Libéria escolhe sucessor da primeira Presidente africana
Martina Schwikowski | tms | Lusa | Reuters
10 de outubro de 2017
Mais de dois milhões de liberianos vão esta terça-feira (10.10) às urnas para eleger um novo Presidente. A votação é um ponto de viragem na história do país. A atual Presidente, Ellen Johnson Sirleaf, não se recandidata.
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Estas são as terceiras eleições desde o final da guerra civil em 2003 e as primeiras sem a Ellen Johnson Sirleaf, a primeira mulher eleita democraticamente Presidente em África e que esteve 12 anos no poder.
A Presidente, que em 2011 foi escolhida como Prémio Nobel da Paz, diz que não quer que a Constituição seja alterada, só para que ela se perpetue no poder. Na véspera das eleições, Ellen Johnson Sirleaf lembrou aos eleitores que o futuro do país está nas mãos deles. "Votem nas pessoas que acreditam tornarão a Libéria um lugar melhor", apelou.
Lista de 20 candidatos
De acordo com a comissão nacional eleitoral, 20 candidatos disputam a presidência. Entre eles está o vice-presidente Joseph Boakai, de 72 anos, que concorre sem o apoio da Presidente. "O nosso partido está unido. O não envolvimento da Presidente não representa desunião", justificou o candidato.
Libéria escolhe sucessor da primeira Presidente africana
Joseph Boakai faz um balanço positivo dos 12 anos de Governo da Presidente, mas reconhece que é preciso melhorar. "Os maiores problemas são a falta de emprego, a reconciliação e problemas de saúde", afirma o vice-presidente, que propõe melhorar a infraestrutura do país se for eleito.
O vice-presidente também promete combater a corrupção. "Penso que há diferentes aspetos de governança, que têm a ver com a administração. A Presidente teve o seu estilo e talvez a corrupção não tenha sido suficientemente combatida, mas garanto que posso lidar com a corrupção".
Ex-jogador e ex-modelo na corrida
Outro candidato é o antigo futebolista e atual senador George Weah, do maior partido da oposição. Em 2005, Weah foi derrotado por Sirleaf nas primeiras eleições democráticas da Libéria. Agora, o candidato aliou-se à senadora Jewel Taylor, ex-mulher do antigo Presidente Charles Taylor - conhecido por promover a guerra civil no país. A senadora é considerada a segunda mulher mais forte na política liberiana e tem um grande número de eleitores.
Também se destaca como candidato nestas presidenciais o advogado Charles Brumskine, que faz parte da terceira maior força política no Congresso e já concorreu nos dois últimos pleitos.
A única candidata mulher nestas eleições é a ex-modelo e ativista dos direitos humanos MacDellaa Cooper.
O novo Presidente da Libéria deverá ser conhecido até 25 de outubro. O próximo chefe de Estado assumirá o controle de uma economia prejudicada pela crise internacional e pela epidemia de ébolaque assolou o país em 2014.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."