Libéria: Weah enfrenta teste em referendo à Constituição
Lusa | bd
6 de dezembro de 2020
Os liberianos deverão decidir em referendo se aprovam alterações à Constituição, um teste ao Presidente George Weah, cujos opositores receiam ser tentado a ignorar o limite de mandatos.
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Os liberianos deverão decidir, na terça-feira (08.12), em referendo se aprovam alterações à Constituição, um teste ao Presidente George Weah, cujos opositores receiam ser tentado a ignorar o limite de mandatos à semelhança de outros líderes da África Ocidental.
Cerca de 2,5 milhões de eleitores estão a ser convidados a decidir se aprovam oito emendas à Constituição de 1986, incluindo uma que reduz o mandato presidencial de seis para cinco anos.
A revisão propõe também encurtar os mandatos dos deputados e senadores de seis para cinco anos e de nove para sete anos, respetivamente. O referendo de 08 de dezembro decorre em simultâneo com eleições intercalares para o senado.
A votação é um teste duplo para o Presidente da República, a antiga estrela do futebol George Weah, de 54 anos, quase três anos após ter suscitado grandes esperanças ao chegar ao poder num marcado pela guerra civil de 1989-2003 e pela epidemia de Ébola que afetou a África Ocidental em 2014-2016.
Desde a sua eleição, a situação económica do país, um dos mais pobres do mundo, agravou-se ainda mais e a popularidade do único africano a ter ganho a Bola de Ouro deteriorou-se significativamente, especialmente entre os jovens que o levaram ao poder.
Weah avançará para um terceiro mandato?
Nos últimos meses circulam rumores de que pretende tirar partido da alteração constitucional para recolocar a contagem de mandatos presidenciais a zero e ir além do limite de dois mandatos, como acabam de fazer os homólogos da Guiné-Conacri e da Costa do Marfim, Alpha Condé e Alassane Ouattara.
"Concorrerá para um terceiro mandato simplesmente porque os seus primeiros seis anos teriam sido sob uma Constituição diferente. Votar 'sim' no referendo seria um erro", defende o senador da oposição Darius Dillon.
Evocando um recomeço do seu relógio presidencial, poderia não só candidatar-se novamente em 2024 para um segundo mandato (de cinco anos), mas também novamente em 2029, o que tornaria possível uma presidência Weah até 2034, estimam os adversários.
No entanto, o seu gabinete afirma que o antigo avançado do Paris Saint Germain e do AC Milan "não está a pensar num terceiro mandato", numa altura em que nem sequer completou o primeiro.
"Acredito sinceramente que manter alguém no poder durante um longo período de tempo não é a coisa certa a fazer", disse o próprio George Weah num comício de campanha na semana passada, apelando aos seus apoiantes para dizerem 'sim' à redução do mandato presidencial para cinco anos.
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"Especulações fazem parte do jogo político"
Os Partidos Políticos Colaboradores (CPP), uma aliança dos quatro principais partidos da oposição, defendem que poucos eleitores compreendem o alcance das mudanças propostas e apelaram a um boicote ao referendo.
"Nem sequer sabemos quais são as consequências de votar 'sim' ou 'não'", disse um líder da coligação da oposição, Mohammed Aly. Por seu lado, um deputado aliado do presidente, Acarus Gray, assegurou que "estas especulações fazem parte do jogo político".
A proposta de mudança da Constituição prevê também alterar as regras sobre nacionalidade, uma questão que continua a dividir a sociedade na Libéria.
Embora a dupla nacionalidade tenha sido proibida desde 1973, o projeto de nova Constituição prevê que qualquer criança nascida de pelo menos um dos pais liberianos seria automaticamente um "cidadão natural" do país e teria o direito de possuir outra nacionalidade.
Esses duplos nacionais não teriam o direito de ocupar certos altos cargos, incluindo cargos eletivos, mas seriam autorizados a possuir bens na Libéria.
Muitos membros da elite liberiana-americana são também e secretamente cidadãos norte-americanos. A população "indígena" culpa-os por empobrecerem o país, utilizando o dinheiro que ganham na Libéria para construir propriedades nos Estados Unidos.
Edward Gayflor, um liberiano de 48 anos que se refugiou durante a guerra civil nos Estados Unidos, onde se tornou cidadão norte-americano, gostaria de poder dar um impulso à economia.
"É tempo de os liberianos dizerem 'sim' à dupla nacionalidade para que possamos contribuir para o desenvolvimento da nossa pátria", disse.
George Weah: De estrela do futebol a Presidente da Libéria
A sua vida dava um filme. O filho de um modesto mecânico tornou-se um futebolista de elite na Europa. Agora foi eleito Presidente da Libéria. A DW África revê a vida de Weah em imagens.
