Lunda Norte: Oposição exige demissões no Governo e Polícia
Manuel Luamba
1 de fevereiro de 2021
Reações ao sucedido, na região do Cafunfo, no fim de semana, continuam. UNITA diz tratar-se de um "genocídio" e igreja católica fala "num massacre de cidadãos". Fontes no terreno falam em 25 mortes.
"Neste momento, pela nossa própria contabilidade morreram 25 pessoas. E as autoridades sabem que isso é grave para eles. Temos 28 pessoas que foram transferidos esta manhã do Cafunfo para o hospital do Dundo", assevera, em entrevista à DW África, o presidente do Protectorado da Lunda Tchokwe, José Zecamutchima, que acrescenta que há ainda muitos cidadãos desaparecidos, pelo que o número de mortes pode ainda aumentar.
O mesmo responsável afirma que, neste momento, o clima é de medo, de terror e caça às bruxas na região.
"As famílias não estão a sair à rua porque continua a caça ao homem, continuam as restrições. Em Cafunfo, há tiroteios minuto a minuto e as pessoas estão com medo de sair as ruas", conta.
A versão das autoridades é diferente. Paulo de Almeida, comandante geral da polícia que se deslocou este fim-de-semana à região, fala apenas de seis mortes e num clima calmo.
De acordo com a corporação, a "rebelião armada", deste sábado (30.01), como é classificada pela polícia, contou com cerca de 300 elementos do Protectorado da Lunda Tchokwe que tentou invadir a esquadra policial com o objetivo de retirar a bandeira da República de Angola e substitui-la pela do Protectorado. Segundo o comandante, está aberta uma investigação e os manifestantes, que apelida de "vândalos", serão responsabilizados.
"Do registo que temos, ocorreram ontem quatro mortos por parte destes vândalos e hoje houve dois feridos que acabaram por morrer. Do lado das forças houve dois feridos: um oficial superior das Forças Armadas e um oficial da polícia nacional, que está em estado crítico", adianta Paulo de Almeida.
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"Informação manipulada", diz OMUNGA
João Malavindele, coordenador da ONG OMUNGA, com sede em Benguela, não acredita nos dados da polícia e fala em manipulação da informação. "O Executivo angolano precisa de saber que o nível de consciencialização não permite, sobretudo nos dias de hoje informações manipuladas. Que rebelião é essa onde só há vítimas de um lado e o outro sai ileso?", questiona.
Malavindele lembra o confronto entre fiéis da Igreja a Luz do Mundo de José Julino Kalupeteka, em 2015, e acusa a polícia de estar a semear sequelas nas famílias angolanas. O resultado do inquérito deste tumulto do Huambo ainda não é conhecido, numa altura em que surge mais um caso de assassinato para investigar.
No caso ocorrido em Cafunfo, o líder da OMUNGA defende a criação de uma comissão independente e a consequente responsabilização criminal e civil dos implicados.
Ativistas feridos e detidos em protesto em Angola
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"Mais uma vez, a OMUNGA condena a ação da polícia e exige que se faça uma investigação transparente, se possível com o envolvimento das várias forças da sociedade civil, no sentido de se responsabilizar criminalmente os agentes envolvidos e responsabilizar civilmente o Estado angolano", afirma.
Numa nota de imprensa tornada pública essa segunda-feira (01.02), os bispos católicos do leste de Angola condenaram o "massacre de cidadãos", na região diamantífera do Cuango. A igreja católica diz ser "inaceitável que se matem pessoas em tempo de paz".
Oposição exige exonerações
As reações estenderam-se também pela oposição angolana. Adão Ramos, do Bloco Democrático, um dos partidos integrantes da CASA-CE, acusa o partido no poder, o MPLA, de tentar calar vozes contestatárias em Angola.
"Mais uma vez, o atual regime mostra a sua verdadeira essência: recorrer às armas para calar as vozes discordantes. Não é possível calar eternamente as reivindicações discordantes quando elas assentam em pedidos de justiça".
Por sua vez, a UNITA, o maior partido da oposição angolana, criou uma delegação constituída por deputados que se deslocou a zona do confronto. O deputado Joaquim Nafoa, um dos integrantes, diz ser prematuro falar sobre o número exato de vítimas, mas de uma coisa tem a certeza: "houve genocídio no Cuango".
"O que lhe posso afirmar é que houve um massacre, houve um genocídio como sempre. Em 1998, no calor das armas, as forças de governo, na localidade do Bula, na Vila de Cafunfo, as forças de governo chegaram de assassinar, no mês de setembro, 167 cidadãos".
Por isso, este deputado da UNITA, exige a exoneração das altas patentes do Ministério do Interior e da Polícia Nacional. Também quer que o Presidente da República João Lourenço, quebre o silêncio.
"Se há alguém que deve ser exonerado é o próprio comandante geral da polícia, o ministro do interior e o próprio Presidente da República que é o mandante número um".
15 momentos que marcaram o "annus horribilis" de 2020
2020 ficará para sempre conhecido como o ano da pandemia de Covid-19. Entretanto, foi também marcado por momentos-chave a vários níveis - desde a morte de George Floyd, nos EUA, às manifestações em Angola.
Foto: Jacob King/REUTERS
Isabel dos Santos e o caso "Luanda Leaks"
Em janeiro, a empresária angolana foi constituída arguida por alegado desvio de fundos na petrolífera estatal Sonangol. Ao longo do ano, teve arrestadas as suas contas bancárias e participações da NOS em Portugal, testemunhou a nacionalização da sua parte na Efacec e, ainda, viu o hacker português Rui Pinto - fonte dos documentos que levaram ao "Luanda Leaks" - aguardar o julgamento em liberdade.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel
Sissoco Embaló: Tomada de posse "simbólica"
Em fevereiro, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. Estava ainda em curso um contencioso eleitoral interposto pelo opositor Domingos Simões Pereira, que apelidou a tomada de posse de "golpe de Estado". O novo Presidente demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, nomeando o novo Executivo do primeiro-ministro Nuno Nabiam.
