"Made in Etiópia", a nova moda da produção têxtil em África
Frederik Fleig | cvt
4 de junho de 2019
As etiquetas das roupas revelam onde foram realmente produzidas. A Etiópia já figura nos rótulos das grandes marcas e quer tornar-se centro da produção têxtil em África. Mas a que preço?
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A Etiópia pensa em grandes dimensões. Em 2025, mais de 30 gigantescos parques industriais devem abastecer o mundo com vestuário fabricado no país, criar 350 mil postos de trabalho e gerar cerca de 27 mil milhões de euros através da exportação.
Para Temesgen Tilahun, da Comissão de Investimentos da Etiópia, a mão-de-obra é um trunfo importante na concorrência com países asiáticos como Bangladesh, Vietname e China.
"A Etiópia é um país com mais de 110 milhões de habitantes. 60% a 70% dessas pessoas são muito jovens, em idade ativa, passíveis de serem treinadas e muito disponíveis. Temos de utilizar este potencial para transformar a Etiópia num centro de produção. Não exigimos salários altos, o que é um aspeto importante para os investidores considerarem investir na Etiópia", afirma.
Menor salário do mundo no setor
No Bangladesh, os trabalhadores ganham três vezes mais do que na Etiópia e na China até dez vezes mais. Em nenhum outro país esta indústria paga menos do que na Etiópia. De acordo com uma pesquisa recente da Universidade de Nova Iorque, muitas vezes são apenas 23 euros por mês.
Os baixos salários, combinados com benefícios fiscais, uma localização atraente e eletricidade barata, devem atrair empresas têxteis de todo o mundo para a Etiópia.
"Made in Etiópia", a nova moda da produção têxtil em África
Já estão a ser construídas fábricas por todo o país. A produção de vestuário está em pleno andamento. Empresas como H&M, Levi's, Primark, Calzedonia, Calvin Klein, Tommy Hilfiger, Tschibo, Aldi e Lidl já estão a produzir na Etiópia.
Para o Governo etíope, o Parque Industrial Hawassa, no sul do país, é um modelo para o futuro da produção têxtil: oferece condições de trabalho seguras, instalações modernas e ecologicamente corretas.
Aqui trabalham 23 mil pessoas. Uma delas, que prefere não se identificar, conta-nos a sua rotina. Quando tem um turno cedo, começa às quatro horas da manhã, seis dias por semana. Ganha cerca de 27 euros (900 Birr) por mês, além de almoço e transporte para o trabalho.
"O que recebemos não é suficiente, porque é desproporcional em relação ao trabalho que fazemos. Fico de pé durante 8 horas a costurar. Faço 600 t-shirts por dia. É mesmo muito trabalho, mas muito pouco dinheiro. Não é justo", descreve.
Preço alto para os trabalhadores
Os salários extremamente baixos levam a uma grande flutuação dos trabalhadores nos parques industriais. Os administradores relatam que cerca da metade da mão-de-obra demite-se no primeiro ano. De acordo com a pesquisa da Universidade de Nova Iorque, este número chega a quase 100%. As greves também são cada vez mais frequentes.
A nossa interlocutora vive num pequeno quarto partilhado, numa cabana nos arredores de Hawassa. "Vivemos aqui três e tentamos partilhar todos os custos possíveis. O aluguer, mas também as despesas com alimentos, entre outras coisas. Não se pode viver mais barato, mas o dinheiro muitas vezes não é suficiente para o mês inteiro. Sobreviver com o salário da fábrica é realmente muito difícil. Esperamos que algum dia o salário aumente", conclui.
Mas não é o que parece. As empresas estão a lucrar com os baixos salários e atribuem a responsabilidade ao Governo etíope. No entanto, o Governo tem dificuldade em introduzir um salário mínimo legal. Não há investidores para os muitos parques industriais planeados e também não quer afugentá-los.
Conheça a Matola, o maior parque industrial de Moçambique
Complexo nos arredores da capital Maputo concentra a maior parte das indústrias do país e é uma grande fonte de receitas. Mas muitas fábricas são criticadas por contribuírem para o agravamento dos níveis de poluição.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida das Indústrias
Nesta avenida, há indústrias que foram o sustentáculo da economia de Moçambique no tempo do socialismo. São empresas que acabaram falindo pelas circunstâncias do tempo, daí foi atribuída a esta via o nome de Avenida das Indústrias.
