Luanda assinala hoje o seu 448º aniversário, com o foco na melhoria da sua imagem. A capital de Angola está atualmente mergulhada em lixo e vê-se a braços com muitos outros problemas, como a criminalidade.
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Fundada a 25 de janeiro de 1576 pelo navegador português Paulo Dias de Novais, Luanda já foi considerada, na década de 60, como um das mais lindas e limpas do continente africano.
"Luanda já foste linda". É a saudade cantada na música de Teta Lágrimas, que retrata uma cidade que já serviu de fonte de inspiração de poetas, músicos e uniu pessoas, mas que com o decorrer do tempo foi perdendo a sua beleza e mística.
Quatro séculos após a sua fundação, a cidade enfrenta hoje vários desafios para recuperar o seu estatuto. As razões são várias e vão desde a pressão demográfica que a cidade viveu, sobretudo nas décadas de 80 e 90, fruto do conflito armado que assolou o país.
Com mais de nove milhões de habitantes, a cidade enfrenta problemas de vária ordem. Desde construções anárquicas, venda ambulante, saneamento básico, lixo nas ruas, criminalidade ou engarrafamentos.
Como enfrentar o problema do lixo em Angola?
07:26
"A cidade onde todos mandam"
Quem governa Luanda não tem apenas que se preocupar com os problemas sociais da cidade. As interferências políticas e administrativas são constantes, ao ponto de a cidade ser conhecida como "cemitério das carreiras políticas" ou "a cidade onde todos mandam".
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O governador de Luanda, Manuel Homem, diz ter consciência das dificuldades de governar a cidade, mas pede apoio de todos para mudar o atual cenário. Há pouco mais de um ano no cargo, Manuel Homem prometeu, durante o seu discurso de tomada de posse, desenvolver um trabalho de equipa e descentralizado.
"Não é aceitável que pequenos problemas locais tenham que ser resolvidos na sede do governo da província. Não é aceitável que, por exemplo, a reparação de uma conduta de água ou de um cabo de eletricidade dependa da boa vontade das estruturas aqui, no casco urbano da cidade", disse na altura.
Mas quem vive em Luanda, mais do que apontar problemas, quer ver resolvidos os males que enfermam a capital.
João Afonso, morador de um dos bairros periféricos, aponta alguns setores que considera prioritários: "Temos muito lixo na rua, águas paradas e isso aumenta as doenças, como malária e febre tifóide."
Jacob Jangombe, outro morador, também espera melhorias na imagem da cidade. "Luanda é uma cidade muito bonita, mas tem muitas debilidades que afetam a vida dos cidadãos, tal como as vias de circulação e delinquência", exemplifica.
Modelo de governação desadequado
Para o politólogo David Sambongo, o atual modelo de governação de Luanda está desadequado às novas exigências. "É preciso 'desluandizar' Angola, porque Angola não e só Luanda e isso poderá ajudar na gestão da cidade", diz.
Mas em Luanda, não são apenas os problemas de gestão que preocupam quem governa a capital. "O governo de Luanda não pode continuar a ser pensado como cemitério dos que governantes", alerta Manuel Homem.
O politólogo David Sambongo lembra que não estão em causa apenas questões de saúde pública e estéticas, os principais poderes políticos fundamentais para o funcionamento do país concentram-se em Luanda:
"É a capital económica e política do país, os ministros de Estado, os secretários de estado, líderes de partidos políticos com assento no parlamento. Portanto, um conjunto de entidades residem na capital do país", destaca.
Luanda: Convivência diária com o lixo está de volta
Capital angolana voltou a ficar imunda, apesar da megacampanha de limpeza promovida pela comissão criada pelo Presidente João Lourenço.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Lixo deixou de ser notícia
Os amontoados de lixo continuam a crescer em diferentes bairros de Luanda e o assunto deixou de ser manchetes na imprensa Angola. Nos mercados informais, vias públicas e paragens de táxis, as pessoas têm de conviver com a imundice e o mau cheiro.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Megacampanha de limpeza fracassou
A campanha de limpeza encabeçada pela ministra de Estado para Área Social, Carolina Cerqueira, contou com a participação massiva de efetivos do Exército e da Polícia angolana, para além alguns funcionários públicos e cidadãos comuns. Entretanto, o lixo voltou a tomar conta da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
A crise do lixo já dura há meio ano
A então governadora de Luanda, que começou a enfrentar a crise do lixo no fim de 2020, disse à imprensa que a campanha não teria apenas dois ou três dias de duração, mas que se prolongaria até que a comissão "exterminasse" a sujeira em Luanda. A capital angolana é tida como uma das mais caras do mundo. Mas, nem com isso, o problema do lixo foi solucionado.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Concurso público polémico
Foram detetadas várias irregularidades nos contratos assinados a 31 de março com as empresas privadas Sambiente, Chay Chay, Multi Limpeza, Consórcio Dassala/Envirobac, Jump Business, ER-Sol e a pública Elisal.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Custos altos
Segundo o jornal angolano Expansão, várias operadoras deixaram cair a participação no concurso público após a aquisição do caderno de encargos, por entenderem que os valores máximos estipulados por município eram muito inferiores aos custos que teriam para realizar todas as exigências em termos contratuais.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Governadora exonerada no meio da crise
A crise do lixo na cidade de Luanda é apontada como a razão da exoneração de Joana Lina do cargo de governadora de Luanda, no passado dia 30. A exoneração ocorreu depois da polémica do concurso público de novas operadoras de gestão de resíduos. A agora ex-governadora é acusada de falta de transparência no processo de seleção de empresas que fariam a gestão do lixo.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Lixo + chuva = doença e mortes
O lixo em Luanda é apontado como a principal causa do surto de malária, febre tifóide e uma praga de mosca que assola a capital do país desde o princípio deste ano. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde em junho, Angola registou mais três milhões de casos de malária que resultaram em cerca de 5.573 óbitos em todo o país, de janeiro a maio de 2021.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Recolha aleatória
Em alguns bairros, a DW constatou que algumas operadoras de limpeza fazem a recolha do lixo, mas com grande insuficiência. Os resíduos às vezes são recolhidos com intervalo de dois ou até mesmo uma semana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Kilamba engolido pelo lixo
No Kilamba, que completou 11 anos de existência no passado dia 10 de julho, encontram-se diversos amontoados de lixo. O administrador da centralidade diz que, nos últimos meses, a fraca recolha do lixo contribuiu para o registo de mais casos doenças como a febre tifoide e a malária. Os números atuais nunca foram registados desde a fundação do Kilamba, disse Murtala Marta ao Jornal de Angola.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dívida milionária com as antigas operadoras
Em dezembro do ano passado, a então governadora provincial, Joana Lina, suspendeu contratos com seis operadoras de limpeza e saneamento de Luanda, alegando incapacidade de liquidar a dívida avaliada em cerca de 308 milhões de euros.