Líderes religiosos apelam à paz no centro de Moçambique
Bernardo Jequete (Chimoio)
22 de novembro de 2019
As Igrejas Cristãs e o Conselho Islâmico no centro de Moçambique apelam ao fim dos ataques a civis nas estradas daquela região. E pedem ao Governo que ajude a reintegrar os guerrilheiros da RENAMO na sociedade.
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Os líderes religiosos das províncias de Manica, Sofala e Tete condenam com veemência os ataques a civis nas estradas do centro de Moçambique. Os episódios de violência atribuídos ao braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) têm sido cada vez mais frequentes e visam viaturas de passageiros e camiões de longo curso que circulam naquela zona. Os ataques já fizeram dezenas de mortos e feridos.
Eduardo Tivane, delegado do Conselho Cristão na província de Sofala, desafia os homens armados a pararem com os ataques, porque o povo não tem culpa.
"Apelamos a todos aqueles que vivem de forma diferente, com uma forma de pensar diferente, para virem construir e consolidar esta paz", diz Tivane. O delegado do Conselho Cristão apela ainda ao Governo para negociar com os atacantes: "Vamos fazer o possível, de modo a que estas pessoas que estão ainda a conviver com armas se libertem e vivam com os seus progenitores".
Reintegração social
Somar Salé, delegado do Conselho Islâmico na província de Tete, condena a atitude dos atacantes e lembra que eles têm espaço na sociedade.
O líder islâmico desafia igualmente os homens armados a abandonarem as matas e reintegrarem-se na sociedade. "Os nossos irmãos que estão nas matas têm espaço, como todo o moçambicano tem espaço, para seguir socialmente e contribuir para o desenvolvimento de Moçambique".
Entretanto, Pereira Creva Gama, presidente do Encontro Fraternal das Igrejas da província de Manica e do ponto focal do "Clube da Paz", disse que os líderes têm estado a orar pelo fim da violência."É preciso desarmar a mente do militar para ele se integrar na vida civil e na vida social na comunidade".
Líderes religiosos apelam à paz no centro de Moçambique
O responsável fez saber ainda que o "Clube da Paz" está a traçar estratégias visando "desarmar as mentes" dos guerrilheiros da RENAMO para a sua reintegração na sociedade. Entre os planos da organização está a sensibilização das comunidades para conviver com os guerrilheiros que baixarem as armas.
O centro de Moçambique foi historicamente palco de confrontos entre as forças governamentais e o braço armado da RENAMO. Mas, em agosto deste ano, a paz foi selada através de um acordo.
No entanto, permanecem na zona guerrilheiros, em número incerto, que formaram a chamada "Junta Militar" da RENAMO, que contesta a liderança de Ossufo Momade e defende a renegociação do seu desarmamento e reintegração na sociedade.
Zonas de guerra transformadas em locais de desenvolvimento
Regiões da província de Maputo testemunharam ataques e mortes durante a guerra civil em Moçambique. Antigos cenários de guerra tornam-se hoje palco para o desenvolvimento local do comércio e da indústria.
Foto: DW/R. da Silva
Um passado de mortes
A região onde fica a aldeia 3 de Fevereiro, a norte da província de Maputo, foi a mais dilacerada pela guerra civil. Na altura, a imprensa tinha como manchetes para as suas capas o sofrimento dos residentes desta região. Não há números exatos, mas houve muitas mortes na sequência de ataques atribuídos à Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o atual maior partido da oposição.
Foto: DW/R. da Silva
A escola mais atacada
Este estabelecimento de ensino, construído na época colonial, dedicava-se à formação de professores africanos. Durante a guerra civil, foram reportados ataques e os alunos muitas vezes deslocavam-se à vila da Manhiça. Hoje, a escola é a sede do Instituto Médio Politécnico Alvor.
Foto: DW/R. da Silva
Abrigo para os fugitivos
Esta varanda já tinha donos: os deslocados dos arredores da vila da Manhiça encontravam neste lugar o mais seguro apenas para passar a noite. A varanda foi atacada algumas vezes, o que os desesperou. Hoje, como se pode notar, no local há estabelecimentos comerciais.
Foto: DW/R. da Silva
Marcas da guerra
Há zonas, como Magude, cujos edifícios nunca mereceram reabilitações que possam fazer esquecer as marcas da guerra. Este edifício faz parte da missão católica de Magude, que foi atacado durante a guerra, e que nunca mais conheceu uma reabilitação.
Foto: DW/R. da Silva
Única entrada, única saída
Esta é uma ponte que desperta curiosidade aos que pela primeira vez visitam a vila de Magude. Pela mesma ponte passam peões, motociclistas, viaturas e locomotivas. Por baixo, passa o rio Inkomati, que não impedia ataques durante a guerra a esta pequena vila.
Foto: DW/R. da Silva
Repovoamento de animais
O distrito de Magude localiza-se mais a nordeste da província de Maputo. Esta zona foi severamente afetada pela guerra e a população bovina baixou drasticamente. Mas agora, com projetos de repovoamento destes animais, Magude é dos maiores produtores de carne na província.
Foto: DW/R. da Silva
Isolamento
O distrito de Magude é um dos mais isolados da província de Maputo. O seu desenvolvimento está a ser muito lento, apesar de a guerra ter terminado há mais de 20 anos. Falta muita coisa por melhorar. Esta loja, por exemplo, ainda apresenta marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Coluna militar
A guerra abateu-se muito sobre Maluana. Este posto administrativo do distrito de Manhiça ficou conhecido pelos ataques que sofria. A coluna militar era a única que ajudava as pessoas a passar por esta zona. Pouco depois da guerra, as marcas eram ainda visíveis - como carcaças de viaturas queimadas. Agora, está a registar um desenvolvimento, com o comércio informal a ganhar força.
Foto: DW/R. da Silva
Centro de tecnologias
O Governo de Moçambique criou um centro de tecnologias nesta região severamente afetada pela guerra, o que antes era impensável. É um edifício que foi instalado no meio da mata, precisamente numa estrada de terra que dá acesso ao centro de formação de militares de Munguine, mais a leste da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
De cenário de guerra a pólo económico
A região de Bobole, no distrito de Marracuene, também foi uma zona de guerra. Aliás, as atrocidades começavam nesta região e o cenário era de "cada um por si e Deus por todos". As colunas militares começavam ou descansavam neste ponto. Hoje, a multinacional Heineken instalou aqui a sua empresa e Bobole está a ter novo rosto económico.
Foto: DW/R. da Silva
Estância turística
Esta é a entrada para a aldeia de Taninga. Tal como a 3 de Fevereiro, esta aldeia testemunhava frequentemente mortes e muitos dos residentes destas duas aldeias vizinhas acabaram por se refugiar na vila da Manhiça e outros na cidade de Maputo. Hoje, há uma estância turística que faz esquecer as marcas da guerra.
Foto: DW/R. da Silva
Proteção dos corredores ferroviários
Os que viveram os momentos de instabilidade e que precisavam frequentemente se deslocar contam que o comboio de passageiros era igualmente atacado. O corredor do Limpopo era crucial para o transporte de mercadorias para países vizinhos. A RENAMO e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) acabaram por assinar um acordo para não atacar corredores ferroviários de todo o país.