Foto: DW/I. Dansó
OMS declara pandemia de Covid-19
Todos os PALOP entraram em estado de emergência depois da declaração da Organização Mundial da Saúde, em março. A pandemia levou ao adiamento de vários eventos mundiais, como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Africano das Nações (CAN). Em abril, mais da metade da população mundial estava confinada em casa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Gonchar
"I can't breathe": A morte de George Floyd
O afro-americano morreu em maio nos EUA, sufocado por um polícia que colocou o joelho sobre o seu pescoço durante durante 8 minutos e 46 segundos. A frase "I can't breathe" ("Não consigo respirar"), proferida por Floyd antes de morrer, tornou-se viral. A morte motivou protestos antirracismo em todo o mundo, levou à vandalização de estátuas coloniais e impulsionou o movimento Black Lives Matter.
Foto: Getty Images/S. Maturen
"Perseguição política" na Guiné-Bissau
Em maio, o deputado Marciano Indi foi sequestrado após ter expressado opiniões que terão desagradado ao Presidente guineense. O ano ficou também marcado pelo rapto e sequestro de vários ativistas, alegadamente por seguranças de Sissoco Embaló. A agitação política levou o ex-primeiro-ministro Aristides Gomes (na foto) a refugiar-se na sede da ONU em Bissau. Gomes fala em "perseguição política".
Foto: DW/B. Darame
Cabo Verde processado por violação dos direitos humanos
O empresário Alex Saab foi detido na ilha do Sal, em junho, mediante mandado de captura dos EUA, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Saab denunciou ter sido torturado na prisão a mando dos EUA. Pela primeira vez, Cabo Verde foi processado por violar direitos humanos no seu território. Em dezembro, a CEDEAO ordenou a prisão domiciliária do colombiano.
Foto: Governo de Cabo Verde
Moção de censura contra Governo de STP
Em julho, o principal partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), apresentou uma moção de censura contra o Governo do primeiro-ministro Jorge Bom Jesus. A gestão dos fundos contra a Covid-19 foi um dos motivos apresentados pela ADI, que acusou ainda o Executivo de agir com "práticas sistemáticas de ilegalidades". A moção foi rejeitada pelo Parlamento são-tomense.
Foto: DW/R. Graça
Tragédia em Beirute
Em agosto, uma explosão no porto de Beirute, provocada por 2,7 toneladas de nitrato de amónio, devastou grande parte da capital libanesa, provocando mais de 200 mortos e 6.500 feridos. A carga de amónio era uma encomenda da Fábrica de Explosivos de Moçambique e tinha como destino o porto da Beira. Contudo, o navio ficou retido em Beirute por ordem das autoridades locais e a carga foi substituída.
Foto: Getty Images/AFP/STR
"Zenu" condenado no caso "500 milhões"
O filho dos ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, José Filomeno 'Zenu' dos Santos, foi condenado em agosto a cinco anos de prisão por crimes de burla e defraudação, peculato e tráfico de influências. Em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do banco central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres.
Foto: Grayling
Luta contra a corrupção continua em Angola
Ainda este ano, o empresário Carlos São Vicente ficou em prisão preventiva e o ex-ministro da Comunicação Social Manuel Rabelais (na foto) começou a ser julgado. Ambos são acusados de peculato e branqueamento de capitais. Por outro lado, Edeltrudes Costa, diretor de Gabinete do Presidente João Lourenço, não é alvo de qualquer processo, apesar de alegado envolvimento em escândalos de corrupção.
Foto: Imago/Xinhua
Incêndio na redação do Canal de Moçambique
O editor-executivo do semanário classificou o incêndio ocorrido em agosto nos escritórios do Canal de Moçambique como "atentado terrorista contra liberdade de expressão e de imprensa", acrescentando que "uns são raptados e outros são intimidados". Matias Guente refere-se, por exemplo, ao caso do jornalista Ibrahimo Mbaruco, desaparecido desde abril na província nortenha de Cabo Delgado.
Foto: Adriano Nuvunga/CDD
EI diz ter tomado porto de Mocímboa da Praia
A 11 de agosto, um grupo de homens armados anunciou a tomada do porto da vila de Mocímboa da Praia. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ataque. O número de deslocados da província nortenha de Cabo Delgado escalou exponenciamente. Em dezembro, o Governo moçambicano anunciou que pelo menos 560 mil cidadãos tiveram de fugir do conflito.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Biden vence eleições norte-americanas
Novembro foi o mês em que Donald Trump sofreu a derrota nas presidenciais dos EUA. Mas o republicano queixou-se sucessivamente de fraude eleitoral, sem apresentar provas. A Casa Branca terá novos ocupantes: Joe Biden e Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-Presidente dos EUA. Filha de pai jamaicano e de mãe indiana, Harris será também a primeira mulher negra a ocupar o posto.
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Dia da Independência em Angola marcado por manifestações
O dia 11 de novembro foi o mais intenso das manifestações por melhores condições de vida e pela realização das primeiras eleições autárquicas em Angola. A polícia reprimiu o protesto violentamente. A morte do jovem manifestante Inocêncio Matos gerou indignação. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo o ativista Nito Alves. Luaty Beirão e outros ativistas foram detidos.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Covid-19: A corrida da vacina
O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada pela primeira vez em dezembro. A primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 foi uma mulher britânica de 90 anos (na foto). O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V, numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.