Lichinga-Cuamba: Uma estrada esquecida pelo Governo?
Manuel David (Lichinga)
31 de janeiro de 2017
Apesar das promessas de Maputo, a EN13, que liga as duas principais cidades da província do Niassa, continua por asfaltar. O mau estado da via está a danificar as viaturas que por ali circulam, queixam-se moradores.
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Transportadores e passageiros da rota Lichinga-Cuamba estão agastados com a degradação acentuada da estrada. Por causa do estado em que a via se encontra, ir de Lichinga a Cuamba chega a demorar sete horas - uma viagem que antes durava apenas três horas.
O mau estado da via está a danificar as viaturas que por ali circulam, queixa-se Sabite Cazembe, transportador de passageiros. "Os nossos prejuízos são altos. Por exemplo as molas, os amortecedores e a suspensão, estão a sofrer danos porque a estrada está cheia de buracos", conta.
30.01.2017 Niassa-Estradas - MP3-Stereo
Com 300 quilómetros de distância, a EN13, estrada nacional que liga as cidades de Lichinga e Cuamba, é considerada fundamental para o desenvolvimento da província nortenha Niassa. Há vários anos que os residentes pedem obras para asfaltar a via.
Em novembro, o Presidente da República, Filipe Nyusi, garantiu, em Lichinga, que as obras começariam ainda nesse mês, mas a promessa nunca chegou a ser concretizada.
Mais tarde, o governador do Niassa, Arlindo Chilundo, assegurou aos órgãos de comunicação social no balanço anual de 2016 que as obras arrancariam ao longo dos três primeiros meses deste ano.
Críticas a investimento em Catembe
"Toda a estrada está cheia de matope [lama] e covas", lamenta o habitante Bento Santana. O automobilista chama a atenção para o investimento do Governo na construção da ponte de Catembe, que vai unir os dois lados da baía de Maputo - um projecto que deverá rondar os 700 milhões de dólares.
"Nós, como povo do Niassa, temos sentido muito. Aquele valor da ponte de Catembe já dava para fazer diminuir essa nossa pobreza aqui no norte", afirma.
Ciente do estado crítico da estrada, o Governo provincial do Niassa, através da Administração Nacional de Estrada (ANE), tem colocado pedras nos buracos mais críticos para facilitar a transitabilidade das viaturas.
Segundo o porta-voz Geraldo Macalane, o governo provincial tem procurado garantir que "exista um orçamento para reparações pontuais das zonas mais críticas nas estradas."
No entanto, as medidas tomadas pelas autoridades continuam a suscitar críticas entre os utilizadores da estrada. Como o passageiro Gildo João, que deixa um apelo ao Governo: "A estrada está mal, tem buracos e provoca saltos. Gostaríamos que a estrada fosse melhorada para os carros circularem livremente."
Lago Niassa - um lago ainda por explorar
Partilhado pelo Malawi, Moçambique e pela Tanzânia, o Lago Niassa é o nono maior do mundo e o terceiro maior de África. O Lago Niassa tem uma biodiversidade rica que ascende a 700 mil espécies diferentes.
Foto: DW/Johannes Beck
O terceiro maior de África
O Lago Niassa é um imenso azul partilhado pelo Malawi, por Moçambique e pela Tanzânia. É o nono maior do mundo e o terceiro maior do continente africano, a seguir aos Lagos Victória e Tanganika. Localizado no Vale do Rift, o lago tem 560 quilómetros de comprimento, 80 quilómetros de largura e 700 metros de profundidade. Em língua chinhanja, falada na orla moçambicana, "niassa" significa lago.
Foto: DW/Johannes Beck
Ecossistema único
Nas águas azuis, transparentes e limpas do lago vivem cerca de mil espécies ciclídeos (família de peixes de água doce), das quais apenas 5% existem noutros lugares do Planeta. As praias e toda a região do Lago Niassa têm uma biodiversidade rica que ascende a 700 mil espécies diferentes, a nível de fauna e flora, pelo que tem elevado valor para a investigação científica.
Foto: DW/G. Sousa
Verde e azul
A província do Niassa pinta-se do verde, dos imensos planaltos, e do azul, do lago e do céu. Na viagem até ao Lago, percorrem-se dezenas de quilómetros de floresta virgem, com comunidades muito dispersas. Localizada no noroeste de Moçambique, a província do Niassa é a mais extensa e a menos habitada do país, com uma densidade populacional de cerca de oito habitantes por quilómetro quadrado.
