1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW
PolíticaPortugal

Lula da Silva: "A guerra não está a fazer bem à humanidade"

22 de abril de 2023

"É preciso parar a guerra na Ucrânia" e promover o diálogo, pede o Presidente brasileiro, Lula da Silva, em visita a Lisboa. Líder insiste na criação de grupo de países dispostos a avançar com um plano de paz afetiva.

Foto: João Carlos/DW

Luiz Inácio Lula da Silva iniciou este sábado (22/04) a visita de cinco dias a Portugal. O Presidente da República Federativa do Brasil, que se faz acompanhar da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, cumpre um intenso programa que começou esta manhã na Praça do Império no Mosteiro dos Jerónimos, onde, depois das honras militares protocolares sempre na companhia do seu anfitrião Marcelo Rebelo de Sousa, depositou uma coroa de flores no túmulo do poeta Luís de Camões.

No outro lado do jardim da praça, rodeada de forte aparato policial, um grupo de brasileiros residentes em Portugal expressava o seu apoio a Lula da Silva. De longe da vasta comitiva presidencial os imigrantes gritavam: "Lula, guerreiro do povo brasileiro"; "Benvindo Presidente Lula", numa manifestação eufórica que simboliza o merecido acolhimento do chefe de Estado do Brasil em Portugal.

Lula da Silva e Marcelo Rebelo de Sousa reuniram-se, de seguida, no Palácio de Belém, por volta das 11h30 (hora local), a anteceder uma expectante conferência de imprensa e a XIII Cimeira Luso-Brasileira, com o primeiro-ministro português, António Costa, no Centro Cultural de Belém.

Visita de Lula da Silva era aguardada por cidadãos em LisboaFoto: João Carlos/DW

"Ocasião totalmente especial", qualificou Lula em alusão a esta sua deslocação a Portugal, que marca o relançamento do "diálogo bilateral". Com o Presidente português, Lula discutiu iniciativas para ampliar as relações económicas e comerciais, bem como dinamizar as atividades culturais e de cooperação na área da educação. "Os investimentos em ambos os sentidos e as operações conjuntas de nossas empresas são cada vez mais encorajadores", referiu Lula para evocar o "potencial extraordinário" que possuem os dois países com potencial para redobrar o fluxo comercial. Para isso, acrescentou, os políticos abrem as portas e os agentes económicos devem ser "mais ousados" no financiamento, por exemplo, de setores como a indústria e a produção agrícola, para melhorar a vida dos respetivos povos. Pontos que Lula quer ver desenvolvidos no Fórum Empresarial, a ter lugar esta segunda-feira (24/04), em Matosinhos, norte de Portugal.

Valorizar mais a língua portuguesa

A visita serve também para rever a situação dos cerca de 300 mil brasileiros que escolheram Portugal para viver e trabalhar. São também milhares os portugueses que estão no Brasil "onde encontraram a razão de viver e construir o futuro", segundo palavras de Marcelo Rebelo de Sousa. Deixando para trás o "menos bom" do passado histórico comum, Marcelo disse que "agora é tempo de futuro, de olhar para a frente e alargar mais o horizonte".

"O Brasil está a regressar à maior projeção no mundo, ao multilateralismo, ao diálogo entre culturas, continentes, oceanos, colosso geopolítico, que quer pontes, desvendar caminhos, fomentar paz e justiça, não se fechando sobre si mesmo", afirmou o estadista português que, neste contexto, aludiu à participação dos dois chefes de Estado na próxima cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que terá lugar em agosto deste ano em São Tomé e Príncipe.

Parada militar observada pelos dois Chefes de EstadoFoto: João Carlos/DW

No quadro da União Europeia, Marcelo também destacou a importância da parceria com o Mercosul e o diálogo com África, Ásia e o Pacífico.

Por seu lado, Lula quer ver a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) a recolher "bons frutos" no xadrez mundial a favor dos cerca de 300 milhões de habitantes que compõem o grupo lusófono, cuja língua é um poderoso instrumento de mobilização. Antes, porém, Lula defendeu o reconhecimento da língua portuguesa como língua oficial na Organização das Nações Unidas (ONU). "Eu acho uma falta de respeito dos outros connosco e uma falta de respeito de nós mesmos connosco", lamentou, desafiando os demais dirigentes da CPLP e aliados a encetar iniciativas para a valorização da língua portuguesa.

Guerra na Ucrânia e proposta de paz

Contra a desinformação nas redes sociais, Lula reafirmou a condenação do seu Governo à violação da integridade territorial da Ucrânia e defende uma solução política negociada para o conflito. O Presidente insiste na criação urgente de um grupo de países que promova o diálogo entre a Ucrânia e a Rússia, em busca da paz. "A guerra não está a fazer bem à humanidade", afirmou.

Depois das críticas que fez à invasão russa no Conselho de Segurança, o Brasil reafirma não ser favorável à guerra na Ucrânia. Lula da Silva reassumiu esta posição, durante a conferência de imprensa que se seguiu ao encontro com o seu homólogo português. "Nós queremos a paz", sublinhou, recordando os contactos que já efetuou com dirigentes europeus e chineses com esse objetivo.

O Chefe de Estado brasileiro propõe encontrar "um grupo de países" interessados na paz "que possa formular uma relação de confiança" para fazer parar a guerra. "Será infinitamente melhor para o mundo se a gente conseguir uma forma de fazer a paz", afirmou crente na proposta, sublinhando que "o Brasil não quer participar da guerra".

A posição brasileiradiverge em parte da postura portuguesa que, de acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, alinha com a União Europeia e a NATO, que estão dispostas a continuar a ajudar a Ucrânia. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a Ucrânia tem o direito a "defender-se e a tentar recuperar o território que foi invadido por violação da integridade territorial da sua soberania".

Lula da Silva compreende posição da Europa, mas pede também que se entenda o posicionamento do Brasil sobre a invasão da UcrâniaFoto: Joédson Alves/Agência Brasil

Lula compreende a posição da Europa, mas pede também que se entenda o posicionamento do Brasil, considerando que "a guerra só destrói". Neste contexto, o estadista brasileiro assegura que só irá à Rússia e à Ucrânia "quando houver possibilidade" de "um clima de construção de paz" efetiva.

Defesa do clima

Por outro lado, o Brasil será implacável no combate aos crimes ambientais, segundo as palavras de Lula. Até 2030, o país prossegue o esforço contra o desmatamento na Amazónia e assegura que será rigoroso na repressão ao garimpo ilegal e contra os que atentam contra os povos indígenas. Em suma, são exemplos defendidos pelo Presidente brasileiro que, ao reivindicar acolher a cimeira COP-30 no Estado do Pará em 2025, quer ver mudanças na governação a nível mundial, sobretudo em defesa do clima.

Esta tarde, o Centro Cultural de Belém foi palco da cimeira luso-brasileira co-presidida por Lula da Silva e o primeiro-ministro português, António Costa, sob o lema "Uma parceria para o futuro", considerado um momento marcante nas relações bilaterais. Com esta visita, Portugal e Brasil retomam o caráter anual das cimeiras, tendo sido assinados vários instrumentos jurídicos para o reforço da cooperação no final das reuniões entre os membros de Governos dos dois países.

Notícia atualizada às 19h20

Saltar a secção Mais sobre este tema