Presidente eleito disse, este sábado (19.01), que vai estabelecer órgãos independentes para combater a corrupção no país e que "ninguém estará acima da lei". Líderes da oposição marcaram presença na cerimónia.
Publicidade
O Presidente eleito de Madagáscar, Andry Rajoelina, que liderou o país de 2009 a 2014 num governo de transição, após um golpe militar, afirmou ainda que, pela primeira vez, desde a independência do país, a transferência do poder foi feita de "forma pacífica e democrática".
Mais de dois terços dos 25 milhões de habitantes de Madagáscar vivem em extrema pobreza. Entre as promessas do novo Presidente Rajoelina está a reestruturação da economia com a criação de novos empregos.Sobre o combate à corrupção, Rajoelina reiterou que "ninguém vai estar acima da lei".
De acordo com a Constituição, Rajoelina jurou "executar com virtude" a sua função de Presidente da República de Madagáscar e usar os seus poderes "para garantir e fortalecer a unidade nacional e os direitos humanos".
"Esta é uma nova página que se abre na história da nação e esperamos que em cinco anos, a unidade nacional esteja fortalecida", disse o presidente do Tribunal, Jean Éric Rakotoarisoa, durante a cerimónia no estádio municipal Mahamasina.
Pela primeira vez na história do país, a tomada de posse do Presidente ocorreu na presença dos seus rivais eleitorais e dos anteriores chefes de Estado, entre os quais Didier Ratsiraka, Marc Ravalomanana e Hery Rajaonarimampianina.
"É histórico, é a ilustração de uma transferência democrática de poder, o respeito aos valores republicanos", disse o ex-Presidente Rajaonarimampianina à imprensa à saída do palácio presidencial.
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.