Segundo a presidência francesa, Emmanuel Macron ambiciona melhorar a imagem do país em África e modernizar as relações. A visita de três dias arrancou no Burkina Faso e continua na Costa do Marfim e no Gana.
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Na primeira etapa do seu périplo de três dias pelo continente africano, o Presidente francês chegou na noite passada (27.11) a Ouagadougou, capital do Burkina Faso. A viagem também levará Emmanuel Macron à Costa do Marfim e ao Gana.
As críticas à política externa de França em África são recorrentes: muitos observadores afirmam que a França tem pactuado demasiado com autocratas, ditadores ou déspotas africanos, sobretudo em países francófonos com os quais a antiga potência colonizadora mantem estreitas relações económicas, baseadas sobretudo na importação de matérias-primas, como o urânio ou o petróleo.
Macron em África para melhorar imagem da França
Emmanuel Macron quer mudar essa imagem, afirmando que as atenções do seu Governo serão agora viradas para outros setores. Macron já disse que quer prestar mais atenção aos interesses dos jovens e também da diáspora africana em França, que muitas vezes tem perspetivas diferentes, mas que raramente são ouvidos pelos governantes franceses.
Para o jornalista e escritor francês Antoine Glaser, a França já há muito tempo que leva a cabo uma "política esquizofrénica" em África. "A França tornou-se há muito tempo dependente de déspotas, sobretudo nos países francófonos. E percebe-se que Macron quer acabar com esse estado de coisas, quando afirma que quer dedicar mais atenção aos jovens e à diáspora africana em França", confirmou o jornalista em entrevista à DW África.
Nova política francesa?
O politólogo congolês Tuma Shanga Lokoho afirma que não basta anunciar mudanças. É preciso pô-las em prática, ou seja, não basta dizer que juventude é o futuro.
"Se a juventude africana é o futuro, então essa precisa de meios, para que possa ter formação e perspetivas de trabalho no próprio continente, para assim poder ajudar a construir uma África melhor", disse Lokoho, também ouvido também pela DW.
Segundo observadores, o Burkina Faso é um caso emblemático: os jovens representam um grande número da população e são muito motivados, entretanto, falta trabalho e as perspetivas são poucas. Muitos perdem a confiança no seu próprio país, e tentam emigrar, muitos deles ilegalmente para paises europeus, como a França.
Será que a dita "modernização" da política francesa em África vai mesmo avançar? E o que é que isso significa concretamente, questionam também os observadores.
Cimeira UE-UA
O Presidente francês vai também passar por Abidjan, na Costa do Marfim, para participar na Cimeira União Europeia-União Africana, sendo esta uma oportunidade de "colocar a relação franco-africana no contexto do seu projeto de refundação da Europa".
Dirigindo-se a outros chefes de Estado e de Governo, Macron destacará, em particular, a luta coordenada contra as redes de traficantes, uma discussão em que as autoridades líbias estarão associadas, e o apoio da França para a luta contra o terrorismo nos países do G5 Sahel.
Emmanuel Macron viajará posteriormente para o Gana. "A escolha para a visita a um país de língua inglesa permitirá ilustrar a nossa abordagem continental em África, um elo privilegiado com os países francófonos, mas também a ambição de estabelecer um elo com a África de língua inglesa", explicou em comunicado a Presidência francesa.
50 anos de União Africana
A Organização da Unidade Africana (OUA) nasceu há 50 anos. Em 2002, a União Africana seguiu-lhe os passos. Recordamos cinco décadas de unidade.
Foto: picture-alliance/AP
Uma mulher no poder
Em 2012, Nkosazana Dlamini-Zuma tornou-se a primeira mulher a presidir à Comissão da União Africana (UA). A ex-ministra do Interior da África do Sul trouxe uma nova dinâmica à UA, diziam observadores 100 dias depois de Dlamini-Zuma tomar posse. O grupo de 53 Estados celebra o 50º aniversário a 25 de maio de 2013.
Foto: picture-alliance/dpa
Unidade contra a divisão
Do grupo inicial da Organização da Unidade Africana (OUA) faziam parte todos os 30 países que já tinham conquistado a independência no continente. A união política tentava evitar uma África dividida. Isto porque os estados africanos se polarizavam a favor e contra o Ocidente, influenciados pelas grandes potências da Guerra Fria. Aqui uma fotografia de uma cimeira em 1966.
