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Leste do Congo Democrático: rebeldes massacram as populações

30 de janeiro de 2012

O leste da República Democrática do Congo parece não encontrar a paz. Nas últimas semanas mais de 100 mil pessoas foram obrigadas a abandonar as suas aldeias. Mulheres foram violadas e crianças fuziladas.

Fabian Havugimana, antigo membro das FDLR, falou à reportagem da DW
Fabian Havugimana, antigo membro das FDLR, falou à reportagem da DWFoto: DW/Simone Schlindwein

Nas florestas densas das províncias de Kivu Norte e Kivu Sul os membros das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, FDLR, fundaram práticamente um Estado dentro do Estado. As milícias hutu cobram impostos e taxas de proteção junto da população local e governam o seu território com recurso a um exército de rebeldes brutais.

Hospitais superlotados com muitos feridos graves

Os hospitais no leste do Congo encontram-se superlotados com feridos em estado grave. Na foto: uma criança baleada pelos rebeldes das FDLR é tratada no hospital de GomaFoto: DW/Simone Schlindwein


Os hospitais no leste do Congo encontram-se superlotados com feridos em estado grave. O hospital central da cidade de Goma é um dos hospitais que recebe diáriamente habitantes das aldeias da região controlada pelas Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, na sigla em francês: "FDLR". Muitos dos membros das milícias estiveram envolvidos no genocídio de 1994 no Ruanda. Na altura cerca de 800 mil tutsis foram mortos. Depois, muitos dos autores dos crimes fugiram para o leste da vizinha República Democrática do Congo. Há 17 anos que massacram a população local.

Lukonge Mwami, chefe comunitário de um grupo de aldeias não muito longe de Goma conta à reportagem da DW África que „os ataques mais crueis aconteceram por altura das eleições" e acrescenta: "eles surpreenderam-nos na manhã de domingo, matando três pessoas. Assim, muitos fugiram e nem puderam votar no dia seguinte. Algumas semanas mais tarde mataram 11 pessoas com catanas e incendiaram cinco aldeias. Pouco antes do Natal decapitaram algumas pessoas e expuseram as suas cabeças em frente da igreja e na praça do mercado. Os 20 mil habitantes da minha freguesia fugiram. 46 pessoas foram mortas. 19 delas foram degoladas."

Estes assassinatos simbólicos das FDLR servem normalmente como aviso à população para não contrariar os rebeldes nem fornecer alimentos a milícias rivais.

Há anos, os exércitos congolês e ruandês tentam desmantelar as FDLR. Foram levadas a cabo operações, mas quase não tiveram sucesso. É certo que alguns dos seus membros foram presos e outros entregaram-se, mas a estrutura do grupo manteve-se. Só quando o líder, Ignace Murwanashyaka, e o seu braço direito, Straton Musoni, foram presos na Alemanha surgiram problemas de liderança entre os rebeldes.

Dirigentes das FDLR foram presos e estão a ser julgados na Alemanha

Ignace Murwanashyaka (na foto), dirigiu as FDLR ao longo de quase 10 anos a partir da Alemanha, mas desde maio de 2011 encontra-se em julgamento por alegados crimes de guerraFoto: picture-alliance/ dpa

O presidente das FDLR, Ignace Murwanashyaka, e o seu vice, Straton Musoni, dirigiram os rebeldes ao longo de quase 10 anos a partir da Alemanha. Ambos chegaram a ter o estatuto de refugiados no país, mas desde maio de 2011, encontram-se em julgamento por alegados crimes de guerra. O processo enfraqueceu as milícias no leste do Congo, mas os últimos acontecimentos na região mostram que quanto mais enfraquecido está o grupo, mais violência emprega contra a população congolesa.

Agora, os governo do Ruanda e do Congo apostam numa nova estratégia: entregaram armas a adolescentes das aldeias das redondezas do quartel general das FDLR. Os jovens conhecem a floresta como as palmas das suas mãos. São as Forças para a Defesa dos Congoleses, FDC. Fabian Havugimana, um dos antigos membros das FDLR, salienta que as FDC também atuam com muita violência e recorda que "as FDC apareceram numa manhã muito cedo, encontraram a cabana do chefe local das FDLR e atiraram naquela direção. Depois incendiaram a cabana. Os jovens das FDC querem vingança."

Tal como Havugimana, dezenas de membros das FDLR fogem diáriamente. Têm medo. Há peritos que já prevêm o desmoronamento do grupo rebelde. Só nas últimas semanas, cerca de 100 mil pessoas fugiram das suas aldeias no leste da República Democrática do Congo. Procuram abrigo em cidades como Goma, Walikale ou Masisi, onde estão estacionados capacetes azuis da ONU.

Autores: Simone Schlindwein / Marta Barroso
Edição: António Cascais / António Rocha

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