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"Linha dura da FRELIMO pode barrar Samora Machel Júnior"

3 de abril de 2024

A "ousadia" de Samora Machel Júnior pode ter perna curta. O filho do primeiro Presidente de Moçambique tenciona concorrer à chefia do Estado pela FRELIMO. Mas analista duvida que a candidatura possa vingar.

Eleições de 2019 em Moçambique
Foto: AP Photo/F. Momade

Inquietações, esperança e vontade de fazer reformas – são sentimentos que sobressaem no manifesto político de Samora Machel Júnior, citado pela imprensa moçambicana.

O filho do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel, quer ser um dos "presidenciáveis"nas eleições de outubro e promete reformas, dentro e fora da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

Samora Machel Júnior diz que é preciso reconhecer os "bons e maus momentos" na história da FRELIMO, para poder fazer as correções necessárias e promover, ao mesmo tempo, mudanças "que reflitam as reais necessidades do povo".

Em entrevista à DW, o analista moçambicano Ernesto Júnior considera, no entanto, que esta é uma candidatura que pode ser "barrada" pela "elite conservadora" da FRELIMO como também está a acontecer com a de Venâncio Mondlane na Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO, o maior partido da oposição).

DW África: O que representa esta candidatura para a FRELIMO? Vem evidenciar ainda mais as divisões dentro do partido?

Ernesto Júnior (EJ): Esta candidatura é uma surpresa. [Mas] sabemos que "Samito" é uma das vozes mais críticas dentro da FRELIMO. Ele faz essas críticas interna e externamente, através de cartas. Optou por um caminho "sui generis". Nunca se viu algo assim dentro da FRELIMO – um membro sénior a criticar abertamente o partido sobre a suposta fraude nas eleições autárquicas. Isso, para mim, pode ser uma transição geracional dentro da própria FRELIMO.

Samora Machel Júnior tenciona candidatar-se à Presidência de Moçambique pela FRELIMOFoto: DW/J. Carlos

DW África: Mas tendo em conta todas essas críticas, esta é uma candidatura que tem alguma hipótese de vingar dentro do partido?

EJ: Esta é uma candidatura ousada. Pode não vingar, porque nós sabemos que todo o partido político é governado por uma certa oligarquia. Ele pode até ter muito apoio do ponto de vista externo, da juventude ou da população em geral, mas sabemos que, dentro da FRELIMO, há uma elite que toma a dianteira e que administra as eleições internas – e ele pode ser visto como persona non grata por causa dessas suas críticas. Sendo assim, teria poucas chances de vingar.

DW África: Mesmo que não vingue, com a divulgação desta pré-candidatura, "Samito" está a "forçar" a FRELIMO a debater, já este fim de semana, no Comité Central, possíveis candidatos às presidenciais?

EJ: Ele é um membro ativo da FRELIMO; tem o direito de eleger e ser eleito. Mas sabemos que há uma série de entraves relacionados com a elite conservadora, a linha dura da FRELIMO, que poderá barrar a candidatura.

Fazendo um paralelismo, é o que tem acontecido com [o deputado] Venâncio Mondlane, na RENAMO. São pessoas hostilizadas internamente, mas que, do ponto de vista externo, são aceites pela população.

DW África: Esta seria, portanto, uma candidatura que seria bem recebida pela população?

EJ: Sim, porque "Samito" tem uma visão mais geral, de nação. Ele é muito mais aceite, pois sempre se colocou ao lado da população e da verdade. Nunca teve problema em criticar abertamente, de forma construtiva, o próprio Presidente da República.

A população vê em "Samito" uma esperança. Acredito que, se a candidatura vingasse, a FRELIMO sairia a ganhar – e certamente ele colocaria, em primeiro lugar, a nação e só depois os membros do seu partido. Mas os candidatos devem obediência à FRELIMO – impera a disciplina partidária – e "Samito" está além disso. Portanto, é uma espada de dois gumes: por um lado, "Samito" é aceite pela população, mas boa parte dos membros da FRELIMO não o vê com bons olhos.

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