Foto: AFP/Getty Images
Precursores do pan-africanismo
Kwame Nkrumah (esq.), o primeiro Presidente do Gana, e o imperador etíope Haile Selassie (centro) são dois dos fundadores da OUA. O pan-africanista Nkrumah tinha em mente a criação de uns "Estados Unidos de África" para competir com as forças coloniais e desenvolver um mercado comum. Mas os estados recém-independentes não queriam ir tão longe.
Foto: STR/AFP/Getty Images
Inimigo comum
Um objetivo bastante importante nas primeiras décadas da OUA foi a luta contra o regime racista de 'apartheid' na África do Sul. Logo no ano em que foi criada, a organização criou um comité de libertação. A partir de 1970, a OUA apoiou também a luta armada contra o regime de 'apartheid'.
Foto: AP
Novo impulso para a economia
A OUA quis acelerar o desenvolvimento económico em África com o Plano de Ação de Lagos em 1980. O plano previa, entre outros pontos, a criação de um mercado comum até 2000. Mas, à semelhança de outros projetos da organização, o plano não passou do papel. Em 1991 seguiu-se o Tratado de Abuja, que prevê o estabelecimento de uma Comunidade Económica Africana até 2025.
Foto: DW/P. Hille
Decisão polémica
Apesar da sua política de não se imiscuir nos assuntos de delimitação de fronteiras, a OUA reconheceu em 1982 a "República Árabe Sarauí Democrática" (Saara Ocidental), reivindicada pelo movimento independentista Frente Polisário. Nessa altura, Marrocos saiu da organização. Até hoje, foi o único país que saiu da OUA por livre iniciativa.
Foto: picture-alliance/dpa
Críticas à OUA
O caso do Saara Ocidental continua a ser uma exceção à política de não interferência da OUA. Mas essa posição também levantou críticas. Observadores protestaram contra o chamado "clube dos ditadores" na cimeira anual em Addis Abeba. Um dos poucos críticos na organização foi Yoweri Museveni, que se tornou Presidente do Uganda em 1986.
Foto: OFF/AFP/Getty Images
Atuação em conflitos
No início dos anos 90, a OUA introduziu uma nova política: África queria assumir a responsabilidade pelos seus conflitos. Por isso, criou o chamado "Mecanismo de Paz". No golpe militar no Burundi em 1996, a organização respondeu com sanções. Porém, o "mecanismo" mostrou-se frequentemente incapaz de atuar. Inclusive no genocídio no Ruanda.
Foto: ALEXANDER JOE/AFP/Getty Images
Quem espera…
Grande motivo de contentamento foi a adesão da África do Sul à OUA em 1994, três décadas depois do nascimento da organização. Entretanto, o país desempenha um papel importante em Addis Abeba – para alguns, demasiado importante.
Foto: picture alliance/landov
Uma nova era
Com o fim da Guerra Fria e do 'apartheid' na África do Sul, a OUA tentou começar de novo a partir de 1999. Isso proporcionou ao líder líbio Mouammar Kadhafi (aqui numa cimeira em 2006) uma boa oportunidade para trazer, de novo, à luz do dia a ideia pan-africana dos "Estados Unidos de África". Para a alcançar, Kadhafi utilizou também a sua riqueza, pagando as dívidas de vários estados-membros.
Foto: picture alliance/dpa
OUA torna-se União Africana
Mas Kadhafi não conseguiu que as suas ideias fossem para a frente. O seu plano contribuiu apenas para dividir opiniões depois do lançamento oficial da União Africana em 2002 na cidade de Durban, na África do Sul. O tratado fundador da União Africana prevê, como princípio orientador, o abandono da política de não interferência.
Foto: ALEXANDER JOE/AFP/Getty Images
Instituição sem poder
Ao criar as suas estruturas, a UA usou como modelo a União Europeia (UE) e propôs um Parlamento pan-africano. O órgão foi inaugurado em 2004, sendo constituído por 235 representantes de 47 países. O Parlamento fica na pequena cidade de Midrand, na África do Sul. A distância relativamente à sede da União Africana em Addis Abeba simboliza o limitado poder de influência do Parlamento.
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Luta pela paz
No início do século XXI, conflitos violentos afetavam 20% dos africanos. O foco principal da UA foi, por isso, a paz. Em 2004, a organização criou um Conselho de Paz e Segurança, que está também autorizado a enviar tropas de intervenção. Nesse mesmo ano, a UA enviou soldados para a região sudanesa do Darfur para proteger a população civil. Os desafios continuam a ser muitos.