1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Língua portuguesa: acordo ortográfico a várias velocidades

João Carlos (Lisboa)7 de janeiro de 2015

A implementação do Acordo Ortográfico, que visa a uniformização da escrita em língua portuguesa, decorre a várias velocidades e a um ritmo lento. O acordo ainda conta com muitas vozes opositoras.

Logo CPLP
Foto: CPLP

Se em Portugal a nova grafia vai entrando timidamente no hábito dos cidadãos e das instituições, em países como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, o processo ainda está atrasado por fatores diversos, entre os quais - sobretudo - os de ordem logística e financeira.

Segundo Madalena Arroja,diretora de Serviços de Língua e Cultura do Instituto Camões a uniformização da grafia, conforme o Acordo Ortográfico de 1990, é fundamental para a promoção da língua portuguesa a nível internacional, mas também é imprescindível nos sistemas de ensino nos países lusófonos. Madalena Arroja salienta que "todos os países são soberanos e quando assinam um acordo é para trazer vantagens" e conclui: "Para os alunos é mais fácil ter uma norma do que estar a trabalhar com duas normas em termos de escrita."

Atrasos devem-se a fatores económicos

Nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) tem sido lento o processo logístico para a aplicação do acordo. As razões são várias, sensíveis até, mas sobretudo de natureza financeira.

Novo acordo ortográfico não agrada a todos. Na foto: sopa de letras.Foto: AP

Segundo Marisa Mendonça, diretora executiva do IILP (Instituto Internacional de Língua Portuguesa) "há que respeitar aquilo que são as vontades nacionais. Os países têm registos de índices económicos e de desenvolvimento diferenciados. Não sabemos quanto tempo será dado para a adoção de uma nova grafia. Depende de uma série de elementos que se prendem fundamentalmente com a parte económica."

Países africanos devem coordenar as suas políticas de língua

Entidades como o IILP acreditam que muito em breve os países africanos possam avançar, de forma articulada, para a entrada em vigor do acordo. Em Portugal, as novas regras estão a ser aplicadas sem atropelos, disse à DW o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, à margem de um seminário (decorrido a 5 de janeiro de 2015) para a apresentação da Ação Cultural Externa portuguesa em 2015, que terá como um dos focos os 40 anos das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

O governante português recorda que "a língua portuguesa é sem dúvida um dos elementos mais relevantes da comunidade" e conclui:"Esperamos que possa ser valorizada no futuro, para além do que tem sido."

"Língua portuguesa dança todas as brisas, mas não perde as suas raízes"

As resistências à implementação do Acordo Ortográfico existem. Nem todos os jornais aplicam as novas regras. Há instituições que ainda usam a ortografia anterior. Recentemente várias individualidades, entre elas a ex-ministra portuguesa da Cultura, Isabel Pires de Lima, subscreveram uma ação judicial popular, apresentada no Supremo Tribunal Administrativo de Lisboa, contra a aplicação do Tratado de 1990 no ensino. Também nos países africanos lusófonos o acordo tem alguns opositores.

Interesses financeiros das editoras contribuem para o atraso na implementação do acordo. Na foto: livraria antiga em Lisboa.Foto: DW/T. Wagner

Madalena Arroja continua, no entanto, convencida, que "mais dia, menos dia os paises vão aderir ao acordo ortográfico." A sua previsão é de que "daqui a alguns anos o português será uma língua mais uniformizada sob o ponto de vista ortográfico."

A diretora de Serviços de Língua e Cultura do Instituto Camões recorda, a propósito, uma imagem do escritor moçambicano Mia Couto, que disse que a língua portuguesa está a evoluir: "A língua portuguesa é veloz, mas é veloz como a palmeira que dança, dança todas as brisas, mas que não arranca as suas raízes do chão."

Segundo Madalena Arroja e Marisa Mendonça, o facto da nova ortografia estar a ser implementada a várias velocidades não afeta a estratégia de promoção e expansão internacional da língua falada por mais de 300 milhões de pessoas.

Os paises lusófonos são diferentes. Une-os a língua comum. Na foto: Ilha de Moçambique.Foto: DW/J.Beck
Saltar a secção Mais sobre este tema