Criado plano para desmantelar tráfico de imigrantes na Líbia
Jens Borchers | ac | Lusa
30 de novembro de 2017
O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou na cimeira UE/África, em Abidjan, uma operação militar e policial para desmantelar redes de tráfico de imigrantes na Líbia. ONU, UE e UA criam grupo para combater máfias.
"É preciso intervir, não basta denunciar", defendeu o Presidente da França, Emmanuel Macron, ao anunciar na quarta-feira (29.11), uma operação militar e policial para desmantelar redes de tráfico de migrantes na Líbia.
Macron não adiantou pormenores sobre as medidas a serem adotadas, embora tenha esclarecido que não se trata de "declarar guerra" à Líbia, segundo referiu numa entrevista concedida aos canais públicos franceses "France 24" e "RFI", na embaixada francesa em Abidjan.
Depois da deposição do regime de Muammar Kadhafi, em 2011, os traficantes aproveitaram as deficiências na segurança e a completa impunidade na Líbia para aliciarem dezenas de milhares de pessoas para uma vida melhor, com a passagem para Itália, a 300 quilómetros da costa líbia.
Resolver problema em conjunto
A chefe do Governo da Alemanha, Angela Merkel, presente em Abidjan, também se referiu ao problema da escravatura e exploração dos refugiados. "Este tema gera muita polémica e emoção em todo o continente africano. Tanto África como a Europa estão, portanto, muito interessados em resolver em conjunto o problema da imigração ilegal", disse a chanceler.
Segundo Merkel, é preciso "dar às pessoas em África mais possibilidades legais de entrar na Europa, para estudar ou receber formação profissional".
Criado plano para desmantelar tráfico de imigrantes na Líbia
Günter Nooke, conselheiro da chanceler alemã para questões africanas, é de opinião que os problemas só poderão, de facto, ser resolvidos, se se conseguir criar um ambiente de confiança mútua e de cooperação de igual para igual entre os países europeus e os países africanos.
"Precisamos de uma certa seriedade e competência: quando os países africanos se comprometem a tomar certas medidas, nós temos de ter a certeza que essas medidas serão, de facto, postas em prática", defendeu Nooke. "Nenhum ministro do Interior em nenhum país europeu deixará entrar 100 mil jovens africanos se não tiver garantias de que eles - ou pelo menos a maioria deles - irão voltar aos seus países de origem".
Combater máfias
A Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia (UE) e a União Africana (UA) acordaram a criação de um grupo de trabalho com o objetivo de salvar vidas no Mediterrâneo e lutar contra as máfias da imigração ilegal, principalmente na Líbia.
O grupo foi acordado numa reunião entre os líderes políticos da UE, Jean-Claude Juncker, e da UA, Moussa Faki Mahamat, juntamente com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e a chefe da diplomacia comunitária, Federica Mogherini, e tem como objetivo combater o tráfico de pessoas.
"Salvar e proteger as vidas dos imigrantes e refugiados nas rotas de chegada a Europa, acelerar a assistência aos retornados voluntários aos seus países de origem e ajudar aqueles que necessitam de proteção internacional" são alguns dos objetivos, lê-se num comunicado conjunto divulgado em Abidjan, onde até esta quinta-feira (30.11) decorre a cimeira UE-UA.
Estas ações pretendem ampliar os trabalhos que já estão em curso nos países de origem e na Organização Internacional das Migrações (OIM), para além da UE. Os trabalhos serão revistos e coordenados pelas autoridades líbias, assim como pela UE, ONU e UA, que trabalham já em conjunto para o desmantelamento das redes de traficantes e para o desenvolvimento de oportunidades nos países de origem e em trânsito, explica o documento, que nota que já regressaram a casa, de forma voluntária, cerca de 13 mil migrantes.
Este grupo vai reunir-se frequentemente e colaborar "ao mais alto nível", nomeadamente à margem da Assembleia-Geral da ONU. Nesse grupo não será fácil para os 55 países africanos falar com uma só voz, afirma o encarregado do governo federal-alemão para os assuntos africanos, presente na cimeira. "Trata-se de 55 países diferentes, com interesses diferentes e níveis de desenvolvimento também diferentes. Não é fácil chegar a acordos que satisfaçam tosos os países", reconcheu Günter Nooke.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.