Audição de Jorge de Brito Pereira, Mário Leite da Silva e Paula Oliveira pela comissão de ética da empresa onde Isabel dos Santos é acionista não se realizou porque os três renunciaram, após escândalo "Luanda Leaks".
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Os administradores Jorge Brito Pereira, Mário Leite da Silva e Paula Oliveira já não foram ouvidos esta segunda-feira (27.01), como estava previsto, pelo Comité de Ética e a Comissão de Governo Societário da NOS.
"Dado que os administradores não executivos renunciaram aos cargos que ocupavam no conselho de administração da NOS, o comité de ética não se realizou" - dá conta uma nota da empresa enviada esta tarde à DW África, explicando que, assim sendo, "não haverá enquadramento para a sua realização".
A decisão de chamar à audição os três administradores da operadora, citados no escândalo "Luanda Leaks", foi tomada antes de uma reunião do conselho de administração da NOS sobre o caso, que se realizou na passada terça-feira (21.01).
Entretanto, os três portugueses apresentaram as respetivas renúncias ao conselho fiscal, na semana passada, poucos dias depois da Justiça angolana ter acusado Isabel dos Santos de má gestão e desvio de fundos da petrolífera angolana Sonangol. Os respetivos nomes surgem ligados à empresária angolana, suspeita de ter transferido pelo menos 115 milhões de dólares da Sonangol para uma empresa no Dubai.
Imagem e reputação
Jorge Pereira é advogado de Isabel dos Santos, Paula Oliveira é amiga próxima da empresária angolana e Mário Leite da Silva, o seu braço direito.
"Do meu ponto de vista, [as renúncias] enquadram-se numa estratégia de preservação de imagem e de reputação. Na verdade, de uma reputação que nunca existiu para os três, porque agora foram descobertos", analisa o professor universitário angolano Domingos da Cruz.
Para este académico e um dos ativistas políticos perseguidos pelo regime do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, esta saída imediata dos três administradores é compreensível.
"Por outro lado, eles precisam de tempo e preservação de energias para preparar a sua defesa em tribunal porque certamente serão responsabilizados", considera.
Relativamente à possibilidade de tais portugueses serem julgados em Angola, tal é a pretensão do Ministério Público angolano, Domingos da Cruz avalia ser uma questão de grande complexidade, devido às diferenças na Constituição dos dois países.
Comité de ética da NOS cancela audição de administradores
A ZOPT, empresa que detém 52% da NOS, é pertença de Isabel dos Santos e da Sonae. A Sonae, que já tinha demonstrado preocupação face ao escândalo "Luanda Leaks", tranquilizou os clientes e investidores que tudo fará para garantir a estabilidade necessária.
Entretanto, na semana passada, Isabel dos Santos informou o conselho de administração da Efacec Power Solutions da sua decisão de sair da estrutura acionista da empresa, com efeitos definitivos. Num comunicado a que a DW África teve acesso, a administração informa que "está a desenvolver as diligências necessárias para a reconfiguração da estrutura acionista". A administração reforça que esta situação não afeta o normal funcionamento das operações.
Na perspetiva de Domingos da Cruz, "o posicionamento da Isabel [dos Santos] ao sair da NOS, da Efacec, da Galp, etc., é igualmente uma estratégia que visa preservar e, provavelmente, levar os seus ativos onde ela entender ser porto seguro - onde, eventualmente, não será submetida aos ataques a que temos estado a assistir nos últimos dias".
Além da Efacec, Isabel dos Santos também anunciou a sua saída do EuroBic, onde detinha 42,5% do capital. O banco português já deu início ao processo de venda da parte da empresária angolana. E, de acordo com informações veiculadas pela imprensa portuguesa, para além de espanhóis, há um grupo bancário chinês interessado em adquirir a parte dos investidores angolanos no referido banco, liderado pelo ex-ministro português das Finanças, Teixeira dos Santos.
Na opinião de Domingos da Cruz, "relativamente à pretensão dos chineses de [preencherem] o vazio que os angolanos estão a deixar, eu diria que estamos diante de uma oportunidade de negócios". "Eles estão, claro, a aproveitar este momento", acrescenta.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
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Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.