Há amontoados de lixo em várias zonas da capital angolana. Já caem as primeiras chuvas e os cidadãos estão preocupados com a falta de recolha de resíduos. Este é um dos desafios do novo governador, Sérgio Luther Rascova.
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O problema do lixo não é novo em Luanda, mas a esperança é que o novo governador, Sérgio Luther Rascova, o possa resolver de uma vez por todas.
Pedro Matubacana, morador do Cazenga, um dos municípios mais populosos de Luanda, está preocupado com a falta de recolha de lixo.
"O lixo aqui no município está uma calamidade, a ponto de não se conseguir perceber onde começa o lixo e onde começam as casas", afirma. "Não se consegue compreender como é que, num país com tanto recursos como o nosso, munícipes aqui dentro de Luanda vivem nestas condições!"
Numa ronda efetuada pela DW África em várias zonas da capital, constatámos amontoados de lixo em muitas ruas. Há locais onde nem há contentores.
Combate ao lixo é prioridade
Em dezembro, foi aprovado um novo modelo de recolha de lixo em Luanda. Ainda assim, a cidade continua suja.
Mas Sérgio Luther Rascova, empossado como governador na última sexta-feira (04.01), diz que o combate ao problema do lixo e da falta de valas de drenagem é uma das suas prioridades.
"A questão relacionada com a macrodrenagem é fundamental para atenuarmos os efeitos negativos das quedas pluviométricas que Luanda recebe. A questão relacionada com a limpeza ou saneamento básico também é crucial, sem nos esquecermos das infraestruturas rodoviárias", disse o governante de 38 anos.
Outros problemas na província
O analista político Augusto Báfuabafua alerta, no entanto, que, além das questões já conhecidas do lixo e do saneamento básico, há outros problemas por resolver.
Lixo em Luanda: Um problema a resolver pelo novo governador
"Aqui em Luanda olha-se muito para a questão do lixo ou da mobilidade. Talvez sejam dois dos maiores problemas, mas nem de longe são os únicos", diz. "Parece que o nosso governador de Luanda tem um desconhecimento da profundidade dos problemas dessa nossa província de Luanda, porque o governador não é da cidade, é da província, ou seja vai muito mais além."
Segundo Báfuabafua, também é preciso assegurar a construção de habitações e a melhoria dos sistemas de abastecimento de água e de eletricidade.
Dar o benefício da dúvida
Antes da sua nomeação como governador, Sérgio Luther Rascova era 1º Secretário da Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA), deputado e membro do Conselho da República.
A sua indicação gerou um debate nas redes sociais por causa da sua idade e alegada falta de experiência governativa.
Estilo com plástico é só com o Tio Saco
01:45
Para o analista Milonga Bernardo, estas reações negativas são um "falso problema". Aponta como exemplo o facto de o ex-Presidente José Eduardo dos Santos ter apenas 36 anos quando substituiu António Agostinho Neto na Presidência angolana, em 1979.
"A competência nada tem a ver com a idade. Não estou aqui a atestar que seja competente ou não. Não o conhecemos do ponto de vista daquilo que tem a ver com as suas capacidades. Então, acho que é o momento de podermos apoiar todos o nosso governador", afirma Milonga Bernardo.
"Existem muitos tais experientes, mas que que nada, ou quase nada, têm estado a trazer para a gestão do país. Eu sou daquelas pessoas que acham que é importante que se dê oportunidade aos jovens, e os jovens devem somente procurar responder com brio e procurar não desiludir."
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".