França apela Governo do Mali para acelerar processo de paz
António Rocha | AFP
19 de maio de 2017
Presidente francês Emmanuel Macron deslocou-se ao Mali, na sua primeira visita fora da Europa, para estar algumas horas com os militares da missão Barkhane, estacionados no norte daquele país da África ocidental.
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Em menos de uma semana após a sua entrada em funções, o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, efetuou a sua primeira deslocação oficial fora da Europa (19.05.), nomeadamente, à região de Gao, a principal cidade do norte do Mali.
Macron manifestou a determinação de Paris em prosseguir com o seu engajamento no Sahel, reforçando a coopperação com a Alemanha, mas também completando a ação militar com uma estratégia de desenvolvimento.
O chefe de Estado francês afirmou, durante a visita a uma base militar francesa , que falou com a chanceler alemã no início desta semana sobre a possibilidade de aquela instalação militar receber um reforço do apoio logístico da Alemanha, sugestão que a chanceler Angela Merkel terá aceite, segundo Macron.
Linguagem clara com os grupos terroristas
Sobre o dossier do norte do Mali, Etienne Fakaba Sissoko, ex-conselheiro económico do Presidente Ibrahim Boubacar Keita (IBK) e atual diretor do Centro de Pesquisa e Análise política, económica e social do Mali, afirma que o Presidente francês deve "ter uma linguagem clara em relação aos grupos armados que continuam a fazer do norte do Mali uma zona onde não existe nenhuma lei e uma região de tráfico de toda a espécie. No que concerne, sobretudo, a Kidal permitir ao exército maliano entrar naquela cidade. Existe um bloqueio sobre o acordo de paz já assinado e tudo indica que esses grupos armados são de certa maneira apoiados pela França”.
Recorde-se que o norte do Mali esteve sob controle durante alguns meses de 2012 de grupos jihadistas ligados à Al-Qaida, que foram mais tarde expulsos por militares da operação Serval, lançada em janeiro de 2013, por iniciativa da França, uma operação que foi retomada, em agosto de 2014, pela missão militar francesa Barkhane.
Esta missão mobiliza quatro mil soldados em cinco países (Mali, Burkina Faso, Mauritânia, Niger e Chade), dos quais 1700 estão estacionados em Gao e tem por tarefa combater os jihadistas no Sahel.
Atentados prosseguem apesar do acordo assinado em 2015
Entretanto, apesar de vastas regiões continuarem sob controle das forças malianas, francesas e da ONU (MINUSMA), regularmente são alvos de atentados mortíferos, apesar da assinatura em junho de 2015 de um acordo de paz, cujo objetivo é isolar definitivamente os jihadistas. Desde 2015, esses ataques estenderam-se ao centro e sul do país.
Mas, dois anos após este acordo, a comunidade internacional manifesta regularmente uma certa impaciência face aos atrasos acumulados na sua aplicação, nomeadamente, por parte do governo maliano.
Para Etienne Fakaba Sissoko, deve ser revista " toda a estratégia adotada pela Barkhan para atingir os objetivos preconizados e, principalmente, reconhecer que esta operação foi um fracasso, para além de serem revistos os pontos principais desta missão para que passos concretos sejam dados”.Fakaba Sissoko disse ainda que, também os malianos, esperam "que tenha sido uma ocasião para o chefe de estado maliano colocar novamente na mesa de negociações a questão da gestão das fronteiras porque, atualmente, todos os ataques que o Mali é vítima vem do facto de muitos países vizinhos continuarem a servir de base da retaguarda aos grupos terroristas”.
Macron quer ajuda da Alemanha para erradicar extremistas
Antes do início desta visita de E. Macron ao Mali, várias organizações humanitárias pediram a Paris para que renuncie a abordagem únicamente militar para solucionar as violências que fustigam o Mali.
Para a Federação Internacional das Ligas dos Direitos do Homem, a polítia francesa em África é "puramente militar”. Diagnóstico semelhante foi feito pela organização não-governamental Human Rights Watch que aconselhou o Presidente Macron a "exortar o seu homólogo do Mali a atacar frontalmente os problemas que há décadas conduziram o país à instabilidade, nomeadamente, uma fraca governação, uma corrupção endémica e os abusos cometidos pelas forças da ordem”.
