Líderes mundiais preocupados com a situação no Afeganistão
Lusa | af
5 de setembro de 2021
António Guterres, Angela Merkel e Papa Francisco manifestam preocupados com a situação humanitária no Afeganistão, depois da retirada das tropas americanas do país, e pedem a proteção das pessoas vulneráveis.
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Quase uma semana depois da retirada total das tropas americanos, a crise instalada no Afeganistão, com a tomada do poder pelos talibãs, vários líderes mundiais continuam a manifestar a sua preocupação com a deterioração a situação dos direitos humanos no país.
Neste fim de semana, numa carta enviada ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, o secretário-geral organização, António Guterres, exortou todos os afegãos a pararem de imediato com a violência no país.
"Apelo ao fim imediato da violência, ao respeito pela segurança e pelos direitos de todos os afegãos e ao cumprimento das obrigações internacionais do Afeganistão, incluindo todos os acordos internacionais a que o país aderiu", escreveu Guterres num documento citado este domingo (05.09) pela agência de notícias francesa AFP.
Guterres exige que os talibãs e todas as outras partes apresentem "provas da máxima contenção para a proteção de vidas e para garantir a satisfação das necessidades humanitárias".
Diálogo com os talibãs
Por seu turno, a chanceler alemã Angela Merkel apelou em conferência de imprensa este domingo (05.09), ao diálogo com os talibãs.
"Devemos todos dialogar com os talibãs sobre como podemos retirar do país as pessoas que trabalharam para a Alemanha e trazê-las para um lugar seguro", exortou a chanceler.
Para a Merkel esta dialogar com os talibãs é única forma de conseguir retirar do Afeganistão "as pessoas que precisam de proteção", destacando os colaboradores de organizações humanitárias.
"Claro que temos de falar com eles, porque agora são eles a quem devemos nos dirigir", afirmou a dirigente alemã, que falava à imprensa durante uma visita a uma das regiões afetadas pelas recentes inundações que atingiram o oeste do país.
Os talibãs devem anunciar o novo governo no Afeganistão, a fim de continuarem as evacuações de Cabul.
Acolhimento aos que procuram refúgio
Também neste domingo (05.09), o Papa Francisco pediu aos países para que "abram as mãos” e acolham os afegãos que procuram refúgio "nestes momentos turbulentos".
"Rezo pelos mais vulneráveis, para que muitos países acolham e protejam quem busca uma vida nova e também oro pelos deslocados internos, para que recebam a assistência e proteção necessárias", disse Francisco, após a celebração dominical do Angelus.
O Papa desejou ainda que "os jovens afegãos recebam educação, essencial para o desenvolvimento humano" e que "todos os afegãos, tanto em casa como em trânsito ou nos países de acolhimento, vivam com dignidade, em paz e fraternidade com seus vizinhos".
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Risco de agravamento da crise humanitária
Várias organizações de direitos humanos alertaram neste domingo (05.09) para a crise humanitária que se vive no Afeganistão, agravada pela falta de um novo governo estável no país depois de os talibãs terem assumido o poder a 15 de agosto.
"Depois de três semanas, todo o sistema no Afeganistão está paralisado. Os talibãs não têm capacidade e conhecimento para liderar um país, eles pensaram que o Afeganistão é o mesmo de 1996, quando assumiram o poder, mas não é", disse hoje a vice-diretora regional da Amnistia Internacional, Samira Hamidi, na sua conta da rede social Twitter.
A ativista afirmou que o país vive uma grave crise humanitária com civis sem trabalho e sem salário, tendo muitos deles de vender os seus pertences para comprar alimentos que logo se tornarão "escassos".
Os bancos abrem com um fluxo limitado de crédito, havendo dezenas de filas, afirmou, acrescentando que apesar da reabertura de casas de câmbio, como a Western Union ou a Money Gram, os bancos não têm dinheiro para realizar transações.
Com a retirada total das tropas dos EUA do Afeganistão, defensores dos direitos humanos, ativistas, jornalistas e outras pessoas estão em risco e temem represálias dos talibãs, sublinhou.
Além disso, Samira Hamidi reforçou que a comunidade internacional ainda não confirmou se vai garantir a evacuação segura das pessoas que estão em risco no país.
Afegãos tentam fugir após regresso dos talibãs ao poder
Centenas de pessoas estão a tentar fugir do Afeganistão, depois da invasão da capital pelos talibãs. Potências ocidentais retiraram civis do aeroporto de Cabul, uma vez que os voos comerciais foram interrompidos.