Foto: picture alliance/dpa/AP Photo/A. Dulleh
Uma nova estrela do futebol
Fora da Libéria, Georges Weah é muito mais conhecido como futebolista. Foi mesmo considerado um dos melhores pontas-de-lança da sua geração. O futebol fê-lo escapar a uma vida difícil. Filho de um mecânico, cresceu num dos bairros de lata da capital liberiana. A família mergulhou na pobreza após a prematura morte do seu pai. Felizmente, Weah foi descoberto por um clube liberiano de futebol.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
Dos Camarões a França
George Weah foi o melhor marcador na Libéria em 1987, jogando no Invencible Eleven, a melhor equipa do país, à altura. Quando o seu clube defrontou os camaronenses do Tonnerre Yaoundé, os dirigentes, notando o seu talento, ofereceram-lhe um contrato. Mas a vida nos Camarões não foi fácil. Weah vivia com outros jogadores e teve dificuldades em adaptar-se ao francês, a língua nacional do país.
Foto: DW/M. Edwin
Em grande na Europa
Depois de seis meses nos Camarões, Weah transferiu-se para os franceses do Mónaco em 1988. Era o começo da sua carreira de sucesso na Europa que o levou aos principais clubes e ligas continentais. Foi o melhor futebolista do mundo em 1985 e foi três vezes eleito futebolista africano do ano. O antigo treinador do Milan, Arrigo Sacchi, disse sobre ele que "em cada momento Weah reinventa o futebol".
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Fumagalli
O sonho falhado de um Campeonato do Mundo
Mas enquanto Georges Weah tinha sucesso na Europa, o seu sonho de jogar uma fase final de um "Mundial" ficou por concretizar. Em 2002, a Libéria qualificou-se para a CAN no Mali. Weah era o diretor técnico e jogador, mas renunciou após a eliminação na fase de grupos.
Foto: picture-alliance/empics
Combatendo a pobreza e as violações dos direitos humanos
Weah usou o seu sucesso para ajudar os menos afortunados. Em 1997, o fundo das Nações Unidas para as crianças (UNICEF), nomeou-o representante especial para o desporto. Weah doou avultadas quantias para caridade, o que o tornou ainda mais popular no seu país, devastado pela guerra, e com o qual sempre manteve contacto próximo ao longo dos anos.
Foto: AP
Vida familiar
George Weah é casado com Clar, uma cidadã norte-americana com raízes jamaicanas. O casal tem três filhos. O seu filho mais velho seguiu as pisadas do pai como futebolista. Weah deu o nome da sua mulher a uma televisão liberiana que adquiriu: "Ela sempre me apoiou e motivou a fazer algo pelo meu país", referiu Weah à revista alemã "Stern" em 2008.
Foto: picture-alliance/DPPI Media
2005: candidatura surpresa a Presidente
George Weah teve de lidar com algumas contrariedades após o final da sua carreira. Tornou-se político e candidatou-se às primeiras eleições presidenciais democráticas liberianas depois do final da guerra civil, em 2005. Ficou em segundo lugar, perdendo para o antigo vice-presidente do Banco Mundial Ellen Johnson-Sirleaf, que venceu com 59,4 por cento dos votos. Weah conseguiu 40,6 por cento.
Foto: Getty Images/C. Hondros
O trabalho no Parlamento
Depois de uma candidatura sem sucesso para se tornar vice-presidente em 2011, Weah ganhou um lugar no Senado, a câmara alta do Parlamento, em 2014. Bateu o seu maior rival, o filho da Presidente Johnson-Sirleaf, por larga margem, conquistando 78 por cento dos votos. Mas, de acordo com os "media" liberianos, Weah raramente era visto no Parlamento, não dando o seu apoio a nenhuma legislação.
Foto: AFP/Getty Images/Z. Dosso
2017: Segunda tentativa
George Weah tinha já provado ser um lutador na política. Em 2017 ele concorreu de novo à presidência. Enquanto os seus apoiantes continuavam a seguir o líder, a decisão de Weah de escolher Jewel Taylor para o acompanhar chocou quer compatriotas quer estrangeiros. Ela é a ex-mulher de Charles Taylor, antigo Presidente liberiano, condenado em 2012 por crimes de guerra.
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo
O novo Presidente da Libéria
George Weah venceu a primeira volta das eleições em outubro de 2017. A necessária segunda volta foi adiada pelo Supremo Tribunal liberiano após queixas de fraude interpostas por outra candidatura. Weah venceu a segunda volta, a 26 de dezembro de 2017, com 61,5 por cento dos votos, contra 38,5 do antigo vice-presidente Joseph Bokai, célere a reconhecer a derrota e a congratular Georges Weah.