Eleitores malgaxes são chamados às urnas na quarta-feira para eleger o novo Presidente de Madagáscar, um dos países mais pobres do mundo. Muitos perderam a confiança no sistema político. Na corrida estão 36 candidatos.
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Na reta final da campanha eleitoral para as presidenciais na quarta-feira (07.11), a DW África saiu às ruas da capital malgaxe, Antananarivo, para perguntar aos cidadãos o que pensam destas eleições. Muitos perderam a confiança no sistema político.
"Esta eleição é inútil", diz um morador de Antananarivo. "Já vi vários Presidentes que sucederam uns aos outros, todos eles fizeram grandes promessas, mas nenhum deles cumpriu. Estou desiludido. Por isso, não vou votar."
E há outros cidadãos que pensam o mesmo. "A situação de segurança é péssima e isso envenena o clima político e económico. A pobreza e a corrupção contribuem para sucessivas catástrofes", comenta outro eleitor.
O desencanto político é grande. E o país está num estado lastimável. Desde a independência da França, em 1960, Madagáscar não conseguiu libertar-se da pobreza extrema. Apesar de os últimos tempos terem sido relativamente pacíficos, sem registo de guerras civis, o Produto Interno Bruto (PIB) tem vindo continuamente a decrescer.
36 candidatos na corrida
São muito poucos os que acreditam que as eleições da próxima quarta-feira poderão trazer soluções para os gravíssimos problemas sociais do país. Ao mais alto cargo político do país concorrem 36 candidatos, incluindo vários ex-chefes de Estado e de Governo bem conhecidos do povo malgaxe.
Madagáscar escolhe novo Presidente
"Esta eleição é a eleição do século", considera Marcus Schneider, chefe do escritório da Fundação política alemã Friedrich Ebert em Madagáscar. "Pela primeira vez na história do país", destaca o especialista, "concorrem quatro ex-presidentes e três ex-primeiros-ministros."
O atual Presidente é Hery Rajaonarimampianina, considerado o candidato com mais hipóteses de vencer. Mas também se diz que o antigo chefe de Estado Andry Rajoelina também tem boas oportunidades de ganhar. Ambos os candidatos prometem crescimento económico e melhorias no campo social.
Outro candidato com algumas hipóteses é Marc Ravalomanana, ex-Presidente que foi deposto por Rajoelina em 2009, através de um golpe de Estado.
Uma das campanhas mais caras do mundo
Além de promessas, os candidatos têm acima de tudo dinheiro. A campanha eleitoral em Madagáscar é uma das mais caras do mundo. Os candidatos investem rios de dinheiro para tentar convencer o eleitorado.
Segundo um estudo encomendado pela União Europeia (UE), elaborado na sequência das últimas eleições de 2013, um voto em Madagáscar foi mais caro do que um voto nos Estados Unidos, em termos de custos em propaganda eleitoral.
As eleições de 2018 provavelmente não ficarão atrás, segundo observadores. No final, deverá ser o orçamento dos candidatos que decidirá o resultado destas presidenciais, de acordo com um estudo da Fundação Friedrich Ebert.
Se nenhum dos candidatos conseguir atingir a maioria absoluta, terá de realizar-se uma segunda volta a 19 de dezembro.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.