Foto: DW/G.Sousa
Riquezas do lago
As águas límpidas do Lago Niassa convidam aos banhos e a passeios de barco. As suas profundezas escondem um bem valioso, hidrocarbonetos. A corrida ao "tesouro" levou o Malawi, em 2012, a iniciar trabalhos de prospeção de petróleo e gás natural sem o consentimento dos seus vizinhos, Moçambique e Tanzânia. As relações entre o Malawi e a Tanzânia esfriaram.
Foto: DW/G. Sousa
A quem pertencem as águas?
Carregando água, estas meninas levam o Niassa para casa, que ajudará nas lides domésticas. Mas a quem pertencem as águas do Niassa? O Malawi exige o domínio do lago, a que chama Lago Malawi, à exceção da parte que banha Moçambique, no âmbito do Tratado Anglo-Germânico de 1890. A Tanzânia rejeita, diz que o acordo tem lacunas. Os dois países disputam há mais de 50 anos a soberania do Lago Niassa.
Foto: DW/G. Sousa
Loiças, roupas, banhos
O lago faz parte do quotidiano das comunidades da região. É lá onde, todos os dias, as mulheres lavam a loiça e as roupas de toda a família. Tal como elas, crianças e homens tomam ainda banho nas águas mornas do Niassa. Na altura do banho, elas agrupam-se de um lado e os homens afastam-se para outro.
Foto: DW/Johannes Beck
A pesca
Em Meluluca, assim como em quase toda a costa do lago, quase todos os homens se dedicam à pesca. Contudo, muitas vezes, os pescadores utilizam redes mosquiteiras, prática nefasta que arrasta grandes quantidades de peixe, de vários tamanhos, alerta a organização de defesa do meio-ambiente WWF (Fundo Mundial para a Natureza).
Foto: DW/G. Sousa
Ussipa em Lichinga
Parecido com a sardinha, o ussipa é o peixe mais capturado nas águas do Niassa. É vendido em vários mercados, como neste em Lichinga, a capital provincial. O preço varia, normalmente um balde, com capacidade de 10 litros, carregado de ussipa custa 80 meticais (equivalente a dois euros). Mas se o ussipa escasseia, o preço sobe para cerca de 100 a 150 meticais (entre 2,50 e 3,80 euros).
Foto: DW/J.Beck
Embarcações em terra
Durante o dia, e em tempo de férias escolares, as crianças divertem-se no lago junto das embarcações enquanto os pescadores descansam. Voltarão à faina quando no céu se contarem as estrelas. Recorrem, frequentemente, à pesca noturna com atração luminosa para a captura do ussipa.
Foto: DW/Johannes Beck
Reserva de Moçambique
Utilizado diariamente pelas comunidades, o lago está sob o olhar atento das autoridades. A proteção do lago é uma preocupação do governo de Moçambique, que o declarou reserva em 2011. No mesmo ano, o Lago Niassa e zona costeira passaram a integrar a lista de zonas húmidas protegidas pela Convenção de Ramsar, a Convenção sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional.
Foto: DW/Johannes Beck
Estradas de terra
As vias na costa do Lago Niassa são de terra batida. Existe apenas uma estrada em boas condições, alcatroada, que liga a capital provincial, Lichinga, a Metangula, sede do distrito do Lago. As fracas acessibilidades dificultam o investimento na região, em particular no sector do turismo.
Foto: DW/G. Sousa
Costa selvagem
A costa moçambicana do lago é considerada semi-selvagem, sendo frequente encontrar-se animais como macacos. Dois investimentos internacionais de turismo beneficiam da natureza em estado virgem e apostam em turismo de conservação: um localiza-se próximo do posto administrativo de Cobué, no extremo norte da província; e o outro mais a sul, a cerca de 15 quilómetros de Metangula.
Foto: DW/G. Sousa
Uma região a descobrir
A beleza natural do Lago Niassa confere à região um imenso potencial de turismo ainda por explorar. Os moçambicanos defendem que têm as praias mais bonitas de todo o lago, lamentando que, no entanto, as do vizinho Malawi sejam muito mais conhecidas e frequentadas. Na costa moçambicana, existem ainda poucas unidades hoteleiras e infraestruturas de apoio, além dos acessos difíceis.