Liberdade de imprensa em Angola: Problemas de norte a sul
3 de maio de 2023Na primeira Conferência Nacional de Jornalistas, promovida esta quarta-feira (03.05), em Luanda, pelo Sindicato dos Jonralistas Angolanos (SJA), MISA-Angola e Comissão de Carteira e Ética, profissionais do setor apontaram retrocessos na liberdade de imprensa em Angola.
A censura, a autocensura e dificuldades no acesso às fontes foram preocupações apresentadas no Dia da Liberdade de Imprensa, que hoje se assinala.
"Muitos gestores públicos e privados têm muita dificuldade em perceber o papel do jornalista", lembrou Flávia Massua.
"Uns dizem que temos que esperar por uma autorização. Por exemplo, se estiver a acontecer algo agora, exigem ao jornalista a apresentação de uma agenda, do questionário para lhes facilitar a entrevista e também alegam falta de autorização para falar", exemplificou a jornalista do leste de Angola.
Jelson Pimentel da Fonseca, que representou os jornalistas do centro-sul do país, denunciou que "a liberdade de imprensa, pelo menos no Cuanza Sul, ainda não se vive como tal, principalmente nos órgãos controlados pelo Estado."
"Os jornalistas não exercem a profissão como tal porque o Governo quase que açambarcou as redações. A liberdade lá não é cumprida porque tem faltado a transparência, os jornalistas são quase perseguidos", lamentou Jelson da Fonseca.
"Que nem a Coreia do Norte"
O jornalista António Domingos, que apresentou a situação da liberdade de imprensa no norte de Angola, relata que, na hora de prestar informações, os Governos escolhem a dedo os órgãos de comunicação.
"Temos dificuldades de acesso às fontes, principalmente quando se trata de fontes oficiais. Falo dos gestores públicos como os diretores províncias, os diretores dos gabinetes de imprensa", precisou.
"Quando há necessidade de cruzar as fontes", sublinhou ainda o jornalista, "eles dão muitas voltas. Mas se for a rádio pública não há problema." Por isso, António Domingos pede "mudanças neste quesito, porque a região norte está que nem a Coreia do Norte".
As condições de trabalho dos jornalistas fora de Luanda também são piores, relataram os próprios profissionais na conferência, que decorreu sob o lema "Por um jornalismo livre, ético e digno".
Monopólio e retrocessos
Os jornalistas discutiram também sobre o monopólio do Governo nos órgãos de comunicação social, acesso à informação, rádios comunitárias, a auto-regulação e as condições sociais da classe.
A presidente da Comissão de Carteira e Ética, Luísa Rogério, fala em crescimento do monopólio dos meios e aponta retrocessos na liberdade de imprensa em Angola.
"O pluralismo tem diminuindo, a diversidade tem diminuído e a questão dos monopólios e oligopólios, que são proibidos por lei, tem vindo a crescer. Razão pela qual não temos, até ao momento, uma televisão realmente independente. Do meu ponto de vista, temos um retrocesso comparativamente aos anos anteriores", concluiu.
No evento desta quarta-feira, foi lançado o "Prémio Liberdade de Imprensa".