Madagáscar conta os votos das eleições presidenciais
AFP | EFE | tms | pr
8 de novembro de 2018
Na corrida presidencial estão três ex-chefes de Estado, entre os mais de 30 candidatos. Observadores eleitorais dizem que a votação foi pacífica, apesar de protestos violentos meses antes das eleições.
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10 milhões de eleitores foram chamados às urnas, esta quarta-feira (07.11) para eleger o próximo Presidente de Madagáscar. Mas, de acordo com a Comissão Eleitoral, só 44,5% compareceram.
36 candidatos concorrem à Presidência, incluindo três ex-Presidentes e dois ex-primeiros-ministros. Os votos deverão, no entanto, concentrar-se em três candidatos, considerados favoritos: o chefe de Estado cessante Hery Rajaonarimampianina e outros dois antigos governantes: Marc Ravalomanana, que foi deposto por um golpe de Estado apoiado pelos militares em 2009, e Andry Rajoelina, que sucedeu a Ravalomanana na Presidência até 2013.
Votação pacífica
Muitos eleitores foram votar logo às primeiras horas da manhã e houve registo de longas filas. "É bom que possamos expressar a nossa preferência, participar na vida do país, na esperança de que a nossa escolha seja a certa", afirmou um eleitor.
Madagáscar conta os votos das eleições presidenciais
Observadores internacionais asseguram que a votação desta quarta-feira decorreu de forma pacífica.
"O processo foi ordenado, não houve incidentes de violência. Esperamos que este clima continue após a votação. Esperamos que as instituições eleitorais entreguem os resultados e que estas eleições sejam uma oportunidade para consolidar os ganhos democráticos do povo malgaxe", disse o observador da União Europeia, Cristian Preda.
Em abril deste ano, pelo menos duas pessoas morreram em protestos contra um pacote de reformas eleitorais, aprovado pelo Parlamento, que impediria candidatos da oposição de concorrer às presidenciais. Em junho, o Tribunal Constitucional ordenou, porém, ao chefe de Estado que nomeasse um novo Executivo de consenso para organizar as eleições.
Se nenhum dos candidatos presidenciais conquistar mais de 50% dos votos dos eleitores, realizar-se-á uma segunda volta das eleições a 19 de dezembro. Os resultados provisórios deverão ser revelados até 20 de novembro; o Tribunal Constitucional terá depois uma semana para os confirmar.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.