"Luanda Leaks": Dinheiro alemão favoreceu Isabel dos Santos
com agências | mp
20 de janeiro de 2020
No âmbito do “Luanda Leaks”, médias da Alemanha que participaram do megavazamento de documentos que envolvem Isabel dos Santos contam como dinheiro público alemão ajudou a enriquecer a filha de José Eduardo dos Santos.
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As emissoras alemãs WDR e NDR e o jornal Süddeutsche Zeitung publicaram que Isabel dos Santos recebeu apoio do exterior, incluindo um empréstimo de aproximadamente 50 milhões de euros de uma subsidiária do banco público alemão de fomento ao desenvolvimento KfW.
As empresas de média alemãs participaram do consórcio jornalístico que teve acesso a 715 mil documentos que substanciariam as alegações de que o enriquecimento da empresária Isabel dos Santos teria acontecido à base de nepotismo e corrupção.
Segundo a NDR e a WDR, o megavazamento de documentos do chamado "Luanda Leaks" não está diretamente relacionado às investigações que ocorrem em Angola, mas algumas empresas que surgiram na apuração jornalística também aparecem nas investigações das autoridades angolanas. Um exemplo é a empresa de bebidas Sodiba, que surge nas matérias jornalísticas e nos processos em Angola.
Caso Sodiba
A Sodiba beneficiou-se de um empréstimo do KfW Ipex, uma filial do banco público alemão de fomento ao desenvolvimento KfW. O empréstimo foi tomado por um banco que tinha 75% do capital pertencente ao Estado angolano. Isabel dos Santos teria utilizado esse dinheiro para pagar equipamento técnico da Alemanha em 2015.
Estaria em questão uma fábrica de cerveja e duas linhas de engarrafamento da Krones AG, empresa do Alto Palatinado, na Baviera. Segundo a reportagem, "a ascensão da Sodiba no mercado africano de bebidas foi possível não só através de empréstimos da Alemanha, mas também através de uma intervenção do ex-Presidente [José Eduardo dos Santos]".
O pai da empresária teria usado seu poder para "aprovar o projeto de investimento em primeiro lugar. Além disso, o seu governo prometeu à empresa benefícios fiscais”, escreve o texto da NDR e WDR. Mesmo antes do negócio no setor de bebidas, segundo a reportagem, houve relatos de nepotismo na família Dos Santos. Aparentemente, KfW e Krones AG não teriam levado isso em conta.
O que dizem as instituições alemãs?
A reportagem ouviu a empresa Krones AG, que alegou que teria descoberto que Isabel dos Santos estava por trás da Sodiba somente "anos depois”. No entanto, esta informação, salienta a reportagem, "estava publicamente disponível no Diário Oficial de Angola antes mesmo do [fechamento do]negócio”.
O KfW explicou à reportagem da NDR e WDR que o negócio tinha sido financiado em conjunto com o banco angolano. Segundo o banco público alemão de fomento ao desenvolvimento, a instituição tinha confiado nas verificações de conformidade na altura. "Tanto a KfW como Isabel dos Santosnão admitem qualquer má conduta neste negócio”, diz a reportagem.
Há alguns meses, Isabel dos Santos esteve em viagem promocional da Sodiba para a China, onde deverá começar a vender a cerveja em breve. "Se isso ainda será possível após o congelamento de seus ativos, isto ainda não está claro”, diz a reportagem.
"Luanda Leaks"
O megavazamento contou com a participação de mais de 120 jornalistas de 20 países e atingiu duramente a multimilionária angolana. Isabel dos Santos fundou mais de 400 empresas, quase 100 delas em paraísos fiscais como Malta, Ilhas Maurício e Hong Kong.
Segundo as reportagens que correm pelo mundo desde o último domingo (19.01), essas empresas têm beneficiado de contratos públicos em Angola.
A justiça angolana já havia divulgado a suspeita de que a empresária angolana teria enriquecido com mais de 1 mil milhão de dólares de empresas estatais angolanas, e exige o dinheiro de volta.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
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Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
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Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
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Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
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Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
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Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
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Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
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A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.