Libéria: Partido no poder expulsa Ellen Johnson Sirleaf
Reuters | AP | tms
14 de janeiro de 2018
A Presidente é acusada de não apoiar o vice-Presidente cessante Joseph Boakai nas eleições, facto que terá prejudicado o candidato nas urnas, diz o Partido Unido.
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O partido no poder na Libéria, Partido Unido, anunciou este domingo (14.01) que a Presidente do país, Ellen Johnson Sirleaf, não faz mais parte da organização. O motivo da expulsão é a alegada decisão da Presidente de não apoiar o vice-Presidente cessante, Joseph Boakai, na corrida presidencial.
Ainda de acordo com o partido, Ellen Johnson Sirleaf terá realizado reuniões privadas com magistrados eleitorais antes da votação de 10 de outubro.
O secretário-geral para a imprensa do Partido Unido, Mohammed Ali, disse que a Presidente foi expulsa por ter violado a constituição da organização.
Outros quatro oficiais do movimento político também foram expulsos, informou o Partido Unido num comunicado este domingo. "O comportamento dos membros expulsos constitui sabotagem e prejudica a existência do partido", afirmou a declaração que anuncia a decisão tomada pelo comitê executivo da organização na noite de sábado.
Um alto funcionário do gabinete de Sirleaf se recusou a comentar a decisão. A Presidente e outros funcionários também não prestaram declarações.
Corrida presidencial
Nas presidenciais, o ex-futebolista George Weah, que será empossado novo Presidente no fim deste mês, derrotou o vice-Presidente cessante Joseph Boakai, marcando a primeira transição democrática do poder na Libéria em mais de 70 anos.
Ellen Johnson Sirleaf não tinha permissão para concorrer à reeleição devido ao limite do mandato presidencial estabelecido pela Constituição.
Durante a campanha, veio à tona um desentendimento entre ela e Boakai. A Presidente, depois de afirmar que não apoiaria o candidato do seu partido, foi acusada pelo vice-Presidente de apoiar Weah na corrida presidencial.
O Governo Sirleaf
Em 2011, Ellen Johnson Sirleaf ganhou o prémio Nobel da Paz por ajudar a garantir a paz após as guerras civis de 1989 a 2003. Mas seus críticos dizem que ela não fez o suficiente para reduzir a pobreza no país – uma tarefa ainda mais difícil depois da epidemia de Ébola que matou milhares de liberianos entre os anos de 2014 e 2016.
O Governo de Sirleaf também enfrentou repetidas alegações de corrupção e nepotismo. A primeira mulher a ser chefe de Estado em África nega as acusações. Entretanto, estas questões repercutiram nas últimas eleições.
Weah, que em 1995 tornou-se o único africano a ganhar o FIFA World Player of the Year, agora enfrenta grandes expetativas da sociedade, principalmente da sua base de jovens apoiantes.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."