"Luanda lixada": Jovens fazem marcha contra lixo acumulado
kg | Lusa
1 de maio de 2021
Cerca de 30 jovens participaram num protesto contra a má gestão de resíduos na capital angolana. "É um grito de socorro contra a situação que se vive", diz organizador.
Publicidade
"Uma casa suja diz muito sobre os donos", "Luanda: Cidade do Lixo", "O povo angolano não é lixo" ou "Menos moscas, mais saúde" eram algumas das frases exibidas nos posters dos cerca de 30 jovens que participaram este sábado (01.05) num protesto contra a falta de soluções para o lixo na cidade de Luanda.
"Isto é um grito de socorro contra a situação que se vive", gritou ao megafone Israel Campos, um dos organizadores da manifestação. O objetivo foi alertar para os riscos à saúde pública e exigir soluções sustentáveis e de longo prazo.
Ao contrário de protestos mais recentes, marcados por atos de violência entre polícia e manifestantes, tudo decorreu de forma calma e ordeira, com a organização a solicitar o cumprimento do distanciamento social entre o pequeno grupo.
Envergando t-shirts com os dizeres "Luanda Lixada", os jovens exprimiram as preocupações que têm afligido os municípios de Luanda nos últimos meses face ao lixo acumulado, obrigando o Presidente angolano a criar, na semana passada, uma comissão interministerial emergencial para lidar com o problema.
Publicidade
Problema de saúde pública
Para o jornalista Israel Campos, de 21 anos, este é um problema que afeta substancialmente a saúde pública. "Temos muita gente nos hospitais a padecer de doenças como malária, febre tifoide, etc., por causa dos mosquitos, das chuvas e do lixo", sublinhou.
Do lixo para a cozinha: Conheça as tábuas "Pulango"
03:34
A ministra da Saúde, Silvia Lutucuta, que integra a comissão interministerial, admitiu na semana passada que a falta de higiene pode desencadear um surto de cólera e os médicos tem denunciado o aumento dos casos de diarreias e gastroenterites nos hospitais.
"Queremos chamar a atenção das nossas autoridades para que se encontre uma forma sustentável de resolução da problemática do lixo", em vez de paliativos, disse.
Contratos suspensos
O problema do lixo arrasta-se desde dezembro, altura em que o Governo Provincial de Luanda suspendeu os contratos com seis operadoras por incapacidade de pagar uma dívida que ascendia a mais de 300 milhões de euros.
Em fevereiro, o Presidente angolano, João Lourenço, autorizou a despesa para um concurso emergencial de serviços de limpeza e, em março, foi anunciado que sete novas empresas iriam assegurar a gestão de resíduos. No entanto, a alegada falta de experiência e de capacidade técnica dos novos operadores, bem como a falta de transparência dos concursos tem sido questionada.
Tchissala Figueiredo quis participar na marcha para mostrar a "insatisfação com a má gestão dos resíduos sólidos em Luanda", destacando que o problema não é de hoje.
"É inconcebível que até hoje não consigamos dar resposta a isso. Quando o mundo já está virado para a resolução de problemas ecológicos, nós ainda estamos focados em se vão recolher o lixo ou não. Isso é ridículo", desabafou.
Varredoras de Quelimane: Trabalho arriscado e mal pago
Mais de 270 mulheres fazem a limpeza da capital provincial da Zambézia, no centro de Moçambique. Com idades entre 40 e 60 anos, elas queixam-se das condições de trabalho e reclamam um salário digno.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Necessidade não vê idade
Alzira da Silva Mussalama, carinhosamente chamada "vovó Alzira" pelas colegas, é viúva e há 37 anos é varredora. Começou a trabalhar perto dos 19 anos. Agora com 56, a idade já pesa: ela sente dores constantes na coluna, mas, para garantir o seu sustento, é obrigada a aturar o trabalho. E "vovó Alzira" sequer tem um contrato de trabalho definitivo com a empresa municipal de limpeza urbana.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Companheiras de trabalho
A varredora Joaquina Luís (esquerda) também tem 56 anos de idade. E ao seu lado está Suraia Arune Jafar, que está há 16 anos na profissão. As colegas de trabalho, além de partilhar experiências, partilham preocupações. A maior de todas é o desconto salarial frequente. Elas dizem que a folha de pagamento não espelha o valor real que ambas recebem.
Foto: Marcelino Mueia/DW
O salário não compensa
Julieta Rafael, como as outras varredoras, pede a compaixão das autoridades para incrementarem o salário que considera péssimo e sem reajuste há vários anos. Com três filhos, a profissional diz que o pouco que recebe cobre apenas a alimentação da família durante um mês.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Falta de incentivo
Cecília Dinis José é supervisora das varredoras e queixa-se da falta de incentivos na profissão. Muitas varredoras exercem a atividade há pelo menos 15 anos, mas não são promovidas e nem mudam de carreira, embora tenham concluído algum nível académico - requisito principal exigido pelas autoridades para a promoção profissional.
Foto: Marcelino Mueia/DW
A chefe das mulheres
Hortência Agostinho é a diretora da empresa municipal de limpeza (EMUSA), uma instituição que é subordinada ao Conselho Autárquico de Quelimane e congrega 270 varredoras de rua. Como mulher, e a comandar as outras mulheres, Hortência diz que o seu desafio é garantir o salário a tempo e criar condições condignas de trabalho para as varredoras.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Riscos diários
Manter a cidade limpa constitui o maior desafio das varredoras. Mas o trabalho nas ruas é bastante arriscado. As varredoras enfrentam o risco de atropelamento devido à circulação dos automobilistas, motociclistas e ciclistas. Outro risco iminente é o de contrair doenças respiratórias devido à poeira e o cheiro de lixo.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Embelezamento da cidade
Além da limpeza das ruas, há quem cuide dos jardins municipais. É o caso da
Victória Mateus Dima (de fato azul), em companhia das suas colegas de
trabalho. Victória está acostumada com o trabalho que antes teve dificuldades de realizar por alguns considerarem uma tarefa masculina.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Amontoados de lixo
Entretanto, o lixo chega a permanecer dois ou três dias nas ruas. De um lado, a incapacidade das autoridades na coleta dos resíduos associada à falta de meios. Do outro, a conduta dos próprios munícipes que não obedecem os horários para o descarte do lixo - uma falta de respeito com o trabalho das varredoras.
Foto: Marcelino Mueia/DW
"Edifício sucata"
Esta é a sede da EMUSA, empresa responsável pelas varredoras de Quelimane. O edifício está sucateado e clama por manutenção, uma pintura externa e o aprimoramento dos sistemas de saneamento interno.
Foto: Marcelino Mueia/DW
Contentores de sucata
Além do edifício-sede da EMUSA, há contentores de lixo que se transformaram em ferro-velho. Os contentores chegaram a Quelimane há mais de dois anos, e o resultado é este. Esse sucateamento do setor dificulta ainda mais o trabalho das varredoras.