China e os países de língua portuguesa.
Em quase duas décadas, as relações comerciais dos países de língua portuguesa com a China registaram um aumento significativo. O investimento direto da China nos países lusófonos passou de 56 milhões de dólares em 2003 (48,3 milhões de euros), para cerca de 5,7 mil milhões de dólares em 2016 (4,9 mil milhões de euros), sendo que o investimento total da China nestes países é de 50 mil milhões de dólares (43,1 mil milhões de euros).
Desde 2015, a média anual do investimento direto da China em todo o continente fixou-se em três mil milhões dólares (2,5 mil milhões de euros), com destaque para novos setores como indústria, finanças, turismo e aviação.
O primeiro Fórum de Cooperação China-África aconteceu em Pequim, em 2006, e a segunda edição decorreu na África do Sul, em 2015.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
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De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.