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Cultura

Mû Mbana pretende divulgar instrumentos dos povos bijagós

Braima Darame (Bissau)
7 de setembro de 2018

Músico guineense apresentou-se (07.09) ao público alemão com instrumentos tradicionais dos bijagós da Guiné-Bissau. Mû Mbana defendeu que se pode compreender melhor a evolução dos povos através das expressões culturais

Mu Mbana Musiker Guinea-Bissau besucht DW
Foto: DW/Braima Darame

Chama-se Mû Mbana. Chegou à Europa para estudar arte em Portugal e acabou por formar-se na música, em Barcelona, Espanha. O artista, compositor, poeta e multi-instrumentista entende que se pode compreender melhor a real dinâmica da sociedade guineense através da música tradicional composta por diferentes expressões étnicas da Guiné-Bissau. Faz fusão das sonoridades do passado com as novas tendências. Essas ligações, do passado ao presente, valeram-lhe 20 anos de pesquisa só para resgatar instrumentos tradicionais e manter a originalidade na música que compõe. 

"Desde pequeno tinha uma voz interna a dizer-me que a música tinha algo para me dar. Fiz a música desde que me lembro de mim. Acabei por estudar a música de forma académica para conhecer a linguagem moderna da música, composição e forma oral, estar com mestres, aprender e observar conhecer um pouco a filosofia do que é pratica da música. Nos últimos 10 anos ando com um pé aqui e outro na Guiné-Bissau a fazer pesquisas", disse Mû Mbana.

Nasceu na Ilha de Bolama, no arquipélago dos Bijagós, mas há 27 anos que fixou residência na Europa, nomeadamente em Barcelona, tendo editado 10 discos de originais, ao lado de músicos de outras nacionalidades. O último trabalho discográfico foi lançado em 2017, INÊN (que significa duas mãos), contém temas inéditos de sua autoria, com ênfase para um estilo espiritual em que cria uma comunicação íntima entre a voz e as cordas dos instrumentos tradicionais da Guiné-Bissau. 

Instrumentos tradicionais

Depois de 20 anos a percorrer o mundo com os estilos populares, concluiu que ao repescar os instrumentos mais antigos da tradição dos povos das ilhas Bijagós estaria a projectar a história e a imagem que definem as raízes do seu povo. Na sua passagem pela Alemanha, para contatos profissionais , Mû Mbana esteve aqui na DW em Bonn.

Foto: DW/Braima Darame

Trajado de panos de pente e com Simbi e o Tonkorongh, dois instrumentos tradicionais da música guineense, em entrevista o músico entende que resgatar os valores culturais, com grandes simbolismos étnicos, seria mais fácil ao mundo compreender e acompanhar a verdadeira dinâmica da sociedade do campo, a sua vivência e costumes.

"Já regressei às origens, a tocar mais instrumentos da Guiné, a cantar crioulo e outras línguas étnicas. É mais ou menos isso, fazer a gente voltar para a nossa essência", argumenta.

INÊN, último trabalho discográfico

 O INÊN, último álbum que já foi apresentado na Guiné-Bissau, comporta essencialmente ritmos tradicionais que caraterizam os povos urbanos através dos instrumentos musicais dos séculos passados e quase em esquecimento. Mbana que, das pesquisas que fez nas zonas mais isoladas das ilhas Bijagós, chegou à conclusão que através das letras, melodias, danças e sons, histórias e memórias das tradições antigas é possível compreendermos a Guiné de hoje:

"Como não houve uma integração dos instrumentos musicais tradicionais na revoluço musical da Guiné dos 60, 70 e 80, então esses instrumentos caíram quase no esquecimento. Gosto muito dos sons desses instrumentos, da mensagem que eles trazem e toda a riqueza tímbrica que têm. Então decidi ficar mais envolvido com esses instrumentos para os  aplicar fora dos contextos tradicionais. Esses instrumentos são muito apreciados aqui na Europa e na América.Com muita pedalada nos grandes festivais multi-culturais, o último foi Nuits d'Africa de Montreal, no Canadá, há 18 anos que Mû Mbana decidiu vestir-se apenas com tecidos e coleções de peças tradicionais de várias etnias da Guiné-Bissau. Na entrevista à DW África, ele confiou-nos que raras vezes veste roupas do ocidente.

Mû Mbana pretende divulgar instrumentos tradicionais dos povos bijagós

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"É uma linguagem, a arte de vestir. Para mim é algo tão nobre ao ponto de não me sentr bem sem usar pano de pente. Dentro da nossa diversidade cultural é um vínculo que continua a unir toda a sociedade guineense. Todas as culturas usam pano de pente nalgum momento importante da vida. Nascemos embrulhados no pano de pente e somos a enterrados envoltos nesse pano. É algo que transcende qualquer bem material".

Durante a sua estada aqui na Alemanha, Mû Mbana aproveitou para apresentar o seu trabalho ao público da cidade de Colónia, um mercado que, segundo ele, pretende explorar ainda mais no futuro.

 

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