Sonja Schwab criou a Associação Tabanka que tem até duas farmácias. Mas a associação ainda enfrenta um obstáculo: os curandeiros não divulgam facilmente o conhecimento que têm sobre plantas curativas.
Publicidade
Um convite para dar um curso levou Sonja Schwab à Guiné-Bissau dezassete anos depois. A vontade de voltar a manter contacto com o país sempre existiu. E o convite do grupo de medicina natural da Guiné-Bissau marcou o recomeço.
A médica alemã que trabalhou no setor de saúde materno-infantil na Guiné-Bissau de 1981 a 1985 tem dado cursos anuais sobre medicina natural desde 2002.
A dra. Sonja, como é conhecida lá, diz o que ensina nas suas formações: "O valor das plantas, como tranformar as plantas, como fazer um xarope, como fazer uma pomada, mas sempre com muito cuidado em relação à higiene."
Mónica Canavesi é responsável do Grupo de Medicina Natural da Guiné-Bissau, um organismo que coopera com a doutora Sonja, e sublinha que "a diferença entre o grupo da medicina tradicional e a medicina natural é que enquanto os primeiros peraparam um medicamento que tem de ser consumido num dia enquanto os xaropes e pomadas podem ser conservados por mais tempo, mantém as suas propriedades curativas."
Livros sobre higiene fazem sucesso entre os guineenses
E foi no contexto das formações que Sonja Schwab criou a Associação Tabanka. O objetivo é difundir cada vez mais as práticas de cura através da medicina natural e cuidados de higiene. A Associação Tabanka produz brochuras e pequenos livros educativos.
A médica conta como é produzir este material: "Praticamente só somos nós que fazemos isso, a revista sobre higiene, trabalhávamos em conjunto com dois artistas da Guiné-Bissau. Eu dava algumas ideias e eles fizeram a banda desenhada e cuidaram de aspetos linguísticos. E as crianças nas escolas gostam muito."
Os livros são distribuidos nas escolas especiais designadas EVA, Educação de Verificação Ambiental e
a médica diz que "nessas escolas trabalham com a natureza."
21.09.17. ONLINE GB Medicina Natural - MP3-Mono
Mas a Associação chega também a outros alvos:"E também fizemos um livro para as mulheres das tabankas (aldeias) afastadas, para que mesmo sem saberem ler e escrever, possam perceber o valor dos medicamentos naturais, mas também usar os medicamentos na dosagem certa."
Novo conceito: farmácias de medicamentos naturais
A Associação Tabanka têm duas farmácias, uma em Bissau e outra em Mansoa, onde tudo começou. A fundadora já colhe bons frutos e revela com agrado que "agora há uma grande procura dos medicamentos nas farmácias da associação e isso é um bom resultado. As pessoas agora confiam, porque sabem que trabalhamos com muita higiene e cuidado."
E a médica recorda que "infelizmente muitos medicamentos nas farmácias convencionais são falsos e por isso tem mais confiança na medicina natural."
Conhecimento dos curandeiros "fechado a sete chaves"
A doutora Sonja sempre contou com o apoio do marido, Arnold Schwab. Na Guiné-Bissau esteve sempre na companhia do engenheiro agrónomo. Mas em relação ao trabalho feito pela Associação, Arnold Schwab lembra que nem tudo é tão bonito assim.
Por exemplo, que nem sempre é fácil obter o conhecimento que os curandeiros têm sobre as plantas medicinais: "Mas eles têm problemas em divulgar esse conhecimento, eles fecham-se para não perderem os conhecimentos. E a nossa preocupação é de alargar os conhecimentos com plantações públicas dessas ervas que curam doenças básicas."
Carências do principal hospital de Bissau
O Hospital Nacional Simão Mendes é considerado a unidade hospitalar de referência na Guiné-Bissau. Mas falta quase tudo: pessoal especializado, medicamentos básicos, aparelhos de diagnóstico.
Foto: Gilberto Fontes
Crise política deixa hospital a meio gás
Com a instabilidade política agravaram-se as necessidades no principal hospital da Guiné-Bissau e caíram por terra as expectativas da equipa hospitalar que esperava mais atenção por parte das autoridades. A Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras prestam apoio. Mas, mesmo assim, perdem-se muitas vidas por falta de condições básicas de assistência.
Foto: Gilberto Fontes
À espera da hemodiálise...
O país ainda não consegue tratar doentes com insuficiência renal. O hospital tem estas instalações novas para iniciar tratamentos. Só falta a máquina da hemodiálise. Curioso é que o equipamento está no hospital, fechado há anos numa sala, cuja chave está com o Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar. Um nefrologista e vários técnicos fizeram formação em diálise, que ainda não podem aplicar.
Foto: Gilberto Fontes
Enquanto isso a população sofre
Doentes, como esta senhora, só podem receber tratamentos de hemodiálise no Senegal. No entanto, cada sessão chega a custar 150 euros. O que é insustentável para muitos doentes que, normalmente, necessitam de várias sessões semanais. Quando a doença é detetada numa fase inicial, aciona-se a evacuação para Portugal. Mas o processo é moroso. Muitos doentes acabam por falecer por falta de tratamento.
Foto: Gilberto Fontes
Há equipamentos novos parados...
O técnico de radiologia Hécio Norberto Araújo lamenta que este aparelho novo de radiografias esteja praticamente parado. Só faz alguns exames, em casos de urgência. Também o equipamento de mamografia nunca funcionou devido à falta de acessórios, como o chassi e o aparelho de revelação. O hospital militar continua a ser o único no país a fazer mamografias e tomografias, que podem custar 100 euros.
Foto: Gilberto Fontes
E máquinas obsoletas em uso
Na falta de opções, este velho aparelho de raio x continua a ser muito requisitado. Ninguém sabe quantos anos tem o equipamento que funciona com arranjos improvisados de fita-cola. A pequena sala de diagnóstico está desprovida de qualquer proteção contra as radiações. O único avental de proteção está estragado. Os técnicos de radiologia estão diariamente expostos a radiações eletromagnéticas.
Foto: Gilberto Fontes
Sem mãos a medir na pediatria
Esta unidade costuma estar cheia, principalmente na época das chuvas, com o aumento de casos de malária ou paludismo e diarreia nas crianças. Neste serviço com 158 camas, há apenas nove médicos efetivos e quase 40 enfermeiros. Entre o pessoal médico, conta-se um único especializado em pediatria. A falta de um eletrocardiograma é responsável pelo diagnóstico tardio de cardiopatias entre os menores.
Foto: Gilberto Fontes
Nem medicamentos para emergências
Nos cuidados intensivos há apenas um cardiologista. A maioria do pessoal médico são clínicos gerais. Por vezes, em plena situação de paragem cardíaca, falta medicação de urgência que os familiares do doente têm de se apressar em providenciar. A equipa hospitalar quer mais investimento em formação e em condições de trabalho. Só assim pode salvar mais vidas e diminuir a evacuação para o exterior.
Foto: Gilberto Fontes
Faltam lençóis e comida
O Hospital Nacional Simão Mendes tem mais de 500 camas. Mas não tem lençóis que cheguem para fazer a cobertura de todas elas. Devido à falta de pijamas, muitos doentes ficam hospitalizados com a roupa que trazem no corpo. Além disso, não há como providenciar alimentação aos pacientes que, na maior parte das vezes, ficam dependentes da comida que os familiares conseguem fazer chegar.