Sven Giegold considerou hoje que "é chocante" o caso dos "Luanda Leaks". O eurodeputado alemão pede ao Governo português para acabar com os vistos "gold" porque, a seu ver, permitem a ocorrência deste tipo de casos.
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Reagindo às revelações dos alegados esquemas financeiros da empresária angolana Isabel dos Santos, que também afetaram Estados-membros da União Europeia (UE) como Portugal, Sven Giegold falou num "escândalo chocante porque atinge um dos países mais pobres do mundo", Angola.
O eleito alemão da bancada dos verdes europeus, que é ativista na denúncia de casos de corrupção como os "LuxLeaks" ou os "Panamá Papers", tendo chegado a partilhar esta 'tarefa' com eurodeputada portuguesa Ana Gomes, vincou que "há uma coisa que Portugal deve fazer" após a divulgação dos "Luanda Leaks".
"O Governo português deve acabar com os vistos 'gold' [autorizações de residência concedidas a investidores estrangeiros] porque isso permite a ocorrência deste tipo de casos", alertou Sven Giegold. Segundo o eurodeputado, este tipo de programas "tornam mais fácil a existência de negócios da Europa sem controlo dos supervisores bancários", facilitando ainda "as transações com dinheiro sujo".
"É inaceitável que o Governo português, como um Governo de centro-esquerda, apoie este tipo de sistema", insistiu Sven Giegold, argumentando que "Portugal tem um papel importante" neste escândalo financeiro em Angola.
Debate público na União Europeia?
Para Sven Giegold, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia também devem agir. No que toca à assembleia europeia, o eurodeputado considerou que deveria haver um "debate público" sobre o caso na próxima sessão plenária, que decorre entre 10 e 13 de fevereiro, mas ressalvou que isso depende da agenda e da disponibilidade dos grupos políticos.
Já relativamente à Comissão, Sven Giegold sugeriu mexidas nas leis de combate à elisão e evasão fiscal, que a seu ver devem ser mais apertadas e harmonizadas em toda a União Europeia, tendo em conta que "há muitas diferenças nos regimes fiscais" entre os Estados-membros.
Sanções a bancos e supervisores
O eleito alemão defendeu ainda a aplicação de sanções, no caso dos "Luanda Leaks", a "bancos e a supervisores que, alegadamente, não seguiram a lei de combate à lavagem de dinheiro".
"Os documentos revelados mostram que o dinheiro proveio de fontes dúbias e isso demonstra que essas entidades, que deveriam ter respeitado a lei, não tomaram as devidas providências", adiantou.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou no domingo (19.01) mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de "Luanda Leaks", que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
De acordo com a investigação, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar cerca de 90 milhões de euros para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única acionista declarada a portuguesa Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da operadora NOS.
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.