Foto: DW/R. da Silva
Parque industrial de Beluluane
A região de Beluluane é onde está o maior parque industrial de Moçambique. Esta zona abriga igualmente a maior indústria de processamento de alumínio, a multinacional Mozal. A empresa faz parte dos chamados "megaprojetos" em Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
A gigante do alumínio
Instalada em Beluluane, a Mozal é a maior indústria na Matola. A empresa de alumínio é responsável por parte significativa do total das exportações de Moçambique. Pela sua grandeza, a Mozal consome uma boa parte da energia elétrica gerada no país.
Foto: DW/R. da Silva
Impacto
Apesar de gerar muitas receitas, a Mozal e continua a ser duramente criticada por causa da poluição que causa ao meio ambiente. Apesar de estar longe de residências, o impacto das suas atividades faz-se sentir na vida da população.
Foto: Dw/R. da Silva
Nos trilhos
A Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) desempenha um papel de sacramental importância no transporte de carga diversa a partir e para o porto da Matola. Em passagens de nível, os guardas devem estar atentos para evitar qualquer tipo de acidente, pois os comboios – muitos longos – passam quase que com frequência.
Foto: DW/R. da Silva
Transporte de mercadorias
À saída do parque industrial de Beluluane, vimos este camião a transportar lingotes, produto final do alumínio, dirigindo-se para o porto de Maputo, de onde o produto será exportado. São muitos os camiões que saem e entram na zona industrial de Beluluane.
Foto: DW/R. da Silva
Abastecimento de gás
É neste local onde as botijas de gás são abastecidas para fornecer o produto à população não só da Matola bem como da capital Maputo e toda a zona sul. Aqui, o gás liquefeito é drenado para mais tarde fazer-se enchimentos para diversas empresas que fazem a distribuição. A imagem, como se pode ver, é obstruída pela nuvem de poeira que sai da vizinha empresa Cimentos de Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
Cimento e poluição
A Cimentos de Moçambique é outra das empresas poluidoras na zona da Matola. Como se pode ver na imagem, a vegetação perdeu a sua cor por causa da poeira causada pelo fabrico de cimento. Aliás, a população que vive nas redondezas, por diversas vezes, queixa-se de problemas pulmonares.
Foto: DW/R. da Silva
Terminal de combustíveis
Este é um dos terminais de combustíveis no parque industrial da Matola. O produto que sai deste local se destina às bombas de combustíveis espalhadas pelas cidades de Maputo, Matola, Boane e a província de Maputo. Como se pode ver, há nuvens de poeira que também tiram a nitidez da imagem, já que este terminal fica próximo da Cimentos de Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
Tráfego intenso
A Estrada Nacional número 4 (EN4) está a ser alargada devido ao intenso tráfego rodoviário, principalmente de camiões de carga, que muitas vezes atrasa vários serviços. Como se pode ver na imagem, são agora três faixas de rodagem que permitem que o tráfego rodoviário flua sem períodos de abrandamento.
Foto: DW/R. da Silva
Fábrica de sabões e óleos
Apesar de produzir o detergente mais procurado no mercado nacional, o "sabão bingo", esta empresa não deixa de ser uma das que polui o ambiente. Bem em frente à empresa, há uma pequena drenagem de águas que não têm destino.
Foto: DW/R. da Silva
Residentes convivem com a poluição
Algumas residências que estão nas zonas industriais foram proibidas de ser construídas por se tratar de zonas impróprias para o efeito. Mas por causa da falta de espaços ou por insistência, muitas pessoas acabaram fixando as suas residências perto das indústrias e estão a pagar caro por isso.
Foto: DW/R. da Silva
Limpeza industrial
A empresa Transporte e Serviços Gerais (TSG) tenta minimizar o impacto negativo da atividade industrial ao meio ambiente recolhendo resíduos industriais perigosos para destinos longe das pessoas. É uma empresa que presta serviços à Mozal e a outras que estão no parque industrial de Beluluane.