Foto: AFP/Getty Images
Multidão no aeroporto de Cabul
O principal aeroporto de Cabul, Hamid Karzai, em homenagem ao primeiro Presidente do país logo depois do derrube dos talibãs, acolheu esta segunda-feira (16.08) multidões de pessoas desesperadas a fugir dos talibãs. Também as potências ocidentais corriam para evacuar pequenos grupos de pessoas, principalmente os seus compatriotas, mas também alguns funcionários locais.
Foto: AFP/Getty Images
Os talibãs tomaram o palácio presidencial
Depois da queda da capital, Cabul, os talibãs tomaram o palácio presidencial no domingo (15.08). As imagens mostram os comandantes e soldados sentados no palácio, onde declararam vitória contra as forças governamentais.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Medo do Governo islâmico
Muitos receiam a linha dura dos talibãs, que afirmaram que não se vingariam dos que ajudaram a aliança apoiada pelos EUA. Mulheres e crianças foram proibidas de estudar durante o anterior regime talibã. Os afegãos trataram logo de esconder imagens que podem desagradar os fundamentalistas.
Foto: Kyodo/picture alliance
Atravessar a fronteira para o Paquistão
Enquanto o aeroporto Hamid Karzai rebenta pelas costuras, com multidões à espera de deixar o país, outros cruzam as fronteiras para o Paquistão. O ministro do Interior do Paquistão, Sheikh Rashid Ahmed, disse à DW que o seu Governo fechou as fronteiras de Torkham com o Afeganistão, encerrando assim a última grande rota terrestre para fora do país.
Foto: Jafar Khan/AP/picture alliance
Os talibãs retornam depois da retirada dos EUA
Os EUA e os seus aliados entraram no Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA e derrubaram os talibãs. Como o conflito de 20 anos chegou ao fim com a retirada abrupta das tropas dos EUA e da NATO, as forças do Governo rapidamente entraram em colapso porque não tinham apoios.
Foto: Hoshang Hashimi/AP Photo/picture alliance
Quem é o líder talibã?
Os talibãs governaram o país em 1996 e 2001 e impuseram uma interpretação estrita da lei islâmica sharia. O movimento foi fundado sob a liderança do Mullah Omar, que tem um olho só. Haibatullah Akhundzada é agora o líder máximo, enquanto co-fundador Mullah Baradar, na imagem, lidera a ala política.
Foto: Social Media/REUTERS
Os talibãs erguem a sua bandeira
Os talibãs dizem-se prontos para controlar o país. "Estamos prontos para dialogar com todas as figuras afegãs e vamos garantir-lhes a proteção necessária", disse o porta-voz do gabinete político, Mohammad Naeem, à Al Jazeera.
Foto: Gulabuddin Amiri/AP/picture alliance
Muheres e crianças em risco
Suspeita-se que mulheres e crianças afegãs deverão sofrer sob a liderança do regime talibã.
Foto: Paula Bronstein/Getty Images
Presidente Ghani deixou o país
O Presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, deixou o país a 15 de agosto. "Para evitar o derramamento de sangue, achei melhor sair", disse Ghani, mas ressaltou que continuará a lutar pelo país.
Foto: Rahmat Gul/AP Photo/picture alliance
Ex-Presidente Karzai pede paz
Os líderes criaram um conselho para se reunirem com os talibãs e gerirem a transferência do poder. O ex-Presidente Hamid Karzai, parte do conselho, diz que a iniciativa visa "visa reduzir o caos e o sofrimento da população" e para administrar a paz e a "transferência pacífica".
Foto: Mariam Zuhaib/AP Photo/picture alliance
Potências ocidentais evacuam os seus compatriotas
A Alemanha enviou aviões militares para ajudar na evacuação do Afeganistão, após fechar a embaixada em Cabul. Os EUA, Grã-Bretanha e Arábia Saudita também estão a evacuar forças, diplomatas e outras autoridades do país.
Foto: Moritz Frankenberg/dpa/picture alliance
Protestos nos EUA
Nos EUA, muitas pessoas manifestaram-se diante da Casa Branca, no fim de semana, a favor da paz no Afeganistão. O almirante Mike Mullen disse que os EUA e os seus aliados "subestimaram o impacto de um Governo corrupto". E acrescentou: "Acabamos de chegar longe demais, as expetativas eram muito altas e foi uma ponte muito longe para chegar onde pensávamos que queríamos ir."