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Lunda Sul: Onde o brilho dos diamantes não chega à população

Manuel Luamba
22 de maio de 2022

Em Angola, a população da Lunda Sul, uma das províncias exploradoras de diamantes do país, queixa-se que falta quase tudo. Não há emprego e os jovens recorrem à venda ambulante e ao negócio de mototáxi para sobreviver.

Angola Lunda Sul
População e camionistas queixam-se da qualidade das estradas de acesso à província da Lunda SulFoto: Manuel Luamba/DW

Para quem viaja, por estrada, para Saurimo, na província da Lunda Sul, o calvário começa no município do Xá Muteba, província da Lunda Norte. 

Passa-se por uma estrada totalmente esburacada e terraplanada. A poeira, arrastada por camiões - principais viaturas que circulam na via - chega a "engolir” os carros ligeiros. 

Não é fácil circular por esta via, confirma Luís Garcia, um camionista assíduo da estrada improvisada há mais de 20 anos.

"É esta a estrada que nós temos cá em Angola. A circulação fazemos com grandes constrangimentos, mas não temos outra opção… é o trabalho que temos”, lamenta.

Luís Garcia conta que, em condições normais, uma viagem de Luanda a Saurimo, capital da Lunda Sul, levaria apenas 24 horas. Mas, com as péssimas estradas, pode demorar até três dias e os danos nas viaturas são incalculáveis.

"Desde amortecedores, a molas. As viaturas têm tido vários danos”.

Mais de cinco empresas de construção civil encontram-se na via a reabilitar a estrada, por isso, há esperança em dias melhores. Ainda assim, Luís Garcia lamenta que as obras parecem não ter fim à vista.

"O prazo inicial era de 18 meses. Desde o início das obras até à data presente, falta fazer quase tudo. Não há empresa de construção civil que consiga fazer isto em tempo recorde. Não existe”, frisa.

Mais de cinco empresas de construção civil encontram-se a reabilitar estrada de acesso a SaurimoFoto: Manuel Luamba/DW

Falta de emprego

Lunda Sul é uma das províncias exploradoras de diamantes no leste de Angola. 

A Sociedade Mineira de Catoca é uma das principais empresas angolanas de prospeção, exploração, recuperação e comercialização da chamada "pedra preciosa”. Mas parece que o brilho destas pedras não reflete na vida da maioria da população local. 

A falta de emprego obrigou a maioria dos jovens a lançar-se na atividade de mototáxis. Em Saurimo, não se fala em "Kupapata”, como no sul e norte do país. Fala-se em "KDM”. É este meio de transporte que sustenta Castelo Cambassariaka.

"Aqui não há emprego. Dizem-nos sempre que um dia vamos ter mais emprego, mas até hoje nada. Estamos assim, à rasca, a trabalhar em mototáxis todos os dias”, conta.

Cambassariaka explica, por outro lado, que as empresas de exploração mineira recrutam com frequência. Mas não é para todos.

"Recrutam só que tem de entrar algum dinheiro. Tem que se entregar ‘gasosa' a alguém que tem uma vaga [de emprego] para que possa colocar lá alguém”, justifica.

Castelo Cambassariaka lançou-se no negócio dos matotáxis para contornar o desempregoFoto: Manuel Luamba/DW

Venda ambulante para o sustento

Se no centro urbano os jovens sobrevivem da atividade de mototáxi, na periferia é a venda ambulante que põe o "pão na mesa”. É o caso de Xavier Elias que no período da manhã vai à escola e, à tarde, comercializa diferentes produtos num carrinho de mão. 

"Eu vendo neste carrinho de mão para conseguir sustentar-me. Acabei de sair da escola e estou aqui para vender, talvez consiga uns 500 kwanzas (cerca de um euro) para sustentar a escola”.

Mariano Júlio, outro jovem, tem a mesma rotina. Conta que, por cada barra de sabão, ganha menos de 1 euro.

"O sabão está muito caro, procuramos vender a um preço acima do preço que comprámos para ter algum lucro mas não chega”.

Na periferia é a venda ambulante em carrinhos de mão que põe o "pão na mesa" de muitos jovensFoto: Manuel Luamba/DW

Situação social degrada-se

Carlos Suco, padre da igreja católica local, mostra-se preocupado com a situação social da população.

"A vida social tem-se degradando a vários níveis e constitui uma grande preocupação para a igreja. Há tantos jovens que terminaram os estudos e não sabem o que fazer. E estamos preocupados com isso porque é o trabalho que dignifica a pessoa humana e sem o trabalho, que gera rendimento, fica-se privado de tudo”, sublinha.

Também fica-se privado de assistência médica, outro setor que constitui uma preocupação para a igreja, salienta o padre. 

"É verdade que o Governo está a fazer muito em termos de construção de edifícios, mas faltam recursos humanos. Porque os edifícios, por si só, não chegam. Precisamos também de pessoas que estejam ao serviço sanitário”, complementa.

Padre Carlos Suco também lança críticas à forma como o Governo central gere o setor da educação em Angola.

"Costumo dizer que, muitas das vezes, o critério para podermos medir se um Governo é tirano ou não, é vermos o modo como gere o setor da educação e o da saúde”.

A DW tentou ouvir o governo provincial da Lunda Sul, mas sem sucesso.

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