Duas manifestações estavam convocadas, para este fim de semana (03 e 04.06), em Bissau. Mas foram proibidas pelo Governo.
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O movimento "O Cidadão" convocou para este sábado (03.06), em Bissau, uma manifestação "para demonstrar como é que é em democracia". O movimento exige a reabertura do parlamento, bloqueado há cerca de dois anos devido às divergências entre partidos.
O grupo de cidadãos "Conscientes e Inconformados" com a crise política que se instalou no país pretendia sair à rua no domingo (04.06).
No entanto, o secretário de Estado da Ordem Pública, Francisco Djatá, proibiu as manifestações, alegando que apresentam riscos para a segurança. As organizações terão acatado a decisão. E este sábado (03.06), os guineesnses acabaram por não sair à rua.
A proibição constitui uma "flagrante tentativa de condicionar o exercício da liberdade de manifestação pacífica" aos cidadãos, denunciou, em comunicado, a Liga Guineense dos Direitos Humanos.
A Liga lembra que a lei guineense apenas refere que a polícia deve garantir a segurança das manifestações públicas, não determinando que devem ser autorizados.
Presidente da ANP rejeita sessão
Entretanto, o presidente da Assembleia Popular Nacional (ANP), Cipriano Cassamá, rejeitou, na sexta-feira (02.06), convocar uma sessão extraordinária do Parlamento.
O pedido, solicitato pela maioria dos deputados no hemiciclo, foi rejeitado por "não se enquadrar na letra e no espírito do Acordo de Conacri", refere, em comunicado, o gabinete do presidente do Parlamento.
Os deputados tinham pedido a convocação de uma sessão extraordinária para 13 de junho, a fim de discutir e aprovar o programa de Governo.
Mas, no entender do presidente da ANP, Cipriano Cassamá, a diligência dos deputados foi uma "das manobras dilatórias" do Presidente guineense, José Mário Vaz, para "confundir a opinião pública nacional".
Crise guineense em debate na CEDEAO
A situação política na Guiné-Bissau será um dos dossiês em análise na reunião da Comunidade dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), no domingo (04.06), em Monróvia, na Líbéria.
O chefe de Estado cabo-verdiano defendeu uma posição "construtiva" e "prudente" da CEDEAO em relação à crise guineense.
Estima-se que a cimeira da CEDEAO deverá tomar medidas que pressionem o cumprimento do Acordo de Conacri. Sob auspícios da CEDEAO, o Acordo de Conacri prevê a formação de um Governo consensual integrado por todos os partidos representados no parlamento e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso.
"Tem de haver um esforço de todos os atores políticos, do Presidente da República, do Governo, do parlamento, dos partidos políticos e mesmo da sociedade civil guineense para encontrar mecanismos de diálogo e concertação para que o país saia dessa situação de impasse, que implica o não funcionamento pleno das instituições do Estado", afirmou o Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca.
A vida política guineese está bloqueada há cerca de dois anos, depois da demissão pelo Presidente do primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira, vencedor das eleições de 2014.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.