Conservar os manuscritos de Tombuctu
A invasão islamita no norte do Mali pôs em risco de destruição milhares de documentos históricos. Estes foram salvos por Abdel Kader Haidara, feito pelo qual a Alemanha lhe outorgou o Prémio de África na edição de 2014.
Foto: DW/P. Breu
Tesouros históricos
Os manuscritos de Tombuctu são documentos históricos sem preço, que relatam a busca pelo conhecimento no mundo islâmico há muitos séculos. Tombuctu foi, em tempos, o centro islâmico da pesquisa e erudição em África.
Foto: DW/P. Breu
Contrabandeados em caixas de chumbo
Quando os islamitas começaram a destruir monumentos no norte do Mali em 2012, um grupo de cidadãos consternados transportou clandestinamente centenas de milhares de manuscritos de Tombuctu para a capital maliana, Bamako, no sul do país. Aqui foram depositados num edifício de residências, para aguardar a restauração e digitalização.
Foto: DW/P. Breu
O salvador dos manuscritos
Abdel Kader Haidara organizou a operação de resgate. O proprietário de uma biblioteca não só se preocupou em salvar os seus próprios manuscritos, mas também todos os documentos históricos de Tombuctu em risco de destruição.
Foto: DW/P. Breu
Nasce uma biblioteca digital
Os manuscritos estão agora a ser digitalizados na biblioteca de Bamako. Cada página é fotografada individualmente. A imagem é controlada e depois catalogada num arquivo central. O gigante da internet, Google, já manifestou interesse na coleção.
Foto: DW/P. Breu
Acesso geral aos manuscritos
A digitalização tem dois objetivos: preservar os manuscritos para a posteridade, caso os originais não resistam à humidade e ao calor de Bamako. E garantir o acesso a todos os interessados. Antes do conflito armado no norte e do resgate dos documentos não existia qualquer plano para os digitalizar.
Foto: DW/P. Breu
Caixas feitas à medida
Depois de serem digitalizados, os manuscritos são colocados em caixas de cartão isentas de ácidos. Aqui podem ser guardados para a posteridade. Uma vez que os manuscritos não têm todos o mesmo tamanho, as caixas tiveram que ser produzidas em trabalho manual.
Foto: DW/P. Breu
Uma biblioteca vazia
Na Biblioteca Comemorativa de Mamma Haidara, em Tombuctu, não há um único livro. E não é certo que a biblioteca volte a albergar documentos históricos no futuro. Muitos responsáveis acreditam que os documentos estão a salvo em Bamako. Mas também há quem receie pela identidade histórico-cultural de Tombuctu, caso os manuscritos não regressem a casa.
Foto: DW/P. Breu
Biblioteca em ruínas
O Instituto Ahmed Baba Institute foi criado com capitais da Fundação Aga Khan, África do Sul e Arábia Saudita. Para além de albergar a biblioteca, também tinha equipamento para a digitalização e restauração. Hoje, o instituto está vazio e dilapidado.
Foto: DW/P. Breu
Monumento aos manuscritos perdidos
Quando chegaram a Tombuctu, os islamitas deitaram fogo a muitos manuscritos no pátio do Instituto Ahmed Baba. Pretendiam assim demonstrar o seu poder ao ocidente e à UNESCO. Cerca de 4000 manuscritos foram destruídos. Os restos queimados servem hoje de memorial ao património perdido.
Foto: DW/P. Breu
Tombuctu vai cair na insignificância?
Quando Tombuctu perdeu a sua importância económica no século XX, descobriu o turismo como fonte de receitas alternativa. Mas o conflito de 2012 espantou os turistas, pelo que Tombuctu corre agora o perigo de perder também a sua relevância cultural, tanto mais que já não tem os manuscritos. E ninguém sabe se eles vão regressar.
Foto: DW/P. Breu
Sobram alguns manuscritos
Ainda existem algumas bibliotecas privadas. Mas em Timbuktu já é considerada uma biblioteca uma dúzia de páginas que cabem numa pele de carneiro. Este habitante de Timbuktu herdou alguns manuscritos do seu avô. É o que possui de mais valioso.
Foto: DW/P. Breu
Um futuro incerto
A situação política no Mali é tensa, e o exército maliano é demasiado fraco para garantir a estabilidade e segurança. Muitos habitantes de Tombuctu que fugiram da cidade optaram por não regressar. Eles não confiam na paz precária e a sua cidade enfrenta um futuro incerto.