Longas filas para eleger o próximo Presidente da Libéria
gcs | Reuters | DPA | AFP | AP | EFE
10 de outubro de 2017
Presidente cessante da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, lembrou que as eleições desta terça-feira são especiais. Muitos eleitores já estavam na fila para votar ao raiar do sol.
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Mais de dois milhões de eleitores foram chamados às urnas, esta terça-feira (10.10), para eleger o sucessor da Presidente Ellen Johnson Sirleaf.
"Tudo o que precisamos é de paz, queremos paz, um país pacífico, e que as coisas corram bem", afirmou um dos cidadãos esta manhã.
A atual chefe de Estado e Nobel da Paz deixa o cargo após cumprir dois mandatos de seis anos.
Ellen Johnson Sirleaf tomou posse em janeiro de 2006, menos de três anos depois da guerra civil na Libéria, em que morreram mais de 250 mil pessoas. Segundo a Presidente cessante, esta será "a primeira vez em três gerações que vamos transferir o poder presidencial de forma democrática e pacífica de um líder eleito para outro."
Três favoritos
Nestas eleições, há três favoritos entre os vinte candidatos presidenciais: o atual vice-Presidente, Joseph Boakai, do Partido da Unidade; o antigo futebolista George Weah, agora líder do maior partido da oposição, o Congresso para a Mudança Democrática, e Charles Brumskine, do Partido da Liberdade.
Só uma mulher se candidata à Presidência, a ex-modelo e filantropa MacDella Cooper, que, segundo os analistas, deverá ter poucas hipóteses de ganhar a eleição.
Durante a campanha eleitoral, os candidatos prometeram reduzir a pobreza, travar a corrupção e revitalizar a economia.
Longas filas para eleger o próximo Presidente da Libéria
A Libéria está em recessão desde a epidemia do ébola, entre 2014 e 2015, que provocou a morte de quase 5.000 pessoas. Por isso, Edwina Jerome, que votou esta terça-feira pela primeira vez, pede melhorias.
"Espero que o próximo líder seja transparente e seja um líder que aja no interesse das pessoas", afirma Jerome, para quem é necessário, por exemplo, melhorar o sistema de educação e ter "mais pessoal de saúde e melhores equipamentos, para que, quando as pessoas adoecem, não tenham de sair do país para serem tratadas."
Possível segunda volta
O mundo está a olhar para a Libéria, avisou a Presidente cessante, Ellen Johnson Sirleaf, na véspera das eleições. "Vamos fazer com que eles e nós fiquemos orgulhosos", acrescentou.
A monitorizar a votação estiveram observadores da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, da União Africana, da União Europeia e dos Estados Unidos da América.
Os primeiros resultados oficiais deverão ser divulgados dentro de 48 horas. Como ninguém deverá conseguir mais de 50% dos votos, porque há muitos candidatos na corrida à Presidência, espera-se uma segunda volta em novembro com os dois políticos mais votados.
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."