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ReligiãoAngola

Máfia das igrejas continua a alastrar em Angola

Simão Lelo
10 de agosto de 2024

O crescimento das confissões religiosas em Angola preocupa alguns setores da sociedade, que receiam o aumento da usurpação de bens dos fiéis. Especialistas pedem mais fiscalização.

Foto: Heike Lyding/epd/imago images

Em Angola, a proliferação de seitas religiosas é evidente, com muitas a funcionarem em quintais privados. Dados indicam que existem mais de duas mil igrejas espalhadas pelo país, sendo que 80% estão localizadas em Luanda.

Várias denúncias indicam que a proliferação de seitas está por vezes associada a cenários de aproveitamento por parte de pastores e líderes religiosos, que exigem dízimos e ofertas, muitas vezes de forma obrigatória.

"É preocupante quando há um pastor que não trabalha, mas tem uma vida luxuosa, enquanto os seus membros passam dificuldades. Os pastores vivem em mansões, têm filhos na Europa e carros de luxo", comentou à DW África o jurista e académico Domingos João Marques.

Só em Cabinda, há registo de pelo menos 68 igrejas reconhecidas e 11 comissões instaladoras que aguardam o seu reconhecimento, mas que já receberam credenciais provisórias para exercerem as suas atividades.

Catedral da Igreja Católica em CabindaFoto: Simão Lelo/DW

Armando, membro da Igreja Nova Jerusalém, na Zona do Pio, afirma que a situação está a agravar-se.

"Hoje existe o pastor fiel e infiel, ganancioso e não ganancioso. Nós contribuímos não com o objetivo de eles se apoderarem, mas sim de ajudar os viúvos e órfãos", afirmou.

Segundo testemunhas no terreno, os membros das igrejas e seitas religiosas subtraem dinheiro aos fiéis para financiar construções de templos e vivendas pastorais, bem como a compra de carros de luxo e gastos com a comunicação social.

Nos cultos, além do tradicional dízimo, cresce a venda de produtos "abençoados", como garrafas de azeite ou de água, lenços, entre outros.

O bispo da Igreja Católica em Cabinda, Belmiro Chissengueti, defende a necessidade de regulamentar o setor, para disciplinar os infratores da lei de liberdade de culto.

"É necessário estabelecer algumas balizas, como formação teológica e humanística, para que a igreja não se transforme em lugar de aproveitamento e destruição de culturas, enganando a consciência das pessoas", opinou.

Belmiro Chissengueti, bispo da Igreja Católica em CabindaFoto: Simão Lelo/DW

O Pastor António Muteka, da Igreja Metodista, também expressa preocupação com o surgimento de seitas.

"Todos os dias nascem seitas que enriquecem o tecido religioso cristão angolano, mas, por outro lado, desvirtuam os valores das famílias", referiu.

O Ministério da Cultura, através do Instituto Nacional para os Assuntos Religiosos (INAR), já informou que está a estudar a problemática dos fenómenos religiosos em Angola.

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